“Avó, fui bloqueado pelo presidente” - deve ter sido mais ou menos assim que Jordan Thompson, 18 anos, contou à avó, uma democrata politicamente ativa, que Donald Trump, o presidente dos EUA, lhe barrou o acesso às mensagens de 140 caracteres publicadas na conta @realDonaldTrump.

A notícia surgiu no Boston Globe a 9 deste mês, mas não é inédita. Jordan foi bloqueado pouco depois de ter criticado o presidente por “não ter condenado o esfaqueamento fatal de dois homens num comboio em Portland”, escreve o jornal norte-americano. São já cerca de quatro dezenas os utilizadores daquela rede social que dizem ter sido bloqueados pelo presidente norte-americano (ou pela equipa que gere a sua conta).

Já esta terça-feira (13 de junho), a página do VoteVets, um grupo progressista de veteranos militares norte-americanos, foi bloqueada por Donald Trump na rede social Twitter. Com o bloqueio, a associação ficou impedida de ver e interagir com as publicações que o presidente dos Estados Unidos faz na sua conta pessoal do Twitter.

Mas não foram os únicos. O escritor Stephen King, autor de, entre outros, o romance que deu origem ao filme The Shining, de Stanley Kubrick, foi também bloqueado pelo presidente dos Estados Unidos da América na rede social. E a reação do autor, que há muito critica a presença de Trump na Casa Branca, foi... uma das mais criativas.

“Trump bloqueou-me de ler os seus tweets. Talvez tenha de me matar”, começou por escrever Stephen King na sua conta do Twitter. “Mais alguém recebeu a notificação de que foi bloqueado dos tweets de Trump, ou isto é um boato? É que os tweets dele não são difíceis de encontrar!”, acrescentou o escritor.

Horas depois, mais um desabafo: “Bloqueado! Condenado a uma vastidão sem Trumpidão”.

Em defesa do autor americano veio uma escritora do outro lado do Atlântico. A britânica J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, que prometeu encaminhar as publicações do presidente para o autor de 69 anos.

O lado sério da questão, porém, vai mais longe que reencaminhar mensagens. É que na semana passada, Sean Spicer, o responsável pela imprensa do executivo de Trump, disse que os tweets do presidente devem ser lidos como comunicados oficiais. Se assim for, ao impedir determinados cidadãos de ter acesso a estas mensagens, Trump está a limitar o direito à informação destes norte-americanos, violando a Primeira Emenda.

A 6 de junho, advogados do Instituto Knight First Amendment, da Universidade de Columbia, enviaram uma carta à administração Trump a pedir o desbloqueamento destes utilizadores, sob pena de ter de enfrentar ações legais.

Para este instituto, que se dedica à defesa da liberdade de expressão, a conta pessoal do presidente norte-americano (que Trump já tinha antes de chegar à Casa Branca e continua a usar diariamente) é um “fórum público designado” e, como tal, está “sujeita à Primeira Emenda” à Constituição americana. “A Primeira Emenda impede o governo de excluir indivíduos de fóruns públicos designados por causa dos seus pontos de vista.”

Ao que parece, os utilizadores têm sido bloqueados depois de criticarem as políticas ou discordarem das mensagens que o presidente deixa na rede social. “Apesar de os arquitetos da Constituição [assinada em 1787] seguramente não terem contemplado as contas de Twitter presidenciais, eles entendiam que o presidente não pode ser autorizado a banir pontos de vista do discurso público simplesmente por os achar questionáveis. Tendo aberto este fórum público a todos, o presidente não pode excluir pessoas dele simplesmente porque não gostar do que dizem”, escreve Jameel Jaffer, o diretor executivo do Instituto Knight na carta enviada a Donald Trump.

Ainda assim, para muitos, escreve o Washington Post, ser bloqueado pelo presidente dos Estados Unidos é um sinal de que estão a ser ouvidos; é um sinal de sucesso. “Ser excluído no Twitter pelo líder do mundo livre é tão bizarro que, quando acontece, tende a existir um sentimento de espanto, misturado com indignação e incredulidade”. Para outros, acrescenta a mesma fonte, “tornou-se numa estranha medalha de honra, com os utilizadores bloqueados mais recentes a receberem as boas-vindas ao ‘clube’ pelos mais antigos”.

É difícil saber ao certo quantos utilizadores viram o acesso às mensagens de Donald Trump ser-lhes bloqueado, já que a lista de contas bloqueadas não é pública. O HuffPost fala, contudo, em cerca de 40 pessoas.