Dezenas de docentes concentraram-se durante toda a manhã junto à presidência do Conselho de Ministros, em Lisboa, para alertar para o envelhecimento da carreira docente, numa iniciativa promovida pela Federação Nacional de Professores (Fenprof).

No 2.º ciclo, por exemplo, os professores com menos de 30 anos passaram de 4.665 para apenas 320 em apenas 18 anos. Nesse mesmo período, os docentes com mais de 60 anos quase quadruplicaram.

As escolas portuguesas tinham, no ano passado, quase 13 mil professores com mais de 60 anos, lembrou o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira.

João Grilo era um deles. Desde que o irmão se reformou, “no mês passado, com 67 anos de idade”, passou a ser o professor mais velho do agrupamento de escolas da Nazaré, contou à Lusa.

Aos 65 anos, o professor de Educação Física continua a dar aulas no 2.º ciclo e faz parte da equipa de Desporto Escolar. Ensina surf, bodyboard e vela. À Lusa garantiu que as águas geladas e as ondas gigantes da Nazaré não o intimidam.

Mas João Grilo aponta outros problemas: Está “surdo de um ouvido, por causa do barulho dos pavilhões”, e cansado do trabalho burocrático.

“Sinto-me ultrapassado em relação aos meus colegas mais novos. Eles estão na aula a apontar tudo no tablet enquanto eu escrevo num caderno e, só em casa, é que passo para o computador”, contou.

Adora dar aulas e é viciado na adrenalina da competição que lhe oferece o Desporto Escolar. Mas, se pudesse, reformava-se. Não o faz porque teria “uma penalização de 450 euros”, segundo as contas do professor que chegou ao último escalão da carreira, fazendo parte do restrito grupo de 0,02% dos docentes.

O direito à pré-reforma, a aposentação antecipada sem penalizações e a possibilidade de se reformarem com 36 anos de serviço são as reivindicações dos professores de todo o país que hoje se manifestaram na capital.

António Silva, 61 anos, era um deles. Começou a dar aulas há 31 anos: “Na altura, havia alunos que, às vezes, se enganavam e me tratavam por pai. Agora já me tratam por avô. Veem-me como um professor-avô”, contou à Lusa, em tom animado.

António Silva trocou hoje a sua escola na povoação de Ferreiras, em Albufeira, para estar no protesto em Lisboa.

“Já não tenho a energia e a cabeça que tinha aos 30, 40 ou mesmo 50 anos”, admitiu António Silva, que não é caso único na sua escola. Em Ferreiras, a idade média é de 48 anos, mas “muitos têm mais de 60 anos”, lamentou.

Na Covilhã, na Escola Básica n. 2 do Teixoso, a idade média dos professores sobe para os 52 anos, contou à Lusa Fernanda Isabel. A educadora de infância tem 63 anos e passou os últimos 41 anos a ensinar crianças. Ainda está a trabalhar.

Três em cada quatro professores do pré-escolar (74%) tinham mais de 50 anos de idade em 2017, segundo dados do Ministério da Educação citados hoje por Mário Nogueira.

Maria Manuela Jorge tem 58 anos e 38 anos de serviço. A professora bibliotecária da Escola Básica e Secundária de Albufeira adora dar aulas. “Este ano estou a dar Educação Tecnológica a miúdos do 8.º ano”, disse, garantindo que é uma “disciplina fantástica”.

Maria Manuela Jorge não se quer reformar, mas gostava que existisse essa possibilidade sem as atuais penalizações. No seu caso, teria um corte de 72%, segundo contas da docente.

No seu agrupamento de escolas, composto por 158 professores, a média de idades é de 47 anos. Maria Manuela Jorge tem três colegas com mais de 65 anos e “estão todos a dar aulas”.

Dulce Pinheiro tem 60 anos e 39 anos de serviço. Se a professora do 1.º ciclo se reformasse agora “teria uma penalização de mais de 58%, ou seja, iria perder cerca de 1.700 euros”, contou à Lusa, depois de fazer umas “contas simples”: “Por cada mês de reforma antecipada tira-se 0,5%, depois há a penalização anual de 2,5% e ainda os 15% do fator de sustentabilidade”.

Aos 60 anos, Francisco Silva também continua a dar aulas na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha. O docente de História de Arte lembra que, quando entrou para a profissão, há 32 anos, as regras da aposentação eram outras e que, se ainda estivessem em vigor, “há muito que estaria reformado”.