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Newsletter diária • 16 abr 2020

 
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É o mistério profundo, é o queira ou não queira

 
 

Edição por Rute Sousa Vasco

Começar uma newsletter sobre o estado da nossa economia com um verso das "Águas de Março" de Tom Jobim, numa canção imortalizada por Elis Regina, só pode ser mesmo fruto de um tempo que em nada tem igual. Mas não deixa de ser acertado para definir o estado de espírito entre o mistério sobre o que irá acontecer (e quando e como) e a ideia de que, por ora, a realidade imediata impõe-se "queira ou não queira".

Vamos da poesia aos factos.

O ex-ministro das Finanças e economista Miguel Cadilhe defendeu que há empresas que necessitam que o Estado lhes suporte grande parte dos custos, e não de empréstimos que apenas as vão tornar mais endividadas.  “Muitas empresas precisam que o Estado lhes pague grande parte dos custos correntes permanentes (laborais e alguns fornecimentos e serviços externos) pelos meses de paragem forçada. Não que lhes aumentem o endividamento”, afirmou.

Na mesma entrevista, Miguel Cadilhe interroga-se ainda pelo facto de o ‘lay-off’ não estar a ser aplicado de igual modo aos trabalhadores do setor privado e do Estado. “Por que razão os trabalhadores do Estado estão a ser mais bem tratados do que os trabalhadores privados?”, pergunta, lembrando que os funcionários do setor privado estão a perder parte do salário em ‘lay-off’ para manter os empregos e no Estado também há milhares de funcionários parados, mas sem a respetiva perda de salário.

É uma amostra das várias frentes em que a crise económica se desdobra numa altura em que o  ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, estima que venham a estar em lay-off um milhão de trabalhadores. "Isso é bom", afirmou em entrevista à RTP, "porque a alternativa era termos 500 mil no desemprego", justificou. Segundo Siza Vieira será precisamente o mecanismo de lay-off a "salvar" Portugal dos números de desemprego avançados pelo FMI e que apontam para 380 mil desempregados em função da pandemia.

Segundo números avançados pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, o número de trabalhadores abrangidos pela medida de ‘lay-off’ simplificado abrange atualmente já mais de 930 mil trabalhadores. Por dimensão, 96% das empresas que solicitaram o regime do 'lay-off' simplificado têm até 50 trabalhadores e 79% das empresas têm até 10 trabalhadores. Uma maioria de pequenas e médias empresas.

 
 

Enquanto isso, no FMI

 
 

Da discussão interna ao que ouvimos fora de portas, nomeadamente nos locais por onde passa, em grande medida, o destino dos apoios que serão dados às empresas e às famílias.

Países devem gastar "tanto quanto puderem" mas "guardar recibo". Foi o que disse, literalmente, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.

“O que vimos foram os bancos centrais a providenciar liquidez ampla. Oito biliões de dólares [cerca de 7,3 biliões de euros] de medidas orçamentais. Portanto, a nossa mensagem é: gastem tanto quanto puderem, mas guardem os recibos. Não queremos que a contabilidade e a transparência sejam relegadas nesta crise”, disse Kristalina Georgieva numa teleconferência de imprensa do FMI sobre as Perspetivas Económicas Mundiais.

A diretora-geral do FMI pediu para se assegurar que “os apoios para as famílias e empresas existam durante estes meses de economia parada”, sendo medidas como transferências de dinheiro, apoios aos crédito ou mudança de condições do serviço da dívida “todas importantes para assegurar que o sistema financeiro continua a funcionar”.

Para já, o que os números mostram é que vai ser preciso conferir muitos recibos, uma vez que mais de metade dos 189 países-membros do FMI já pediram ajuda financeira à instituição devido à pandemia de covid-19. E a instituição diz que está preparada para usar a totalidade da reserva de emergência de um bilião de dólares (916 mil milhões de euros) disponibilizada para esta situação de crise, por forma a dar resposta a todos.

 
 

Empresas e Emprego

 
 

1. Dinheiro para apoiar países deve estar disponível até início do verão, diz Mário Centeno

2. Banco central da China decide corte recorde na taxa de juro para empréstimos

3. África enfrenta "crise sem precedentes", assinala responsável do departamento africano do FMI

4. Pesca com crédito até 120 mil euros por beneficiário

5. Setor automóvel com quebras de 80% exige plano específico de apoio

6. Número de desempregados inscritos sobe 10% até meados de abril

7. Sindicato da hotelaria denuncia despedimentos e falta de salários de março

8. Apoio a trabalhadores independentes é proporcional à quebra de faturação

9. Rui Rio lamenta que Assembleia não tenha agendado diploma do PSD de apoio a gerentes de PME

10. Presidente da Confederação do Turismo "muito preocupado" com o próximo verão

11. Comércio deve reabrir em maio mas com material de proteção e transportes

12. Imprensa regional enfrenta dificuldades, 30 publicações já não imprimem

 
 

É útil saber

 
 

A Comissão Europeia recomenda aos Estados-membros que respeitem três critérios prévios para começarem a levantar as restrições impostas no quadro ao combate à covid-19, reiterando o apelo a uma ação coordenada entre os 27. Pode ler aqui quais as recomendações.

Comer e limpar a casa. As prioridades dos portugueses ao fazer compras em tempo de restrições. O consumo caiu, mas comércio online cresceu. Os dados são do barómetro Nielsen.