Numa nota distribuída à comunicação social, o CDD, que cita um despacho assinado pelo autarca de Mocímboa da Praia, Cheia Carlos Momba, refere que o conselho municipal deu um prazo de 10 dias para que todos os funcionários regressem ao município, sob pena de sofrerem medidas administrativas.

"Esta não é a primeira vez que as autoridades locais dos distritos afetados pelo extremismo violento no norte de Cabo Delgado convocam funcionários para se apresentarem às respetivas instituições, sob pena de serem sancionados", acrescenta-se na nota do CDD.

A organização não-governamental entende que a vila não dispõe ainda de condições de segurança para o regresso das comunidades, lembrando a ocorrência de ataques recentes confirmados pelas autoridades que ocorrem em distritos próximos, como Nangade e Macomia, que ficam a 143 quilómetros e 131 quilómetros da sede de Mocímboa da Praia, respetivamente.

O CDD critica ainda o regresso de cerca de 1.500 pessoas às suas casas na localidade de Auasse, também na vila da Mocímboa da Praia.

A Lusa tentou, sem sucesso, contactar o autarca.

Mocímboa da Praia está situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural, em Afungi, Palma, conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.

Após mais de um ano nas "mãos" de rebeldes, Mocímboa da Praia, uma das poucas zonas urbanas do norte da província de Cabo Delgado, foi saqueada e quase todas as infraestruturas públicas e privadas foram destruídas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais.

No total, cerca de 62 mil pessoas, quase a totalidade da população, abandonaram a vila costeira devido ao conflito nos últimos quatro anos, com destaque para as fugas em massa que ocorreram após a intensificação das ações rebeldes em junho de 2020.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.

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