"É urgente tomar medidas, medidas duráveis para que possamos resolver definitivamente a questão dos transportes a nível do país", afirmou José Maria Neves, numa conferência de imprensa a partir do Palácio Presidencial, na Praia, para assinalar o primeiro ano do seu mandato como chefe de Estado.

José Maria Neves foi questionado pelos jornalistas depois de no final de outubro ter falhado a anunciada visita à ilha Brava devido à avaria do navio que assegura as ligações pela concessionária dos transportes marítimos, a Cabo Verde Interilhas (CVI), que tem sido alvo de críticas sobre o serviço prestado nas últimas semanas.

"Demonstra a precariedade dos serviços de transportes existentes neste momento. Está a prejudicar seriamente a competitividade da nossa economia. O facto de não ter podido ir à Brava é um sintoma do ineficiente funcionamento do sistema de transportes do país", disse José Maria Neves, também antigo primeiro-ministro.

"E insisto numa ideia: é preciso sermos inteligentes nos processos de privatização e é preciso cuidar melhor de todo o sistema de regulação, sobretudo em áreas sensíveis para o desenvolvimento do país, porque qualquer desatenção em relação a essas matérias pode levar à regressão e trazer consequências nefastas para o país", acrescentou o chefe de Estado, que visitou praticamente todas as ilhas do arquipélago no primeiro ano de mandato.

A Cabo Verde Interilhas, detida em 51% pela Transinsular, do grupo português ETE, assume desde agosto de 2019 a concessão do serviço público de transportes marítimos de passageiros e carga, por 20 anos, mas tem enfrentado várias avarias em navios e críticas por parte de passageiros, apesar de já ter transportado mais de 1,5 milhão de pessoas nos primeiros três anos de operação.

O ministro do Mar pediu este mês "juízo" à Cabo Verde Interilhas, face às alterações "unilaterais" nos transportes marítimos, prevendo até final de novembro concluir a revisão em curso do contrato de concessão.

"O Governo tem sido a pessoa crescida na sala, o adulto na sala (...) Nós estamos a comportar-nos com o devido sentido de Estado, garantindo que o Estado não rompa por birra o contrato de concessão. Nós queremos que o serviço funcione, mas quando apenas um dos membros faz esse esforço, claramente alguém está a fazer com que esse trabalho não tenha sucesso", afirmou o ministro do Mar, Abraão Vicente.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) cabo-verdiana proclamou José Maria Neves vencedor das sétimas eleições presidenciais de Cabo Verde, realizadas em 17 de outubro de 2021, logo à primeira volta e entre sete candidatos, com 95.974 votos, equivalente a 51,7%, à frente do também antigo primeiro-ministro Carlos Veiga, com 78.612 votos (42,4%).

José Maria Neves nasceu em Santa Catarina, ilha de Santiago, em 28 de março de 1960 (62 anos), autarquia pela qual foi eleito presidente da Câmara em março de 2000, e foi empossado em 11 de novembro de 2021 como quinto Presidente da República de Cabo Verde.

Antes foi deputado à Assembleia Nacional, de 1996 a 2000, pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), que passou a liderar em 2000. Venceu as eleições legislativas no ano seguinte, fazendo o PAICV regressar ao poder em Cabo Verde, uma década depois, assumindo o cargo de primeiro-ministro até 2016.

Com formação em Administração Pública, assumiu depois as funções de professor na Universidade de Cabo Verde e criou a Fundação José Maria Neves para a Governança, instituição dedicada à promoção das liberdades, à consolidação da democracia e do estado de direito, à boa governação, à efetividade das políticas públicas e ao desenvolvimento sustentável dos pequenos estados insulares.

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