O BPI tinha até 10 de Abril para diminuir a sua exposição a Angola, que se materializa na posição maioritária que tem no BFA, em associação com Isabel dos Santos. Para que isso fosse possível, o acordo não poderia passar apenas por Angola, claro, porque Isabel dos Santos é a segunda maior acionista do BPI, com cerca de 20% do capital, a seguir ao CaixaBank, com 44%. E, sem acordo, sem solução, os rácios de capital do BPI vêm por aí abaixo.

Ainda não se sabe tudo das negociações falhadas no BPI. Já é certo, ainda assim, que Isabel dos Santos voltou a pôr em cima da mesa das negociações condições que já teriam sido ultrapassadas. E condições que, para a administração do BPI e, claro, do próprio CaixaBank, eram inaceitáveis. Sabe-se, isso sim, que o Banco de Portugal ainda não deu o "ok" à administração do BIC, um outro banco em Portugal controlado pela empresária angolana. Se a justificação é esta, Isabel dos Santos faz mal, e põe-se numa posição de pressão que a deixa do lado errado das negociações. Legitima, até, intervenções na secretaria, do Governo, do Banco de Portugal, do BCE.

Sai mal, mas não sai mal sozinha. O primeiro-ministro convidou-a a entrar no Millennium bcp depois de sair do BPI, coisa que, pelos vistos, não articulou com o regulador que, agora, não lhe concede o regime de idoneidade necessário. Portanto, alguém se esqueceu de avisar António Costa e, já agora, Marcelo Rebelo de Sousa. Que, pela primeira vez desde que foi eleito, respondeu "à Cavaco". Marcelo vai defender os interesses nacionais. Notícia seria o contrário, não era?

Agora, o problema já não é o passado, é o futuro. O CaixaBank lançou uma OPA – outra – sobre o BPI, o governo legislou sobre o fim dos limites aos direitos de voto nas empresas cotadas, coisa que existe no BPI e dá poderes "reforçados" a Isabel dos Santos, o BCE poderá anunciar outras medidas para pressionar a empresária angolana. No limite, Isabel dos Santos é "corrida" do BPI à força.

E depois? O problema mantém-se, isto é, o BPI continuará a ter uma participação maioritária num banco angolano e vai continuar a não cumprir as imposições do BCE e os limites aos grandes riscos. E qualquer decisão do BPI em Angola depende, claro, das autoridades angolanas, do Banco Nacional de Angola. Como se sai daqui sem um acordo? Das duas, uma: o BCE revê a sua avaliação da exposição do BPI a Angola e dispensa o banco de vender a sua posição no BFA porque, agora, passa a ser uma extensão do CaixaBank; ou impõe uma medida extrema, uma medida de resolução que separa a operação do BPI em Portugal da operação angolana.

Qualquer que seja o caminho, a presença do BPI em Angola mudará para sempre. O "novo" BPI não será o mesmo, será outro. Durante anos, o BFA foi uma fonte de lucros, chegou a ser a única. Já em 2015 o BPI lucrou 90 milhões de euros só da atividade doméstica. Mas sem a operação africana, o BPI tem de encontrar outro caminho, agora sob o domínio do Caixabank. Até lá, é sobreviver no meio de uma guerra acionista, gerir o banco com o mesmo cuidado com que foi gerido nos últimos anos, sem o risco que se viu, por exemplo, no BES ou no BCP ou até no Banif. Mesmo tendo em conta as perdas com a dívida grega, o BPI tem um balanço saudável no quadro do sistema português. Ulrich seguiu no BPI uma estratégia de avaliação de risco que só tem paralelo no Santander.

A rutura das negociações no BPI, essa, tem impactos muito para além do próprio banco. Terá, por exemplo, no BCP, banco no qual a Sonangol tem 20% do capital e de que é o maior acionista. Dificultará a venda do Novo Banco e vai expor ainda mais a situação do sistema financeiro português no quadro europeu e internacional. Por último, mas não menos importante, vai ser uma fonte de choques entre Portugal e Angola, de consequências ainda imprevisíveis.

AS ESCOLHAS

Depois de Angola, o Brasil. O processo de impeachment de Dilma Roussef no congresso foi aprovado e vai agora para o Senado, como pode ler aqui. É, para o futuro do país, um caminho cheio de riscos, para a própria Democracia. Dilma deveria pedir a demissão, sim, é parte do problema e não da solução, já terá até contra si muitos dos milhões de brasileiros que a apoiaram e levaram à presidência. Mas, não dando esse passo, a linha que separa a legitimidade política do golpe político é ténue. Sobretudo quando o regime político brasileiro, tão dividido, não dá sinais de conseguir encontrar saídas para esta possível destituição.