Bolsonaro já baixou os braços, mas muitos dos seus apoiantes não

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Quase 48 horas depois de se saber derrotado nas eleições presidenciais brasileiras, Jair Bolsonaro finalmente pronunciou-se perante o país: esta terça-feira, autorizou a transição no governo sem admitir a sua derrota para Lula.

Entretanto, nesse espaço de tempo, o Brasil foi tomado um pouco por todo o seu território por apoiantes de Bolsonaro inconformados com os resultados das eleições que bloquearam estradas em ações de protesto.

O número de bloqueios caiu após este pronunciamento de Bolsonaro, no qual prometeu "cumprir a Constituição". Se na terça-feira, havia 271 bloqueios, na manhã desta quarta-feira esse número já tinha passado para 167 bloqueios em 17 estados. Já ao meio-dia, a Polícia Rodoviária Federal atualizou o seu balanço para 150 em 15 estados. A PRF também informou que, até esta quarta, dispersou 631 manifestações.

Tal descida, contudo, nem por isso significa que o Brasil caminhe para uma fase de apaziguamento — até porque o ainda presidente transmitiu uma mensagem ambígua sobre os bloqueios. 

Bolsonaro pediu que as manifestações fossem pacíficas e que os seus seguidores não utilizassem "os mesmos métodos da esquerda", prejudicando "o direito de ir e vir" das pessoas nas rodovias. No entanto, o presidente justificou estas ações, alegando que originaram-se de um sentimento de "injustiça" em relação ao processo eleitoral. 

Nas redes sociais, grupos bolsonaristas interpretaram a mensagem de Bolsonaro como um impulso para manter as mobilizações. "O sonho continua vivo", dizia uma mensagem no Telegram, ecoando as palavras do presidente no dia anterior. 

Talvez isso explique porque é que hoje milhares de bolsonaristas reuniram-se em frente a quartéis para pedir uma intervenção militar após a vitória de Lula da Silva nas urnas.

Aos gritos de "Eu autorizo" e "Intervenção federal já!", um grupo composto por vários milhares concentrou-se em frente ao Comando Militar do Sudeste, na cidade de São Paulo. Entretanto, outros protestos ocorreram também em Brasília, com milhares de manifestantes em frente ao quartel-general do Exército. "Resistência civil", gritavam os bolsonaristas. No centro do Rio de Janeiro, manifestantes gritaram à chuva "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão", segundo vídeos divulgados pela imprensa brasileira. 

Neste contexto, a polícia recorreu à força nesta quarta-feira, com o aval de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenando o uso de "todas as medidas necessárias" para desbloquear as vias. 

Em São Paulo, a tropa de choque da Polícia Militar dispersou com bombas de gás lacrimogéneo dezenas de manifestantes e camiões que dificultavam a circulação na principal rodovia que liga o estado ao Centro-Oeste do país.

Não obstante as decisões — até de governantes pró-Bolsonaro — em tentar retomar alguma normalidade ao país, o nível de polarização gerado pode impedir que isso tão cedo aconteça.

A marcar o dia esteve também o incidente de um atropelamento no estado de São Paulo devido a um carro que avançou sobre uma multidão de apoiantes bolsonaristas; já em Santa Catarina, um vídeo demonstra um grupo de apoiantes do ex-presidente brasileiro a fazer a saudação Nazi enquanto toca o hino nacional do Brasil.

*com agências

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