A guerra, o apoio à guerra, à paz e a "hipocrisia"
A relação dos partidos com a guerra pode custar-lhes mais ou menos deputados nestes legislativas. E o PCP tem sido apontado como o caso mais paradigmático desta postura. Ainda no aniversário da invasão da Ucrânia Paulo Raimundo considerou ser "um dia triste" para a paz, mas "um dia bom para a hipocrisia", deixando um apelo às negociações para o fim do conflito. Ora os eleitores têm reclamado por uma tomada de posição que defenda uma das partes e condene a outra, acrescentando que apelar à paz sem ajudar a Ucrânia é o mesmo que apelar à subjugação de um povo.
Numa altura em que os países da União Europeia têm sido consensuais no apoio à Ucrânia com armamento, formação e munições. E que Macron disse mesmo publicamente estar em cima da mesa a entrada de tropas da NATO na guerra.
A Comissão Europeia apresentou uma estratégia industrial europeia de defesa, para criar uma “economia de guerra” na UE, com um programa para investimento no setor que deverá requerer 100 mil milhões de euros, segundo as contas do comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton.
Em causa está a proposta sobre a Estratégia Industrial de Defesa Europeia para responder às lacunas de investimento no setor com instrumentos europeus e contratos públicos conjuntos e, assim, reforçar a capacidade e apoiar a Ucrânia devido à invasão russa.
Hoje, Raimundo criticou esta proposta questionando : “Qual foi o cálculo que a UE fez para decidir que os nossos compromissos têm de ser na ordem dos 40%? Nós podemos ter necessidades de 60% ou de apenas 20%... É alguém que está lá e, na sua folha de Excel, decide quanto é que sai de saúde, quanto é que se deixa de gastar na habitação, quanto é que se deixa de pagar em salários para gastar em armamento?" Para depois afirmar: "É um caminho que não acompanhamos”.
De acordo com a proposta apresentada na terça-feira sobre a estratégia para a indústria da defesa na UE, o executivo de Ursula von der Leyen quer que os 27 países do bloco comunitário se comprometam com a aquisição conjunta de pelo menos 40% de todos os equipamentos militares para reforçar a defesa europeia nos próximos seis anos.
Em simultâneo, a Comissão Europeia quer que até 2030 o valor do comércio intraeuropeu em defesa seja de pelo menos 35% o mercado da defesa na UE.
Em conferência de imprensa de apresentação desta estratégia, a vice-presidente executiva da Comissão Margrethe Vestager recordou que “não muito longe daqui os ucranianos estão a lutar pela liberdade e pelos valores europeus”.
“Nos últimos dois anos enfrentámos uma situação de uma indústria de defesa incapaz de produzir com a celeridade necessária”, completou.
Em declarações aos jornalistas à margem de uma iniciativa de campanha da CDU na Baixa da Banheira, no distrito de Setúbal, o líder comunista fez ainda uma analogia com a operação de capitalização da TAP para denunciar a falta de soberania de Portugal em função dos compromissos europeus.
“Estamos recordados da UE que permitiu ao Estado português, com o dinheiro de todos nós, injetasse três mil milhões de euros na TAP, desde que, após a limpeza da TAP, ela fosse privatizada. Onde quero chegar com isto? Estamos numa situação em que o estado não tem qualquer soberania para decidir o seu caminho, ora, isto não é possível. Não há nenhum Estado que se desenvolva sem soberania das suas decisões”, frisou.
No extremo oposto, Ventura discorda de Raimundo. E quando questionado sobre este apoio disse apenas: “Concordamos. […] Eu já disse uma vez, com o risco que isto tem de não ser popular, os europeus têm de compreender de uma vez por todas que têm de começar a investir em defesa”.
“Eu estou completamente de acordo que os Estados-membros têm de começar a preparar a defesa europeia e, nos últimos 40 anos, 50, na verdade, nos últimos 80 anos, nós não temos tido defesa europeia”, considerou.
Fugindo habilmente às declarações onde Trump encorajou Putin a a fazer o que entendesse com os países com menores contribuições para a NATO - sendo Portugal um deles -, para de seguida garantir: “Não, não vou proteger-vos mais. Aliás, vou encorajá-los a fazerem o que quiserem convosco. Vocês têm de pagar as dívidas que têm”, Ventura preferiu pôr a tónica na Defesa enquanto área fundamental.
“Durante anos habituámo-nos a viver debaixo de um chapéu norte-americano na NATO, estamos a ver agora que nós só podemos confiar em nós. A guerra chegou às nossas portas na Ucrânia, não sabemos se não pode chegar noutras zonas da Europa, temos que investir em defesa”, defendeu.
André Ventura considerou que “Portugal, nos últimos anos, tem feito um enorme desinvestimento nas Forças Armadas” e salientou a necessidade de “ter Forças Armadas decentes”.
O líder do Chega defendeu que “a Defesa vai ser fundamental” e garantiu que, se o Chega for governo, “vai haver um investimento muito forte em Forças Armadas”.
Questionado também sobre as eleições norte-americanas e os efeitos para a Europa, o presidente do Chega disse que será uma decisão a tomar pelos americanos em novembro.
“O que eu preferia para a Europa não era nenhum dos dois [entre Joe Biden e Donald Trump], não me vou meter em eleições que não são minhas e eu não estou lá no país para as disputar”, respondeu.
Resta saber o que os eleitores nacionais preferem no domingo para o país em eleições que são suas depois de duas semanas a ouvirem quem as andou a disputar.
*Com Lusa