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Há 40 anos que Zeca Pagodinho canta as alegrias, as dores e o humor do povo brasileiro. Entre risos, histórias e acompanhado do sotaque carioca inconfundível, o cantor falou ontem em Lisboa sobre os 40 anos de carreira que o trazem de volta a Portugal.

"Eu nunca pensei que o samba iria ser o meu caminho de vida. Nunca me preparei, e aconteceu", começa por revelar, durante a conferência de imprensa que antecipa os dois concertos marcados para dia 6 e 8 de novembro, em Lisboa e no Porto.

Zeca Pagodinho começou a dar os primeiros passos nas rodas de samba dos subúrbios do Rio de Janeiro, em especial na mítica roda do Cacique de Ramos. Desde cedo se destacou entre os sambistas da sua geração e das anteriores, até ser descoberto pela cantora Beth Carvalho, que o levou para o grande público na década de 1980.

O sucesso não tardou a chegar. Em poucos anos, Zeca Pagodinho somou vários prémios, entre eles quatro Grammy Latinos. Com 24 álbuns lançados e mais de 12 milhões de cópias vendidas, o artista conquistou o público pelo seu carisma e irreverência, sendo amplamente reconhecido pela crítica como um dos maiores nomes do samba brasileiro.

Ainda assim, considera-se "um cara normal".

"Eu vivo a vida normalmente, principalmente quando estou em Xerém. Lá não tem Zeca Pagodinho", confessa.

Xerém, situado no município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, foi o sítio escolhido pelo cantor para encontrar normalidade. É lá que tem um "sítio" — uma quinta — que descreve como um refúgio de paz, com animais e natureza.

Para retribuir a tranquilidade que Xerém lhe traz, o músico criou um projeto social no mesmo bairro que oferece aulas de música, cinema, moda e atendimento médico à população. Além disso, cedeu um terreno para uma horta comunitária, onde se produzem alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social.

Questionado pelo 24notícias sobre o papel social e cultural do samba, Zeca Pagodinho afirma que o género não é nada mais do que um retrato da vida.

"É como diz o Sombrinha, o sambista é quase um repórter. Tudo o que ele vive, tudo o que ele vê, ele transforma no samba".

O samba, descendente das comunidades afro-brasileiras urbanas do Rio de Janeiro no início do século XX, é também um lugar de paz para os que o consomem quase religiosamente. São muitos os que encontram mensagens de esperança e força nas letras de Zeca Pagodinho, como "Ogum" e "Minha Fé".

Em declarações aos jornalistas, o cantor admite que as suas músicas lhe trazem a mesma paz no palco, mas não em casa.

"Na minha casa, não se ouve Zeca Pagodinho. Só quando eu não estou".

"Deixa A Vida Me Levar"

De todas as músicas que compôs em 40 anos de carreira, é difícil encontrar uma que seja mais icónica que o hit de 2002, "Deixa a Vida Me Levar". O próprio Zeca Pagodinho confessa que esse seria o tema que escolheria mostrar a qualquer pessoa que quisesse conhecer o Brasil através da sua discografia.

Na prática, o músico que diz que não há grande segredo para deixar que a vida o leve.

"Não é bem assim. Não podemos ficar muito preocupados, mas tem coisas na vida que preocupam: os filhos, os netos, o trabalho. Depois disso tudo, deixo a vida me levar".

Tal como este, "Camarão Que Dorme A Onda Leva" é um dos clássicos que não vai faltar no dia 6 de novembro, no Sagres Campo Pequeno, e na Super Bock Arena, no Porto, dois dias depois.

Zeca Pagodinho regressa para celebrar as quatro décadas de carreira, mas a ligação com o país já é antiga. Em Lisboa, chama casa ao Pinóquio, restaurante situado nos Restauradores há mais de 30 anos. Mas não fica por aí.

"Quando venho a Portugal nunca tenho muito tempo pra passear, porque venho sempre fazer shows. Mas, já andei por aí um pouco. Já fui à Bairrada, a Fátima, ao Castelo de S. Jorge", conta.

Com o humor que o caracteriza e uma serenidade que parece vir do próprio samba, Zeca Pagodinho vem mostrar que, depois de 40 anos de palcos, continua fiel ao mesmo lema que o tornou imortal — viver com leveza e cantar o que sente.

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