A humanidade está a esgotar os recursos hídricos do planeta e milhares de milhões de pessoas estão em risco perante uma iminente crise hídrica mundial.

No Dia Mundial da Água, o secretário-geral da ONU, António Guterres, deixou algumas notas que fazem repensar a forma como usamos o que todos os dias sai das torneiras para bebermos, cozinharmos e utilizarmos na higiene pessoal.

Estes são alguns dos dados indicados na abertura da Conferência da Água 2023:

  • quase três em cada quatro desastres naturais estão ligados à água;
  • uma em cada quatro pessoas vive sem serviços de água geridos com segurança ou sem água potável;
  • mais de 1,7 mil milhões de pessoas carecem de saneamento básico;
  • 500 milhões de pessoas defecam a céu aberto;
  • três milhões de mulheres e meninas gastam horas todos os dias à procura de água.

Face aos números, fica o alerta: "A água está em apuros. Estamos a drenar o sangue vital da humanidade através do consumo excessivo vampírico e uso insustentável, e evaporando-o através do aquecimento global. Quebramos o ciclo da água, destruímos ecossistemas e contaminamos as águas subterrâneas", frisou o secretário-geral das Nações Unidas.

Então, o que fazer? Segundo Guterres, há quatro áreas em que é preciso trabalhar para acelerar os resultados em relação à gestão hídrica:

  • Os governos devem desenvolver e implementar planos que garantam o acesso equitativo à água para todos os cidadãos, mas de forma a que o precioso recurso seja preservado;
  • É necessário um investimento em massa em sistemas de água e saneamento e apelou para que as instituições financeiras internacionais desenvolvam "formas criativas" de estender o financiamento e acelerar a redistribuição dos Direitos Especiais de Saque, e para que os bancos multilaterais de desenvolvimento continuem a expandir os seus portfólios em água e saneamento para apoiar os países com mais necessidades;
  • Faz falta o investimento em tubagens resistentes a desastres, nas infraestruturas de distribuição de água e estações de tratamento de águas residuais. "Não podemos administrar esta emergência do século XXI com infraestruturas de outra época. (...) E isso significa explorar novas parcerias público-privadas", frisou;
  • Deve haver uma abordagem às alterações climáticas, já que a ação climática e um futuro hídrico sustentável "são dois lados da mesma moeda".

No que diz respeito ao nosso país, o consumo de água pode também apresentar algumas questões. Por exemplo, Portugal é o 35.º país do mundo com mais consumo de água engarrafada, mais de 50 litros ‘per capita’ em 2021 segundo um estudo da ONU, apesar da boa qualidade da água de torneira.

O estudo do Instituto Universitário para a Água, Ambiente e Saúde da Universidade das Nações Unidas, que abrange 109 países, assinala que a água engarrafada “pode levar ou contribuir para o esgotamento dos recursos hídricos subterrâneos” em áreas de grande consumo em muitas partes do mundo, questão de relevância a nível global dado que “mais de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo dependem de águas subterrâneas como a sua principal fonte” deste líquido indispensável para a vida.

Além disso, os 270 mil milhões de dólares (250 mil milhões de euros) gastos em 2021 pelos consumidores em água engarrafada seriam suficientes para garantir a disponibilização de água de torneira segura em grande parte do mundo.

Por fim, a questão das garrafas: “os recipientes de plástico representam de longe a embalagem mais comum utilizada na indústria” e “podem levar até 1.000 anos para se degradarem”.

Com tudo isto, resta a mensagem de Marcelo a propósito do dia que hoje se assinala: é preciso aumentar a consciencialização sobre a crise global da água e o agravamento das situações estruturais de escassez.

*Com Lusa