O antigo chefe de Estado da África do Sul anunciou a intenção de contestar legalmente trechos do relatório que resulta de quatro anos de uma intensa investigação.

O sistema de corrupção denunciado pelo relatório destacou a exclusão de empresas estatais da economia mais avançada do continente, em favor de alguns indivíduos e empresas ricas.

O documento – concluído depois de quatro anos de investigação por uma comissão ‘ad hoc’ sobre a corrupção estatal na África do Sul durante a era Zuma (2009-2018) – foi entregue ao atual presidente do país, Cyril Ramaphosa, na quarta-feira e acusa Jacob Zuma de ter sido “um ator central” de um esquema concebido para sacar dinheiro dos cofres públicos.

O ex-presidente, condenado a 15 meses de prisão por se recusar a depor perante a comissão anticorrupção, mas colocado em liberdade condicional por razões médicas, considerou este relatório “ilegal” e “altamente irracional”, afirmou o porta-voz da Fundação Zuma, Mzwanele Manyi, numa conferência de imprensa.

Para o ex-presidente, trata-se, “como seria de esperar, de uma coleção de fofocas, insinuações e conjeturas” e de um documento “muito ligeiro nas provas”, acrescentou o porta-voz.

Jacob Zuma deveria comparecer também na conferência de imprensa, mas os seus advogados dissuadiram-no a fazê-lo, para não arriscar violar as condições da sua liberdade condicional.

O relatório é resultado de uma investigação, que começou em agosto de 2018, logo após a renúncia de Zuma ao cargo de Presidente.

Após mais de 400 dias de audiências, mais de 300 testemunhas, cerca de 1.500 pessoas estão implicadas, incluindo Jacob Zuma, descrito como a “marioneta” dos irmãos Gupta, poderosos empresários de origem indiana. Dois dos irmãos Gupta foram presos em junho, no Dubai, e estão sujeitos a um pedido de extradição da África do Sul.

“Desde o início de seu primeiro mandato, o presidente Zuma estava pronto para fazer o que os Guptas quisessem”, indicou o relatório entregue ao presidente Ramaphosa.

O sistema de desvio de empresas públicas teria permitido retirar dos cofres do Estado o equivalente a pelo menos 30 mil milhões de euros.