"Tenho a certeza que Jack Dorsey [diretor-executivo do Twitter] consultou muitos advogados constitucionalistas", afirmou Anthony Scaramucci, na quinta-feira, durante uma sessão virtual sobre gestão eficiente de crises.
"Ele não foi atrás das teorias da conspiração, mas escolheu algo relacionado com a nossa democracia, o rigor do voto por correspondência e a ausência de fraude. Parece que foi muito seletivo e aplaudo-o por isso", disse.
Na terça-feira, a rede social Twitter assinalou pela primeira vez duas mensagens do Presidente dos Estados Unidos com um ‘link’ de "verificação de factos" no rodapé das mensagens em questão, por considerar "infundadas" e "potencialmente enganosas" as afirmações de Trump relacionadas com o voto por correspondência no país.
Este procedimento nunca tinha sido aplicado ao chefe de Estado norte-americano, que conta mais de 80 milhões de seguidores no Twitter.
O empresário, que foi diretor de comunicação de Donald Trump durante 11 dias em 2017, defendeu que a liberdade de expressão garantida pela primeira emenda da Constituição coloca o Twitter numa situação delicada. "Eles têm de lhe dar uma plataforma", afirmou. "A questão é: são obrigados ou sentem a responsabilidade de fazer verificação de factos?".
A iniciativa da rede social levou Trump a assinar na quinta-feira uma ordem executiva com o intuito de "defender a liberdade de expressão de um dos maiores perigos que já enfrentou na história da América", descreveu o Presidente, no início da comunicação, a partir da Sala Oval.
O decreto assinado reclama uma nova regulamentação, para que as redes sociais que façam “censura” percam “proteção jurídica” em território norte-americano.
A ordem baseia-se numa lei de 1996, o "Communications Decency Act" (Lei da Decência nas Comunicações), que concede aos gigantes de Silicon Valley (Facebook, Twitter, YouTube, Google) proteção contra processos judiciais ligados aos conteúdos publicados por terceiros, desde que não os fiscalizem.
O documento assinado por Trump também defende que não deve ser concedida proteção aos operadores no caso de bloqueio "fraudulento" de mensagens publicadas nas redes sociais, incluindo quando a supressão for feita para lá das condições de serviço das empresas.
Anthony Scaramucci falava durante a conferência "Estratégias para uma gestão de crise bem sucedida", organizada pela Associação de Correspondentes Estrangeiros nos EUA, tendo criticado ainda a gestão de Trump da pandemia da covid-19.
"O Presidente quis fazer o que fez durante 50 anos, que é distorcer os factos a seu favor", disse. "Não é possível gerir uma crise assim".
O antigo diretor de comunicação da Casa Branca defendeu que os Estados Unidos deviam ter implementado um sistema alargado de testes à covid-19 e adotado as práticas dos países na Ásia que conseguiram debelar a crise de saúde pública.
No ano passado, Scaramucci, fundador e sócio gerente da firma de investimentos SkyBridge Capital, afirmou que se opõe à reeleição de Donald Trump, admitingo que se enganou quando apoiou o Presidente norte-americano.
Com as eleições presidenciais agendadas para novembro, Scaramucci disse que neste momento as perspetivas de reeleição não são boas.
"Penso que ele vai perder", afirmou, sublinhando que em 2016 Trump ganhou por uma margem pequena e que entretanto alienou parte do eleitorado, incluindo mulheres acima dos 50 anos.
Scaramucci considerou também que a maioria dos apoios do Presidente vêm de trabalhadores da classe operária que "não gostam do poder estabelecido, nem dos 'media' e pensam que o sistema está virado contra eles".
Além desse grupo de eleitores, "Trump é odiado universalmente", defendeu o antigo responsável pela comunicação da Casa Branca.
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