Num comunicado enviado às redações, um conjunto de associações de doentes pretende passar a mensagem de que é necessário combater a pandemia sem comprometer o acompanhamento médico não-covid, já que “o acesso aos cuidados de saúde é um direito de todos”.

O grupo que subscreve esta campanha de sensibilização é composto pela Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC), a Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), a Careca Power, a EVITA - Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário, a RESPIRA - Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).

A medida, que conta também com o apoio do laboratório AstraZeneca, é acompanhada de um inquérito que indica que, durante o primeiro estado de emergência — entre março e maio —, apenas 28,8% dos portadores de doença crónica, como diabetes, doença cardíaca, doença respiratória ou doença oncológica, recorreram a um serviço de saúde para uma consulta ou tratamento.

No entanto, a partir de junho, este valor subiu para 53%, sendo que apenas 5,8% dos inquiridos admitiram ter faltado por receio da pandemia. Já para os que se deslocaram, 67% dos doentes considerou a ida aos cuidados de saúde segura ou relativamente segura.

O estudo também versa quanto ao papel do médico de família, sendo que, durante o primeiro estado de emergência, dos 50% de doentes crónicos que recorreram a aconselhamento não presencial, 48% fizeram-no junto do médico de família ou de outro tipo de profissional. O mesmo se verificou entre os 26,4% dos que, sem doença, recorreram ao mesmo tipo de aconselhamento: 47,4% fizeram-no também junto do médico de família.

Estes números, sugere o grupo, demonstram que "não é o medo da pandemia que tem impedido os doentes e a população em geral de acederem aos cuidados de saúde. As pessoas querem voltar a ser atendidas presencialmente, querem ter resposta para os seus problemas de saúde, que nada têm que ver com a covid-19".

No entanto, face ao aumento generalizado da mortalidade este ano, as associações defendem que o acesso aos cuidados de saúde não tem sido assegurado. De acordo com os últimos dados divulgados pelo INE, entre março a outubro de 2020, registaram-se 72.519 óbitos, mais 7.936 do que a média do período homólogo dos cinco anos anteriores. Destes, a Covid-19 foi responsável por 2.198 óbitos, o que representa 27,5% do total do aumento da mortalidade.

"Enquanto associações de doentes, é nosso dever alertar e sensibilizar para esta situação e fazer ouvir a nossa voz, reforçando que só trabalhando em conjunto poderemos encontrar uma solução que permita dar resposta à pandemia, sem colocar em causa o acompanhamento de outros doentes, nomeadamente, os crónicos”, lê-se no comunicado.

Por isso mesmo, o grupo diz estar disponível "para fazer parte da solução”, querendo as associações “ser ouvidas, a par de outras entidades do setor da saúde, na qualidade de representantes dos doentes crónicos”.

O apelo é subscrito pela APAH que, embora reconheça “que os hospitais se encontram numa situação crítica, o objetivo tem de ser também assegurar a resposta a todos os que precisam de cuidados de saúde”. As entidades promotoras desta campanha referem que “é importante que se encontrem soluções para que a resposta aos doentes não-Covid não fique comprometida, sob pena de não se conseguir recuperar os atrasos verificados desde o início da pandemia, que terão impacto não só nos custos para o SNS, como no aumento da morbimortalidade destes doentes”.