“Alerta — Doença Grave das Plantas – Xylella fastidiosa” — é este o título do folheto que os munícipes de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, estão a receber em suas casas juntamente com a conta da água.
Em causa uma bactéria que pode estar associada a 58 espécies/géneros de plantas, entre eles, a amendoeira, a cerejeira, a ameixeira, a oliveira, o sobreiro, a figueira, bem como plantas ornamentais e da flora espontânea e que em janeiro obrigou à destruição de um canteiro no Zoo de Santo Inácio, também em Vila Nova de Gaia.
O folheto dá indicações sobre o que fazer se detetar uma infeção e mostra fotografias de sintomas da doença de forma a exemplificar o que é que as pessoas poderão identificar em suas casas ou em jardins públicos.
“Não movimentar plantas ou partes de plantas para plantação, ou ramos para fora da área demarcada” e “Observar cuidadosamente as suas plantas e contactar as autoridades sempre que observe sintomas suspeitos” — são duas das frases que constam do folheto de alerta da autarquia.
Contactada pela agência Lusa, a Câmara Municipal de Gaia, liderada pelo socialista Eduardo Vítor Rodrigues, apontou que tem conhecimento atualmente de 32 focos.
Na área demarcada, de acordo com um edital da Direção Geral de agricultura e Pescas do Norte, ao qual a Lusa teve acesso, constam freguesias dos concelhos de Gaia, Espinho, Porto e Santa Maria da Feira.
A 23 de abril, foi noticiado, com base num relatório do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, que tinham sido detetados 13 focos da bactéria ‘Xylella fastidiosa’ em jardins particulares e espaços públicos de Gaia.
“Tudo tem sido feito, desde a descoberta da doença em Gaia, para conter o mais rapidamente possível a doença e evitar a contaminação de outros territórios. As autoridades competentes, juntamente com o Município, têm feito todas as diligências necessárias e possíveis para conter a infeção, seguindo as medidas preconizadas no Plano de contingência para controlo da Xylella fastidiosa e seus vetores, da DGAV”, descreve hoje a Câmara de Gaia em resposta remetida à Lusa.
Os responsáveis camarários sublinharam como “mensagem aos munícipes” que as autoridades competentes “tudo farão para conter a doença e evitar prejuízos de maior para o país”, admitindo, no entanto, que “se trata de uma doença grave e sem cura até à data”.
“Acresce que as plantas afetadas são plantas de elevado valor económico e mesmo social e muitas delas não apresentam sinais ou sintomas apreciáveis à vista desarmada”, acrescenta a autarquia.
Já no folheto é destacado que “esta bactéria não afeta pessoas ou animais” e é pedido às pessoas que “facultem o acesso” a técnicos do Ministério ou da Câmara Municipal caso sejam visitadas para observação de plantas.
Questionada sobre se tem recebido queixas ou alertas, a Câmara de Gaia esclareceu: “Sim, poucas. São, sobretudo, dúvidas acerca de plantas com potenciais sintomas. Mas são pouco significativas até porque, e mesmo que as plantas estejam infetadas, muitas não apresentarão sintomas visíveis e conotáveis com a doença”.
A ‘Xylella fastidiosa’ dispersa-se através de insetos em distâncias curtas e pelo transporte de plantas contaminadas em distâncias longas.
São medidas de proteção fitossanitária a destruição no local, após realização de tratamento inseticida contra os potenciais insetos vetores, dos vegetais hospedeiros da subespécie da bactéria presentes na zona infetada, bem como a proibição de plantação dos vegetais hospedeiros da bactéria, exceto sob condições de proteção física contra a introdução da bactéria pelos insetos vetores, oficialmente aprovadas.
Também está proibida a comercialização, na área demarcada, em feiras e mercados de qualquer vegetal, destinado a plantação, pertencente aos géneros e espécies constantes da Lista de Géneros e Espécies sujeitos a Restrições Fitossanitárias.
Em janeiro Portugal informou oficialmente a Comissão Europeia da presença da bactéria ‘Xylella fastidiosa’ em plantas de lavanda no jardim de um ‘zoo’ em Vila Nova de Gaia.
No dia 18 de janeiro, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, assegurou que o Governo tem um plano de contingência para fazer face à bactéria ‘Xylella fastidiosa’ e que é necessário estar atento aos seus sintomas nas plantas.
Três dias depois, a 21, também o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) avisou que a ‘Xylella fastidiosa’ é “perigosa”, pedindo aos agricultores para alertarem imediatamente para eventuais infeções, uma preocupação partilhada no dia seguinte em declarações à Lusa pelo presidente da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD).
Já em maio, a Autoridade Europeia da Segurança Alimentar alertou que a praga de “xylella fastidiosa” causou grandes danos às oliveiras do sul da Europa, estando a espalhar-se pelo continente.
Esta bactéria foi detetada na Europa pela primeira vez em 2013, primeiro na região italiana de Apúlia, no Sul da Itália.
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