Pires de Lima desfiliou-se no final de outubro do CDS-PP, partido onde militou durante cerca de 30 anos, na sequência do cancelamento do congresso que esteve agendado para 27 e 28 de novembro e a recusa da direção de que se realize antes das eleições legislativas, como queria o eurodeputado Nuno Melo, que ia disputar a liderança com o atual presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos.
O antigo ministro não gostou de ser referido pelo líder nas entrevistas que tem dado nas últimas semanas e, em declarações à Lusa, acusou Rodrigues dos Santos de se vitimizar.
“Na ausência de discurso para o país, o doutor Francisco Rodrigues opta por se vitimizar, descontextualizando, mal comparando”, criticou.
E adiantou que nas eleições legislativas de 30 de janeiro não vai “votar no Francisco Rodrigues dos Santos”.
“Pela primeira vez na minha vida, e faço-o com muita tristeza, não vou votar no CDS, mas não desejo nenhum mal ao CDS. Aquilo que espero é que no futuro, com outras lideranças, o CDS possa voltar a recuperar a decência e a importância que desempenhou no sistema democrático português desde 1974”, indicou.
Pires de Lima disse também que, após a saída do CDS-PP, vai manter-se “como independente” e não quer retomar “uma vida política ativa”, mas não exclui “um dia, com outras lideranças, voltar a votar no CDS”.
O ex-governante defendeu que deu estas declarações “a título excecional” e indicou não querer “falar mais do CDS” a não ser que se sinta obrigado, até porque recusa “ser um fator perturbador”.
“Aquilo que gostaria mesmo era não ter de me pronunciar mais sobre o CDS e sobre o líder do CDS, mas como o meu nome tem sido referido pelo doutor Francisco Rodrigues dos Santos de uma forma quase obsessiva em cada entrevista que dá já depois da minha saída do partido, e de forma muitas vezes imprecisa ou incorreta, eu entendo que é meu dever corrigir algumas das alusões que ele tem feito a meu respeito”, considerou.
O antigo dirigente centrista salientou igualmente que “ao longo dos últimos dois anos, foram muito poucas as vezes” em que falou publicamente sobre a liderança do CDS, mas considerou que “muitas das previsões negativas que fazia para o partido, como a ausência de cultura democrática do líder, como a tribalização do partido, a falta de respeito pela diversidade de opiniões e a sua impreparação, no meu ponto de vista vieram a confirmar-se com o tempo”.
À Lusa, António Pires de Lima recusou as comparações da direção entre o período atual que o partido vive e o que se passou no passado, apontando que “o único momento comparável na vida do partido nos últimos 20 anos” com o atual “é o momento da demissão do engenheiro António Guterres e da convocação de eleições antecipadas pelo doutor Jorge Sampaio para março de 2002”.
“Nessa altura, eu defendi que o partido, havendo uma disputa anunciada entre o doutor Paulo Portas e o doutor Manuel Monteiro, devia antecipar congresso, e foi isso que se fez em janeiro de 2002, antes das eleições antecipadas, proporcionando uma clarificação no partido e um caminho depois para as eleições legislativas, que acabou por resultar num bom resultado para o CDS”, salientou.
O antigo presidente do Conselho Nacional referiu que “em mais de 30” reuniões do órgão máximo do partido entre congressos, “houve um que foi convocado de urgência, mas depois de essa urgência ter sido devidamente consensualizada entre a direção do partido e as pessoas que representavam a oposição ao doutor Paulo Portas”.
E acrescentou que, na altura, foi decidido o adiamento de um congresso que “não tinha nenhuma disputa para a liderança anunciada”, na sequência de “uma crise política de que o CDS fazia parte”.
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