“Celeste é a prova provada de quando achamos que alguém deve ser eterno; ela é uma dessas pessoas”, disse Jorge Fernando à agência Lusa, numa reação à morte da fadista, ocorrida hoje, em Lisboa, aos 95 anos.

O autor acrescentou que teve “o benefício” de partilhar a “inteligência, tolerância” e “aquela força enorme de viver e o gosto de viver” que a fadista tinha, assim como a lucidez que apresentava aos 95 anos, sobre “qualquer tema, em qualquer conversa”.

"É realmente daqueles seres que nós desejamos que não acabem, que não nos deixem”, frisou.

Jorge Fernando, que escreveu fados e canções para Celeste Rodrigues, sublinhou também a “sabedoria, a tolerância e a ternura” da fadista, que faziam dela um “porto de abrigo”, sempre que era necessário.

Além da "obra imensa” da cantora – entre as quais “O limão”, “Olha a mala” e “A lenda das algas” -, o compositor sublinhou a “voz larga e profunda” de Celeste Rodrigues.

“Não comparando com a técnica vocal da Amália, porque não há comparação com ninguém, Celeste tinha aquele 'carimbo' dos Rebordões. Aquela larga, profunda, aquele peso na palavra quando cantava, aquela alma gigantesca que se apoderava das pessoas… E tudo isso ficará gravado na memória”, concluiu.

A fadista Celeste Rodrigues morreu hoje, aos 95 anos, confirmou à Lusa o neto Diogo Varela Silva.

Nascida no Fundão, em 14 de março de 1923, irmã de Amália Rodrigues, Celeste Rodrigues iniciou a carreira há 73 anos, ao aceitar o convite feito pelo empresário José Miguel (1908-1972), detentor de vários teatros e casas de fado, entre os quais o Café Casablanca. Do seu repertório constam, entre outros temas, “A Lenda das Algas” e o “Fado das Queixas”.

Celeste Rodrigues atuou em abril passado no Town Hall, em Nova Iorque, ao lado de Carlos do Carmo, no âmbito do Festival de Fado.

Em maio, cantou no palco do Teatro TivoliBBVA, em Lisboa, e, na altura, disse à Lusa que “cantar é sempre uma alegria, mas ainda mais nesta idade, porque não é fácil ter ainda um bocadinho de voz” para que se “atravesse” a cantar.

No último ano a fadista estreitou relações com Madonna, atualmente a viver em Lisboa, com quem passou a última passagem do ano, em Nova Iorque.

Em dezembro do ano passado, a criadora de "True Colors" fez um dueto espontâneo com Celeste Rodrigues, que considerava "uma lenda viva", na Mesa de Frades, em Lisboa, interpretando "Can't Help Falling in Love", uma canção Elvis Presley, um dos ídolos da cantora norte-americana, apesar de a fadista portuguesa preferir David Bowie, como confessou publicamente.

Numa das suas entrevistas à Lusa, Celeste Rodrigues afirmou: “Acho que o fado é uma música linda, maravilhosa. Com palavras bonitas, ainda mais maravilhoso fica. Portanto, é natural que faça sucesso. E [o fado] entra em nós, está nas veias de todos os portugueses”.