Centenas de pessoas de todo o país, particularmente funcionários do grupo Delta, acorreram hoje a Campo Maior para se ‘despedirem’ de Rui Nabeiro, figura consensual em Portugal e, em particular, naquela vila do distrito de Portalegre.

Ao início da tarde, a fila de pessoas para passarem junto ao corpo do comendador tinha cerca de 200 metros, mas ‘afunilava’ sensivelmente a meio, na entrada para a estreita rua de acesso à Igreja Matriz, onde a polícia controlava a ‘conta gotas’ o acesso dos populares, que demoravam “mais de uma hora” só para chegar a esse ponto.

“[Rui Nabeiro] merecia este sacrifício e muito mais. Foi uma pessoa exemplar a todos os níveis, superconsensual em todas as áreas, da política ao desporto, e é fundamental que nós, principalmente os funcionários da empresa, venhamos aqui fazer uma homenagem”, disse à agência Lusa, no final da fila, José Martins, funcionário de departamento comercial, do Porto.

Difícil era encontrar quem não tivesse tido qualquer tipo de ligação a Rui Nabeiro, pessoalmente, ou à Delta, profissionalmente, e quase todas as pessoas usavam na lapela um ‘pin’ com o logótipo da marca, ou da Camelo, ou vestiam mesmo a farda de trabalho, apesar de o grupo ter dispensado hoje do serviço todos os seus funcionários.

Vítor Santos “não conhecia Rui Nabeiro pessoalmente”, mas a sua mulher “era funcionária da Delta”. Saiu de Peniche “às 09:30” e chegou à fila perto das 13:00, onde pretendia ficar “o tempo que for preciso até conseguir chegar lá”.

“Há uma missão a cumprir, é preciso aguentar até ao fim. Não há palavras para o descrever. Era uma pessoa boa, devia haver mais pessoas em Portugal assim, como ele”, afirmou.

A “missão” de prestar uma última homenagem ao empresário começou a sentir-se na vila logo de manhã, com um movimento de carros e pessoas pouco habitual na pacata vila da raia alentejana, mesmo para uma manhã de segunda-feira.

O trânsito foi condicionado pelas autoridades em várias vias de acesso ao centro da vila, onde se encontra a Igreja Matriz, e onde hoje, ao contrário do habitual, não se sentia o cheiro a café, oriundo das torrefações, característico de Campo Maior.

Quase todas as pessoas se dirigiam para a Igreja Matriz, algumas com ramos de flores para deixar junto à urna de Rui Nabeiro, mas as cerimónias fúnebres só tiverem início às 12:00. As portas foram abertas pelas 12:05 e a primeira pessoa entrou às 12:07.

Com todo o aparato mediático montado em frente à igreja, os populares iam saindo, alguns visivelmente emocionados, e trocavam cumprimentos e abraços de solidariedade pela perda de alguém que “era o pai de todos”, segundo Domingas Fidalgo, uma popular de Campo Maior.

“Estive em casa dele 33 anos, não tenho nada a dizer de mal. Só tudo de bom. Também tenho lá o meu filho, pessoas da família, não tenho razão de queixa. Era o pai de Campo Maior e vai fazer muita falta. Tenho pena que ele abalasse já, ainda devia cá estar mais uns aninhos”, lamentou a antiga funcionária da Delta, reformada há um ano.

Ainda na fila, Paula Pereira, uma funcionária “há mais de 40 anos” da área comercial, em Lisboa, lamentava também a perda de “uma pessoa fora de série, que conhecia toda a gente pelo nome” e que “vai deixar muita saudade”.

“Além daquele sorriso, que nos deixa uma saudade enorme, deixa-nos uma motivação e uma maneira única de estar. Já temos muitas saudades dele”, disse, com a voz ‘embargada’ pela emoção, antes de recordar o momento quando o Sr. Rui veio de Espanha para Portugal, após um período de exílio.

“Tive o privilégio de estar presente, de vê-lo passar a pé a fronteira, com as carrinhas todas da empresa a apitar, as pessoas de Campo Maior a baterem palmas. Fui uma privilegiada. Estava lá e foi uma das coisas que mais me marcaram na vida, um momento único”, recordou a popular, de Lisboa.

O empresário Rui Nabeiro morreu no domingo, no Hospital da Luz, em Lisboa, onde estava internado devido a problemas respiratórios.

As cerimónias fúnebres decorrem na Igreja Matriz de Campo Maior, desde as 12:00 de hoje, seguindo-se, na terça-feira, a partir da mesma hora e na mesma igreja, a missa de corpo presente, informou a família. O cortejo fúnebre seguirá, depois, em direção ao Cemitério Municipal da vila.

Manuel Rui Azinhais Nabeiro nasceu em Campo Maior, vila do interior do país, no distrito de Portalegre, junto à raia com Espanha, em 28 de março de 1931.