O programa oficial já o tinha alertado: seria uma cerimónia rápida e simbólica. E assim foi. Na manhã desta quarta-feira, entre pequenos cumprimentos dos altos governantes de Portugal e Espanha, hinos e fotografias de família, não passaram mais de 15 minutos em ambas as partes.
A primeira ocorreu no Museu Arqueológico situado na Alcáçova de Badajoz, pelas 09:46 de Portugal (10:46 em Espanha), 15 minutos após a hora agendada. Houve tempo apenas para ouvir os hinos dos dois países (primeiro o português e depois o espanhol) executados pela Orquestra da Estremadura. Sem declarações, sem perder tempo, porque as agendas dos governantes assim o obrigam e as questões seriam colocadas mais tarde.
A segunda parte da cerimónia deu-se no Castelo de Elvas, no distrito de Portalegre, nos mesmos moldes. No entanto, com uma ligeira nuance: o primeiro hino a tocar (às 11:00 em ponto) foi o espanhol e só depois o português, ao contrário do que tinha acontecido em Espanha. Porém, em Elvas, foi a Banda da Armada que executou os hinos nacionais dos dois países, embora no final o desfecho fosse idêntico: os chefes de Estado e de Governo voltaram a bater palmas.
De seguida, os governantes e Chefes de Estado deslocaram-se até ao miradouro do Castelo que permite avistar o território espanhol para um momento "Ó Elvas, ó Elvas, Badajoz à vista!", a fim de concluir a cerimónia em território português — junto ao qual os quatro conversaram mais longamente, e por momentos, sem máscara.
Contudo, Marcelo Rebelo de Sousa e o rei de Espanha, Felipe VI, no retorno, após uma pequena caminhada no Castelo de Elvas, furaram um pouco o protocolo e estiveram perto de algumas pessoas que se encontravam no local. Ainda que durante pouco tempo, houve acenos, beijos (à distância) e saudações (através da transmissão da RTP foi possível ouvir que alguém gritava guapo [bonito, giro] para o Rei).
As declarações aos jornalistas só aconteceram depois de encerradas as cerimónias, já perto da hora do almoço.
Depois do simbolismo silencioso, a comunicação à Península Ibérica de António Costa e Sanchéz
O primeiro a responder às questões dos jornalistas, em Elvas, foi o líder do executivo espanhol. Este salientou que a abertura das fronteiras para Espanha é "uma excelente notícia", mas aproveitou a ocasião para elogiar o primeiro-ministro português.
"É uma felicidade enorme de encontrar-me em Elvas com o meu querido amigo António Costa, num ato carregado de muitíssima, muitíssima emoção. Somos dois povos irmãos, dois povos que partilham história, cultura, afinidade, mas também a visão", disse.
Pedro Sánchez transmitiu "a enorme gratidão do governo de Espanha" e "da sociedade espanhola à sociedade portuguesa e ao Governo português", pelo apoio durante esta época da pandemia da covid-19.
"Durante as semanas mais duras da pandemia que vivemos em Espanha, contei com o apoio, carinho e incentivo do primeiro-ministro português. E, em momentos em que as coisas estão a correr bem, agradece-se e muito" essa "relação cordial", afirmou.
Mas, que esta "inclusive se intensifique em situações tão dramáticas como, infelizmente a Espanha teve que viver, isso diz muito deste grande povo", que é o português e do próprio primeiro-ministro António Costa, vincou.
A propósito das cerimónias de hoje, que tiveram lugar em Badajoz, do lado espanhol, e em Elvas, do lado português, Pedro Sánchez disse que foi um ato “carregado de muita e emoção”.
O homólogo português tomou a palavra de seguida e fê-lo com uma promessa: a de comunicar no "melhor portunhol" possível. António Costa começou por assinalar a importância do momento, referiu que a fronteira dos países ibéricos é a mais antiga da Europa. E que, por isso, "não há nada melhor do que voltar aos marcos para simbolizar esta vontade comum de nos reencontrarmos e de voltarmos a sermos vizinhos".
O líder do executivo português disse também que os dois países não vêm a abertura de fronteiras como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade para o desenvolvimento comum. E que até haver vacina temos de conviver em conjunto porque esta é "uma nova realidade".
Questionado pelos jornalistas se a decisão de abertura das fronteiras tinha sido política ou sanitária, António Costa salientou que não há nenhuma "decisão política" nesta fase que não tenha "uma dimensão sanitária".
"Nós hoje por muita vontade que tenhamos em abrir fronteiras, sabemos que a sua abertura tem de ser feita tendo em conta as condições sanitárias que existem. Hoje, aquilo que é fundamental, é todos estarmos conscientes que todos os portugueses que forem a Espanha têm de cumprir em Espanha as normas e as regras que existem as Espanha, e os espanhóis que venham a Portugal, são muito bem vindos, mas têm de cumprir as regras sanitárias que temos em Portugal", disse, concluindo que "se todos fizerem isto, esta abertura [de fronteiras] só tem vantagens e não tem riscos".
Fronteiras estão abertas desde as 23h00 (em Portugal)
Recorde-se que devido à pandemia de covid-19, por decisão conjunta, a fronteira luso-espanhola foi encerrada às 23:00 de 16 de março (00:00 de dia 17 em Espanha), com pontos de passagem exclusivamente destinados ao transporte de mercadorias e a trabalhadores transfronteiriços, e reabriu às 23:00 desta terça-feira, (00:00 de hoje em Espanha).
Assim, as autoridades dos dois países ibéricos quiseram conferir especial simbolismo político a esta reabertura e organizaram cerimónias durante a manhã de hoje, nos dois lados da fronteira, com a participação do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, do rei de Espanha, Felipe VI, do primeiro-ministro português, António Costa, e do chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez.
Tal como estava previsto no programa oficial não existiram quaisquer declarações dos governantes, que agora se irão deslocar para um hotel.
Esta manhã, em declarações à Rádio Nacional de Espanha, António Costa apelou ao rigoroso cumprimento de todas as normas de segurança e saúde contra a covid-19 para evitar a possibilidade de as fronteiras entre Portugal e Espanha voltarem a fechar.
(Artigo atualizado às 14:50)
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