"Quando as obras se iniciaram, em setembro ou outubro de 2015, não existiam cheiros", afirmou à agência Lusa Célia Simões, presidente da associação de moradores "A Cidade Imaginada Parque das Nações" (ACIPN).

Porém, "nas últimas semanas tem sido todos os dias, e o cheiro acentuou-se na intensidade e no número de horas e dias em que se sente", disse a munícipe.

Em causa estão as obras de construção de um parque de estacionamento subterrâneo do hospital CUF Descobertas, que decorrem nos solos onde existiu a antiga refinaria de Cabo Ruivo, pelo que os moradores temem que os solos estejam contaminados.

Célia Simões define o odor como "se o gás estivesse ligado dentro de casa".

A cidadã explicou que o cheiro entra nas habitações e ali se mantém, provocando "náuseas e dor de cabeça" aos moradores das imediações.

"Há dias em que toda a zona sul do Parque das Nações sente o cheiro", salientou.

Desta forma, os moradores irão manifestar-se no domingo de manhã, junto à obra, na Avenida Fernando Pessoa, para "denunciar aquilo que pode estar a ser um crime de saúde pública que afeta a todos".

Com esta concentração, os moradores pretendem "chamar a atenção das entidades competentes", para que lhes sejam dadas "garantias que todos os testes foram feitos, que sabem que elementos químicos são aqueles, e se são ou não prejudiciais aos habitantes".

A presidente da ACIPN referiu também que já entraram em contacto com as autarquias locais (Câmara Municipal e Junta de Freguesia), a Inspeção Geral do Ambiente, Inspeção Geral de Saúde, Agência Portuguesa do Ambiente, Comissão de Coordenação de Desenvolvimento da Região de Lisboa e Vale do Tejo, Quercus, ou Zero, mas não obtiveram respostas.

"Ao lado daqueles terrenos há uma escola que tem berçário e creche e um supermercado, e os trabalhadores do supermercado dizem inclusivamente que há dias em que é impossível ir às caves", observou Célia Simões.

Quando o cheiro se intensificou, "há cerca de 15 dias, os vizinhos reuniram-se e chamaram ao local os bombeiros e a PSP, mas estas entidades disseram que nada podiam fazer", acrescentou.

"Também os trabalhadores demonstraram preocupação quanto à situação, mas disseram-nos que foram tranquilizados pela empresa" responsável pela obra, afirmou Célia Simões.

Num esclarecimento enviado à agência Lusa, a José de Mello Saúde, detentora do hospital, afirmou ter ficado “surpreendida com a existência de solos contaminados no local”.

“Perante esta situação, desde que iniciámos a obra que a principal preocupação tem sido a separação das terras contaminadas e o encaminhamento para os locais apropriados, de acordo com as normas e o parecer das Agência Portuguesa do Ambiente”, lê-se no esclarecimento.

“Lamentamos o incómodo que tal possa causar, mas estamos seguros que estão a ser cumpridos os requisitos legais e regulamentares neste domínio”, remata a nota.

A Lusa tentou contactar o presidente da Junta de Freguesia do Parque das Nações, sem sucesso.