Em declarações à Lusa, Pedro Matos Soares, que lidera um grupo de investigação na área das alterações climáticas do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e é um dos mais de 30 subscritores do texto, explicou que o objetivo desta carta é fazer uma chamada de atenção pública.

"Nós, como investigadores, tínhamos a obrigação de serviço público, de fazer uma chamada de atenção ao reitor e às pessoas: cuidado que este evento não serve a academia e muito menos a sociedade portuguesa, porque não tem fundamento científico", sublinhou.

O investigador, que acredita numa sociedade plural e que, por isso, não pede o cancelamento da conferência, salientou que, neste caso, a questão prende-se com o não se poder dar “uma chancela científica e de excelência, como disse o reitor [António Sousa Pereira], a um encontro que nada tem de científico".

"A Universidade do Porto está a fazer um mau serviço público, porque está a promover a desinformação e a contaminar a opinião publica", considerou.

Para o investigador, a informação que esta conferência vai veicular é “errónea, sem fundamento científico e motivada politicamente".

A realização desta conferência, que vai decorrer na sexta-feira e no sábado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e que conta com a presença de várias personalidades conhecidas como "negacionistas" das alterações climáticas, levou um grupo de mais de 30 cientistas de várias instituições do país a subscrevem uma Carta Aberta ao reitor da Universidade do Porto, Sousa Pereira, em protesto contra a realização da mesma.

Contactada hoje pela Lusa, fonte da Universidade do Porto afirmou não querer comentar esta carta e que nada mais adiantará sobre o assunto, além do que já disse na terça-feira.

Em comunicado enviado na terça-feira, a Universidade do Porto esclareceu que a realização da conferência "Basic Science of Climate Change: How Processes in the Sun, Atmosphere and Ocean Affect Weather and Climate" "não significa que as posições assumidas pelos seus oradores e participantes sejam um reflexo da visão da Universidade do Porto sobre o tema em debate".

"As universidades devem, contudo, afirmar-se como um espaço de debate e discussão por excelência, onde a partilha de diferentes ideias e perspetivas deve ser valorizada", pelo que, "a censura de opiniões não faz, nem deve fazer, parte da natureza das instituições de ensino superior e é nesse contexto que a Universidade do Porto irá acolher a referida conferência", acrescentava então a Universidade.

No documento, a instituição referiu, ainda, que "o combate às alterações climáticas e a sustentabilidade ambiental são uma prioridade para a Universidade do Porto”.

Os signatários da Carta Aberta contestam o facto de a Universidade "promover uma conferência que vem favorecer a desinformação, credibilizando ideias políticas que visam travar as ações para se conseguir obter a estabilização climática do planeta durante este século".

Ainda no documento, os subscritores sublinham que "não é possível hoje negar o consenso generalizado dentro da comunidade científica de que as atuais alterações climáticas a que estamos a assistir são causadas pelas ações com origem humana", acrescentando que "é um consenso científico que atravessa várias áreas de conhecimento e abarca cientistas de todos os continentes".

Segundo as Nações Unidas, “as alterações climáticas estão a afetar todos os países em todos os continentes” e a perturbar as economias nacionais “hoje e ainda mais amanhã”.

Os padrões climáticos “estão a mudar, os níveis do mar estão a aumentar, os fenómenos climáticos estão a tornar-se mais extremos e as emissões de gases de efeito de estufa estão agora nos níveis mais altos da história”, alerta a ONU, que considera que, sem ação, “a temperatura média da superfície do mundo provavelmente ultrapassará três graus centígrados neste século”.

A conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas de Paris, em 2015, obteve o acordo de quase todos os países no sentido de travar o aquecimento global, limitando o aumento da temperatura a menos de dois graus celsius em comparação com a era pré-industrial.

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