Os 20 cidadãos repatriados, 18 portugueses e dois brasileiros, de Wuhan, na China, foram instalados em instituições dedicadas para o efeito no Hospital Pulido Valente (Centro Hospitalar de Lisboa Norte) e no Parque da Saúde de Lisboa, onde irão permanecer em isolamento profilático durante 14 dias.
A conferência de imprensa foi organizada para esclarecimentos, depois de se saber que os testes laboratoriais realizados pelo INSA [Instituto Ricardo Jorge] deram negativos quanto à potencial existência do coronavírus nos cidadãos repatriados.
Na conferência de imprensa compareceram a Ministra da Saúde, Marta Temido, o Secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, e o presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge-INSA, Fernando Almeida.
Aos jornalistas, a Ministra da Saúde garantiu que “as pessoas encontram-se todas bem” e que junto dos cidadãos repatriados existe um “ambiente de tranquilidade, de cansaço natural, após uma viagem muito longa e momentos de elevado stress”. O grupo esteve a descansar de manhã e durante a tarde foi visitado por profissionais de saúde, não havendo “elementos clínicos do estado de saúde a assinalar”.
Marta Temido disse que o Ministério da Saúde vai continuar a partilhar a informação clínica dos cidadãos repatriados e que o Estado vai agora procurar garantir que “aspetos de conforto” das pessoas retidas “sejam melhorados”, já que não se trata de “instalações hoteleiras”, e há questões que estão a ser revistas, disse Marta Temido.
A Diretora-Geral da Saúde completou este raciocínio, dizendo que este é “o dia de todos os ajustes”, tanto para as autoridades de saúde, como para os cidadãos que “passaram o tempo seguinte a descansar e a adaptar a esta nova etapa das suas vidas”.
Graça Freitas referiu que os exames mantêm-se negativos, sendo que “nenhuma destas pessoas desenvolveu sintomatologia compatível com a nova síndrome”, não apresentando sintomas de “febre, tosse ou dificuldades respiratórias”.
Tratam-se assim de “doentes que não são doentes”, explicou a Diretora-Geral de Saúde, sendo sim “cidadãos que vieram duma zona afetada onde estiveram 30 dias expostos teoricamente a um virus”.
Procurando não afetar o período de descanso dos cidadãos repatriados, as autoridades de saúde apenas iniciaram o seu acompanhamento depois da hora de almoço do dia de hoje, indicou Graça Freitas, dizendo que estes já tinham “ sido acompanhados quer no Parque da Saúde, quer no Hospital Pulido Valente, pelas equipas que localmente lhes estão a dar apoio”.
Questionada pelos jornalistas a responsável disse que foram tomadas todas as medidas de precaução (para a tripulação) na viagem de avião de regresso dos passageiros a Portugal (e de outros cidadãos europeus no mesmo avião), disse que no grupo que está em quarentena pode haver contactos desde que sejam usadas máscaras (exceto nos que estiveram sempre juntos no último mês), e explicou que ainda não foi decidido quando será feita nova análise para despistar a existência de vírus.
As 20 pessoas estão em quarentena (14 dias) por opção, já que legalmente não são obrigadas, mas a ministra da Saúde disse, questionada sobre o caso de no futuro alguém se recusar à quarentena, que há meios legais para a impor.
Se houver necessidade "a lei permite proceder à separação de pessoas que não estando doentes podem constituir um risco”, disse Marta Temido, acrescentando: “há mecanismos que utilizaremos se assim for necessário”.
Graça Freitas explicou também que no caso de alguém do grupo de quarentena ter a doença pode acontecer que os restantes, se estiveram em contacto com essa pessoa, tenham de recomeçar a quarentena.
A diretora geral da Saúde admitiu também que os meios previstos para fazer face ao vírus podem aumentar, quer a nível de laboratórios quer de hospitais, o que foi corroborado pelo presidente do Instituto Nacional de Saúde, Fernando Almeida, dizendo que há no país, incluindo ilhas, uma rede de 20 laboratórios que trabalham com o Instituto e que podem fazer as análises.
Ainda nas respostas a perguntas dos jornalistas, nomeadamente sobre a proteção de profissionais que lidem com eventuais casos, a ministra disse que está a ser feita uma avaliação detalhada sobre a assistência aos dois casos em Portugal suspeitos (que se revelaram negativos depois), disse que vai haver um investimento “em mais melhorias” e garantiu que estão disponibilizadas batas, luvas e máscaras para todos os que necessitem.
No avião de transporte C-130 da Força Aérea Portuguesa, as pessoas que decidiram sair de Wuhan, epicentro do contágio do coronavírus, foram acompanhadas por oito tripulantes e oito profissionais de saúde, incluindo uma equipa de sanidade internacional.
O novo coronavírus já provocou 362 mortos e infetou mais de 14.000 pessoas desde o passado mês de dezembro, quando surgiu em Wuhan, capital da província de Hubei, na China.
As Filipinas anunciaram no domingo a morte de um cidadão de nacionalidade chinesa, vítima de uma pneumonia causada pelo coronavírus, a primeira vítima fatal fora da China.
Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais casos de infeção confirmados em 24 outros países, com as novas notificações na Rússia, Suécia e Espanha.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou na quinta-feira uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional (PHEIC, na sigla inglesa) por causa do surto do novo coronavírus na China.
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