A iniciativa partiu da presidente da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, Luísa Branco Vicente, que apelou, em carta, para a “generosidade” dos seus 230 sócios, “para disponibilizarem algumas horas do seu dia ou da sua semana (gratuitamente)”, com o objetivo de apoiar a população “face à estranheza de uma ameaça que pode vir do contacto com o outro”.

A ideia de criar uma linha de apoio surgiu há cerca de duas semanas, quando um “miúdo” lhe disse, no final da consulta, que não sabia o que era pior, “se a epidemia do vírus, se a epidemia do afeto”, contou a psiquiatra e pedopsiquiatra, em declarações telefónicas à Lusa.

“As pessoas estão muito aflitas, muito ansiosas com esta situação que estamos a viver”, observa.

Entre as pessoas, os pais “estão também com muita dificuldade em explicar isto aos miúdos”, relata.

“Os pais estão com tanta dificuldade (…) que depois a transmissão à criança não é, certamente, a melhor. Ou não falam, ou de alguma maneira transmitem as suas angústias. É complexo e (…) é importante, do ponto de vista preventivo, fazer já alguma coisa”, justifica.

Luísa Branco Vicente não tem “dúvida nenhuma” de que a atual situação de pandemia e isolamento social será uma agravante para a saúde mental dos portugueses e já se começam a detetar “preocupações em termos económicos”.

Ora, para os profissionais de saúde mental, é importante que esta vivência em quarentena “não se organize como um trauma”, nomeadamente para as crianças.

Existe “informação muito mal passada, quer aos pais, quer às crianças”, o que “está a gerar uma grande inquietação”, analisa a psiquiatra.

A ideia da linha de apoio é “ouvir, conter, devolver, para tranquilizar as pessoas”, sendo que é importante as pessoas “não se intoxicarem com notícias, notícias, notícias, que lhes aumentam o estado de ansiedade”, recomenda.

Em menos de 48 horas, Luísa Branco Vicente recebeu o apoio de 60 voluntários.

A linha de apoio (300 051 920) dirige-se à população, mas também a profissionais de saúde, e está a funcionar há dois dias, com cobertura nacional. Para além de gratuita, é anónima e confidencial.

Com horário de funcionamento entre as 08:00 e as 24:00, durante os dias de semana, quem liga pode optar por falar com psicólogos, psiquiatras ou pedopsiquiatras. O apoio pode ser facultado a famílias, adultos, idosos, crianças. E tem a particularidade de incluir a hipótese “pais para falarem com crianças”.

“Consideramos que é nosso dever, enquanto cidadãos e enquanto técnicos de saúde mental - psicanalistas, prosseguir um trabalho de qualidade de intervenção em crise”, escreve, na carta aos sócios, Luísa Branco Vicente, sublinhando que a psicanálise é “profundamente humanista”.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais 505 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 23.000.

Em Portugal, registaram-se 60 mortes, mais 17 do que na véspera (+39,5%), e 3.544 infeções confirmadas, segundo o balanço feito na quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 549 novos casos em relação a quarta-feira (+18,3%).

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