“É importante que as pessoas confiem na segurança das vacinas e estejam informadas da possibilidade, ainda que remota, de que podem surgir reações alérgicas após a toma, sabendo que essas reações também podem ser prevenidas”, descreveu Tiago Rama, um dos autores de um artigo publicado recentemente no Journal of Allergy and Clinical Immunology, um jornal médico que abrange pesquisas sobre alergias e imunologia.
Nesse artigo – que o imunoalergologista Tiago Rama partilha com André Moreira, clínico, investigador e professor no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), bem como com Mariana Castells, alergologista nos EUA e professora em Harvard – é descrito o protocolo de pré-medicação recomendado a doentes com mastocitose e patologias de ativação mastocitária.
A mastocitose é um excesso de mastócitos que são as células responsáveis pelos sintomas das alergias.
Os autores descrevem a aplicação desse protocolo “com sucesso” em dois profissionais de saúde com mastocitose sistémica e cutânea que foram pré-medicados com uma combinação de medicamentos que possibilitou a vacinação sem reações.
Explicado de forma mais corrente, os mastócitos libertam mediadores que se traduzem em comichão, no espirrar, ou no muco no nariz nos casos de rinite alérgica.
Assim, em situações de reações graves em que há uma grande ativação destas células, podem gerar-se reações muito graves como é o caso da anafilaxia que pode até conduzir a risco de vida.
“Para evitar riscos, em circunstâncias como cirurgias com anestesia geral ou aplicação de anestésicos locais, situações em que o doente vai estar sujeito a um grande stress, é importante que seja feito um protocolo pré-medicação para prevenir o aparecimento das reações alérgicas graves e das anafilaxias”, exemplificou Tiago Rama.
E o que foi possível perceber, segundo o médico especialista do Porto, é que aos vários cenários descritos podem acrescentar-se as vacinas.
“Para a maioria das pessoas estas vacinas, seja a da Pfizer-BioNTech, seja a da Moderna ou a da AstraZeneca ou outras que venham a surgir, são seguras. Mas há doentes, para os quais poderão ser necessárias medidas preventivas para evitar que apresentem reações”, apontou o imunoalergologista.
De acordo com Tiago Rama, a criação do protocolo surgiu porque nos primeiros dias de vacinação, logo em dezembro, no Reino Unido surgiram algumas reações alérgicas graves após administração da vacina, algo que “criou algum alarme porque inicialmente o número de vacinados não era grande e dois casos em 20 mil já é considerável”, explicou.
“Entretanto, com a vacinação em massa e com milhões de pessoas vacinadas, o que se verifica é que a incidência de reações rondará os cinco a dez casos por cada milhão de vacinas administradas”, acrescentou.
Este protocolo pré-medicação, “transversal” às várias vacinas contra a covid-19 já desenvolvidas, traduz-se numa combinação de medicamentos, podendo ser “aligeirada”, mas o objetivo é “transmitir confiança”.
“Pode não se revelar necessário que os doentes [com mastocitose e patologias de ativação mastocitária a vacinar] façam muitos medicamentos. Mas [o protocolo] serve para permitir que os doentes façam as vacinas em segurança”, frisou o especialista.
Tiago Rama acrescentou que além da publicação deste artigo na “revista com maior fator de impacto na área da alergologia”, a título mais doméstico, estes especialistas têm conversado com colegas e dado conta deste estudo.
(Artigo corrigido às 13:58 de 28 de janeiro — retifica, no título, que se trata de pessoas com mastocitose e não com alergias, como se lia numa versão anterior deste texto)
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