O presidente da República diz que a preocupação com Lisboa continua e pede dados mais finos sobre os casos de covid-19. Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas no final da reunião do Infarmed.

O chefe de Estado, primeiro-ministro, presidente da Assembleia da República, líderes partidários, patronais e sindicais reuniram-se hoje pela décima vez com especialistas para avaliar a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal, no Infarmed, em Lisboa.

O presidente da República anunciou ainda que o primeiro estudo serológico sobre a imunidade da população portuguesa em relação ao novo coronavírus "estará pronto no final de julho".

Em declarações aos jornalistas, no final da décima reunião sobre a evolução da covid-19 em Portugal, no Infarmed, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que "se seguirão um estudo a cinco meses e sucessivos estudos de três em três meses".

"Também foi dado conta de um estudo epidemiológico que levará mais longe o aprofundamento da comparação da situação socioeconómica e de atividades socioeconómicas entre as várias regiões", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa considerou que estes são "dois estudos muito importantes, o de saber qual é o grau de imunização da sociedade portuguesa e o de ir mais longe na análise da realidade epidemiológica, que estão em curso".

O chefe de Estado referiu que o indicador de transmissão do novo coronavírus baixou e "o R nacional encontra-se em 0,8, no último cálculo, e na região de Lisboa e Vale do Tejo em 0,7". A Presidência da República esclareceu posteriormente que os números corretos são um R de 0,98 no conjunto do país e de 0,97 na região de Lisboa.

"Olhando para os últimos dias o que foi dito é que há uma estabilização e uma tendência, embora ligeira, de aparente descida, porventura fruto das medidas tomadas, sendo embora muito cedo para fazer uma avaliação definitiva", relatou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República frisou a mensagem de que se "passou do plano macro para o plano micro" na resposta à covid-19 e se está agora numa fase "preocupação crescente com a intervenção no terreno", feita "de forma localizada e específica", em Portugal, como noutros países.

"Noutros países, chega-se a fábricas, a ruas, a quarteirões, a bairros, chega-se a formas de intervenção muito micro, e em que naturalmente os responsáveis políticos e administrativos e autoridades sanitárias estarão mais presentes ainda no terreno", apontou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "a região de Lisboa e Vale do Tejo mereceu uma atenção particular" nesta sessão e os especialistas consideraram "que a coabitação é o fator mais importante em termos de explicação causal dos surtos surgidos, logo seguida da convivência social, que tem vindo a ganhar importância".

Quanto à capacidade de internamento no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o chefe de Estado disse que "há dados interessantes, como seja que o tempo mediano de internamento está hoje entre os 10 e 11 dias no internamento geral e os 17 e os 19 dias nos cuidados intensivos".

Perante estes dados, "para um cenário que se pode considerar relativamente pessimista de 388 casos diários novos, haveria um número de internados em média de 39, e um cálculo de total de 607 em internamento global e 91 cuidados intensivos", prosseguiu.

"Isto é, bem dentro da capacidade global do SNS", concluiu o Presidente da República.

Estudo afasta ligação entre comboios e novos casos na região de Lisboa

Um estudo apresentado hoje no Infarmed parece afastar uma ligação determinante entre o transporte ferroviário e os novos casos de covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo, afirmou hoje o Presidente da República.

"Foi apresentado um estudo que parece demonstrar que não há ligação entre o transporte ferroviário, isto é, por comboio, as linhas no quadro desta região, e o surto pandémico. É um dado novo que não era conhecido, mas que foi estudado de forma quantificada", afirmou.

O chefe de Estado referiu que "a região de Lisboa e Vale do Tejo mereceu uma atenção particular" nesta sessão e, no retrato dessa situação, foi assinalado "o peso que veio a ganhar ao longo das últimas semanas" a população que tem entre 20 e 30 anos.

Segundo Presidente da República, os especialistas consideram "que a coabitação é o fator mais importante em termos de explicação causal dos surtos surgidos, logo seguida da convivência social, que tem vindo a ganhar importância".

No que respeita ao transporte ferroviário, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que o estudo apresentado mostra que "linhas que à partida se consideraria de risco maior" para a propagação da doença representam afinal um risco "escassíssimo" e não constituem "um fator causal determinante ou decisivo".

Reuniões no Infarmed chegam ao fim

O Presidente da República anunciou hoje que as sessões com especialistas e políticos no Infarmed terminaram, pelo menos para já, e defendeu que este foi um exercício de transparência sem paralelo que valeu a pena.

"Terminamos hoje uma experiência de vários meses, iniciada no final de março em pleno estado de emergência", declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, no final da décima reunião sobre a evolução da covid-19 em Portugal, no Infarmed.

Sem querer "fazer profecias sobre o que será necessário em termos de futuros encontros como este", o chefe de Estado fez um balanço destas dez sessões, que se realizaram por iniciativa do primeiro-ministro, António Costa, afirmando que a sua realização periódica foi "muito importante".

"Permitiu um contacto aberto entre especialistas e decisores políticos, foi uma experiência única não verificada em nenhum outro país europeu e, que saiba, em nenhum outro país no mundo. Facilitou a convergência e a unidade de análise, de troca de pontos de vista e até a convergência na decisão, fundamental durante o estado de emergência e na transição para o estado de calamidade", considerou.

Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que esta iniciativa "mostrou uma transparência total, ao ponto de o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro saberem à entrada das sessões exatamente o mesmo que sabiam os outros participantes, nomeadamente os conselheiros de Estado e os representantes dos vários partidos políticos com assento parlamentar".

"É o máximo da transparência que se pode imaginar num exercício destes. Portanto, valeu a pena fazer esse exercício", defendeu.

Segundo o Presidente da República, "o exercício conhece agora o fim de uma fase" porque "há estudos fundamentais que estão a ser feitos e que irão ser concluídos nas próximas semanas ou nos próximos meses, epidemiológicos e serológicos", porque "há convicção da estabilidade da situação da sua durabilidade" em Portugal e porque a resposta à covid-19 está a passar "do plano macro para o plano micro".

"Por todos estes motivos, parece sensato encerrar esta fase, que corresponde a um modelo que cumpriu a sua missão, mas que o tempo mostrou que é um modelo que tem de ser reajustado para novas circunstâncias", sustentou.

Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu "a quem teve a ideia" de realizar estas reuniões, "o primeiro-ministro e o Governo", e também a todos os que as apoiaram e contribuíram para que fossem um "momento de esclarecimento e de debate aberto como não ocorreu a nenhuma outra democracia".

"Eu penso que valeu a pena este exercício, que o país ganhou com ele", reiterou.

Confrontado com a opinião manifestada pelo presidente do PSD, Rui Rio, de que estas sessões no Infarmed começavam "a ter pouca utilidade", o chefe de Estado respondeu que "várias pessoas, nomeadamente participantes, chegaram à mesma conclusão" de que se estava num momento de transição "e que, portanto, o modelo pensado para há quatro meses", quando Portugal adotou as primeiras medidas de combate à covid-19, "precisava de ser descontinuado, fechando um ciclo e naturalmente ponderando em tempo oportuno a abertura de outro ciclo".

O presidente do PSD, Rui Rio, considerou em entrevista ao Porto Canal, divulgada no sábado, que estas reuniões no Infarmed deveriam “dar uma fotografia objetiva e curta” da situação, seguida de “conselhos técnicos”.

Marcelo Rebelo de Sousa realçou que no final destas reuniões "todos os que queriam falavam" à comunicação social e que o seu conteúdo era objeto "da revisitação, da releitura daquilo que tinha ocorrido, pelos participantes e por aqueles que não tinham participado".

"De alguma maneira, isso transformou vários setores da sociedade portuguesa em participantes nesta reunião", observou.

À saída do encontro de hoje, o deputado André Ventura, porém, disse que não foi avisado de que esta era a última reunião, tendo-o percebido apenas quando o presidente da República falava à imprensa. O representante do Chega descreveu que, normalmente, a reunião terminava com o primeiro-ministro a marcar a data da próxima sessão, algo que não aconteceu desta vez.

Para o líder demissionário do Chega apontou que “é de estranhar que, poucos dias depois de o presidente do PSD ter referido que estas reuniões estavam a ter cada vez menos importância, o Governo tenha decidido, também ele, terminar com estas reuniões e, aparentemente, sob a passividade enorme do Presidente da República”.

“Não foi inocente nada disto que aconteceu”, atirou André Ventura, falando num “alinhamento estruturado” para “controlar a informação, a gestão e a divulgação do que se passa sobre esta pandemia”.

O dirigente disse não ter sido informado de forma “oficial” que esta tinha sido a última destas reuniões, e que soube quando se apercebeu de que não tinha sido marcada a próxima reunião, como era habitual, e quando ouviu o Presidente da República falar aos jornalistas à saída.

Também em declarações aos jornalistas no final da décima reunião sobre a evolução da covid-19 em Portugal, o vice-presidente do CDS-PP António Carlos Monteiro destacou a importância destes encontros pela partilha de “informação em primeira mão” e por permitir aos partidos tirarem dúvidas junto dos técnicos.

“Lamentamos que estejam a acabar com as reuniões numa altura em que a crise de saúde pública não acabou”, afirmou o centrista, advogando que “foram fundamentais para construir uma unidade em torno do combate a esta doença”.

O dirigente do CDS considerou também que esta decisão pode ser justificada pelo facto de, numa destas reuniões, “os especialistas terem contrariado as teses do senhor primeiro-ministro e, aliás, uma dessas especialistas já nem esteve nesta reunião” e pelas palavras do presidente do PSD, que disse que estas reuniões “começam a ter pouca utilidade”.

António Carlos Monteiro defendeu que “não é com menos informação que o problema se resolve, muito menos quando essa informação foi dada e contrariou aquilo que eram as teses que estavam a ser defendidas por alguns políticos”.

O democrata-cristão deixou ainda um apelo para que a informação sobre a evolução da covid-19 “continue a ser fornecida aos partidos” e para que “seja ponderada no futuro a reativação” destas reuniões.

Sobre a evolução da pandemia, o CDS assinalou que “não existe nenhum milagre português”, uma vez que, “em número de contágios por milhão de habitantes”, Portugal “fica apenas atrás da Suécia” em termos europeus, país “que não fez qualquer confinamento”.

Por isso, António Carlos Monteiro considerou que o problema “é muito sério, porque os portugueses pagaram o preço do confinamento em falências e desemprego” mas “não houve o efeito desejado” ao nível do combate à pandemia, falando em “frustração”.

O dirigente alertou ainda para as dificuldades do setor do turismo quando Portugal foi colocado “na lista negra”, pedindo ao Governo que tome “medidas para acompanhar este setor”.

A Iniciativa Liberal lamentou igualmente o fim das reuniões: "para nós, é também bastante lamentável que as reuniões terminem. Nós apontámos diversas falhas na forma da reunião, na eficiência da organização. O objetivo devia ser melhorar as falhas, nunca terminar com estas reuniões, porque estas reuniões cumpriram e cumprem ainda um papel bastante diversificado", sustentou Carla Castro, da comissão executiva da Iniciativa Liberal.

A dirigente salientou que a situação epidemiológica do país ainda "não está solucionada", que o governo e as autoridades de saúde não podem isolar o facto de este ainda ser "um grande período de incerteza" e que as reuniões tinham ainda um importante papel de escrutínio do trabalho realizado na gestão da pandemia.

"É com bastante pesar que vemos o fim destas reuniões e que ficamos com alguma expectativa de que possam no futuro ser retomadas", adiantou ainda Carla Castro, alertando que a situação "ainda não está controlada" e criticando a "atuação demorada" do governo na gestão da pandemia.

PCP e PEV esperam que reuniões regressem e apontam tendência de estabilização

PCP e PEV destacaram hoje uma "tendência de estabilização" da evolução da pandemia e lamentaram o fim das reuniões com epidemiologistas, destacando a sua importância para a tomada de decisão política.

No final da décima e última reunião com epidemiologistas no Infarmed, em Lisboa, Jorge Pires, da comissão política do PCP, admitiu que a decisão tenha tido por base a opinião do presidente do PSD, Rui Rio.

Saudando os técnicos e especialistas que “prestaram um grande serviço” ao longo destes meses, o dirigente comunista contrapôs que as reuniões “tiveram uma importância extraordinária”, frisando que “o conhecimento científico é fundamental” para a tomada de decisão política e afirmou esperar que possam regressar.

“É importante retomar mesmo que seja mais à frente, se não for assim só ficamos com informação que nos é dada na Assembleia da República ou pela comunicação social com todos os inconvenientes que isso traz”, considerou.

No mesmo sentido, Dulce Arrojado, do PEV, sublinhou a “importância das reuniões” que, defendeu, “deviam continuar” para que seja possível aos responsáveis políticos tomar as decisões com base nos dados técnicos e sistemáticos.

Sobre os dados que hoje foram transmitidos no Infarmed, Dulce Arrojado, tal como Jorge Pires, disse que se verifica uma tendência de estabilização dos casos e frisou que o atual momento exige que não se baixe a guarda, advertindo que nos locais de trabalho devem ser asseguradas todas as condições de higiene e segurança.

O dirigente comunista refutou por seu lado a “diabolização da estrutura de saúde pública” por parte de pessoas “com responsabilidades partidárias”, frisando que a situação daquela estrutura, considerada “há muitos anos o parente pobre do Serviço Nacional de Saúde”, não é de agora.

Jorge Pires desafiou os mesmos responsáveis partidários a aprovar, no parlamento, propostas do PCP para o reforço daquela estrutura, declarando que “não basta vir dizer mal” e depois votar contra medidas concretas.

Quanto à situação de Lisboa e Vale do Tejo, Jorge Pires frisou que os dados demonstram que "é abusivo" dizer que "há um problema" em toda a Área Metropolitana de Lisboa, considerando que "o problema está concentrado em cinco dos 50 concelhos" e que "mesmo assim há uma tendência de estabilização".

PS defende que indicadores de contágio estão nos níveis previstos e confiança aumenta

O secretário-geral adjunto do PS defendeu hoje que os indicadores de contágio da covid-19 estão dentro dos níveis previstos quando se avançou com o processo de desconfinamento e que a confiança dos portugueses está a aumentar.

Perante os jornalistas, o "número dois" da direção dos socialistas disse que os dados divulgados "mostram que Portugal continua a ser um dos países com maiores níveis de confinamento" e, por outro lado, que se "assiste a uma estabilização na generalidade do território nacional, embora se registem focos de contágio que estão a ser objeto de uma verificação, avaliação e controlo adequado por parte das autoridades de saúde".

"O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem capacidade de resposta para a procura que se tem vindo a verificar, quer das unidades hospitalares, quer das próprias unidades de cuidados intensivos. Manifesta-se aliás um aumento significativo da confiança dos portugueses no recurso aos cuidados primários de saúde, o que é importante", salientou José Luís Carneiro.

De acordo com o secretário-geral adjunto do PS, o indicador de contágio está em 1,09 na região Norte, em 1,08 na região Centro, em Lisboa e Vale do Tejo em 0,97, no Alentejo em 0,86 e no Algarve em 0,77.

Em síntese, na perspetiva de José Luís Carneiro, "está nos níveis previstos quando se avançou com o desconfinamento, o que dá segurança em relação ao que tem sido feito".

"Os estudos que foram apresentados por parte da saúde pública e da Escola Nacional de Saúde Pública ilustram que os indicadores de confiança no modo como se tem processado o desconfinamento têm vindo a aumentar. Os portugueses estão a sair mais das suas casas porque confiam no desconfinamento. Contudo, a observância de todas as regras, atitudes e comportamentos deve continuar", advertiu.

O secretário-geral adjunto do PS defendeu ainda que está a ser dada uma resposta em termos de "seletividade de medidas" na região de Lisboa e Vale do Tejo, embora haja dificuldades já reconhecidas.

"As medidas seletivas, dos pontos de vista do isolamento e do apoio social, estão produzir os seus efeitos na região de Lisboa e Vale do Tejo", acrescentou.

Após a última reunião, há duas semanas, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que habitualmente faz uma síntese das conclusões aos jornalistas, relatou que vários especialistas recomendaram a opção por “medidas concretas e específicas para áreas geográficas também específicas”, ao “nível de freguesia”, em vez de “medidas genéricas”.

O chefe de Estado considerou que esse foi “um dos pontos mais interessantes” dessa sessão, e afastou cenários de descontrolo da propagação da doença em Portugal e de rutura ou pré-rutura do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Entretanto, o Governo tomou decisões nesse sentido, colocando a generalidade do território nacional em situação de alerta devido à pandemia de covid-19, com exceção da Área Metropolitana de Lisboa, onde 19 freguesias continuaram em situação de calamidade e as restantes passaram a contingência.

Nestas sessões no Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, em Lisboa, participam ainda, por videoconferência, os conselheiros de Estado.

A pandemia de covid-19, doença provocada por um novo coronavírus detetado em dezembro do ano passado no centro da China, atingiu 196 países e territórios e já fez mais de 500 mil mortos a nível global, segundo a agência de notícias francesa AFP.

Em Portugal, os primeiros casos foram confirmados no dia 02 de março e até agora morreram 1.629 pessoas num total de 44.416 contabilizadas como infetadas, de acordo com o relatório de terça-feira da Direção-Geral da Saúde (DGS).