O Santuário de Fátima recebe em 2022 a primeira peregrinação sem as restrições impostas pela pandemia de covid-19 e, a uma semana do 13 de maio, são muitos os peregrinos que estão na estrada.
“Sabe tão bem chegar a Fátima a pé, é uma coisa que não tem explicação. O chegar a pé ou de carro é completamente diferente”, afirmou à agência Lusa Maria Preciosa, de 73 anos e que cumpre a 20.ª caminhada até ao santuário, no distrito de Leiria.
Depois do descanso, garante que no dia seguinte já está prontinha para andar outra vez. “Aquilo que passamos já não dói. É bom, sabe bem, todas as pessoas deviam ir pelo menos uma vez na vida a pé a Fátima”, salientou a septuagenária natural de Galegos (Vale de Nogueiras), por onde todos os dias caminha.
O grupo fez-se à estrada dois anos depois, por causa da pandemia de covid-19 e segue viagem sem carro de apoio. Na mochila vai o mínimo: roupa, sacos-cama, produtos de higiene, água e alimentação.
“Levamos o mínimo, é uma experiência diferente”, disse Maria Preciosa, que garantiu que, este ano, tinha mesmo que fazer a peregrinação.
O padre João Costa, 47 anos, é o guia do grupo que saiu esta manhã da aldeia de Nogueira, desceu por vinhas e socalcos até ao ramal da antiga Linha Ferroviária do Corgo e subiu à estrada ao chegar à Régua.
Todos os anos faz duas peregrinações, uma a Fátima e outra a Santiago de Compostela (Espanha) e, em 2022, resolveu propor uma viagem só com a mochila às costas, de maior “simplicidade”.
“Pensava que eram só quatro ou cinco, mas afinal o grupo é tão grande ou maior do que das outras vezes”, salientou João Costa, que foi missionário no Congo e Chade e é, agora, pároco em Nogueira, Andrães e Vale de Nogueiras.
Ao todo são 24 pessoas, de diferentes idades e diferentes motivações, todas elas, segundo o sacerdote, “muito sagradas, fortes e pessoais” e que fazem com que as “dificuldades do caminho sejam ultrapassadas”, seja o calor ou as dores no corpo.
O pároco destacou a preparação da mochila como um aspeto importante da própria peregrinação.
“Fazer escolhas, pensar em deixar coisas para trás, perceber que se pode caminhar com muito pouco. Uma das intenções da nossa peregrinação é também pela paz na Ucrânia e por todos os refugiados que têm que partir com quase nada. Também é uma experiência de comunhão com os mais frágeis da sociedade e que têm muito pouco”, referiu.
Frisou que “fazer escolhas é muito importante”, principalmente na atual sociedade de consumo.
A jornada de hoje tem à volta de 50 quilómetros e a dormida será perto de Castro Daire, numa pensão. Seguem sem horários rígidos e em maior liberdade para “saborear cada momento”.
“A peregrinação é um tempo diferente, percorre os passos e um ritmo mais humano, mais espiritual, em comunhão connosco, uns com ou outros e a natureza”, salientou João Costa.
A chegada a Fátima está prevista para quarta-feira, para a procissão das velas, percorrendo uma média de cerca de 40 quilómetros diários e pernoitando em dormitórios.
Para Elisabete Lagoa, 49 anos, esta é a primeira peregrinação e é uma viagem que faz pela fé e pelo desafio que lhe foi lançado pelo marido, Paulo Lagoa, 47 anos, que já fez o percurso a pé e de bicicleta.
Residem em São Tomé do Castelo e há cerca de dois anos que caminham todos os fins de semana, numa espécie de preparação.
“Escolhi um grupo ao qual me identifico (…). Fiz e desfiz a mochila umas três vezes antes de arrancarmos para escolher o essencial, para não pesar muito e, mesmo assim, pesa cerca de cinco quilos”, apontou Elisabete Lagoa.
Paulo disse que o seu objetivo foi conseguir levar a esposa e o filho nesta jornada. “O filho será mais complicado”, brincou.
“Identifico-me muito com o deixar tudo em casa e irmos sem nada. Faz bem fisicamente e à alma. Não faço isto por promessas, só pela fé e a chegada a Fátima é muito emotiva. Quando chegamos lá ficamos levezinhos, as dores desaparecem, as lágrimas começam a correr e é a parte que toca mesmo”, salientou.
A caminhada far-se-á o mais longe possível das estradas nacionais, por estradas secundárias, trilhos e estradões. Paulo Lagoa aproveitou para criticar a falta de sinalização em alguns troços e caminhos mal limpos.
Augusto Dias, de 65 anos e de Vila Pouca de Aguiar, acabou de fazer o percurso até Santiago de Compostela e vai a caminho de Fátima pela 11.ª vez.
“Se Nossa Senhora de Fátima me ajudar espero, logo depois, fazer outra vez o percurso para Santiago. Para mim é igual, caminhar para Fátima ou Santiago, sempre guiado pela oração e a fé”, apontou.
A chegada ao santuário é especial, mas Augusto Dias salientou que, durante o caminho, há “também muitos momentos de emoção”.
Depois de nove anos a ir ao Santuário de Fátima, este ano Marina Araújo, 42 anos, não pode fazer a peregrinação por causa do trabalho e, por isso, decidiu oferecer o pequeno-almoço aos peregrinos do grupo do padre João Costa.
Foi à chegada ao Peso da Régua que o grupo foi surpreendido e foi junto à ponte metálica que comeu, atravessando, depois, o rio Douro para prosseguir a peregrinação.
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