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"Retire o seu dinheiro.” A frase é familiar a qualquer português que já tenha usado uma caixa Multibanco. Mas, a partir de hoje, soa diferente: pela primeira vez, é uma voz gerada por inteligência artificial que acompanha os utilizadores. A mudança coincide com a celebração dos 40 anos desta rede que, desde 1985, transformou a vida financeira dos portugueses.
O Multibanco nasceu a 2 de setembro de 1985 com apenas nove máquinas: a primeira em Lisboa, no Banco Nacional Ultramarino (BNU) do Rossio, e a segunda no Porto, no Banco Borges & Irmão (BBI), na Rua do Bonjardim. Nos primeiros tempos, permitia apenas levantamentos, consultas de saldo e alteração do PIN.
Ao longo das décadas, tornou-se uma das maiores inovações nacionais no setor financeiro. Modernizou o acesso aos serviços bancários, aproximou os cidadãos do sistema financeiro e rapidamente passou a fazer parte da identidade do dia a dia.
Contudo, nem sempre foi tão acessível como hoje: nos primeiros meses, as caixas estavam indisponíveis entre a 1h00 e as 7h00 da manhã. Só mais tarde passaram a funcionar 24 horas por dia, permitindo algo hoje banal: levantar dinheiro a qualquer hora.
Um símbolo português que se tornou um exemplo
A história do Multibanco é também a história da sua expansão. Em 1989, os portugueses começaram a pagar contas diretamente no terminal. Em 1992, chegaram as transferências bancárias através do Número de Identificação Bancária (NIB). E em 1997, Portugal tornou-se pioneiro mundial ao lançar os cartões de telemóvel pré-pagos, cujo carregamento podia ser feito numa caixa Multibanco.
O momento da transição para o euro também ficou marcado pela rede. Segundo o jornal Expresso, o primeiro levantamento em euros foi feito nos primeiros 15 segundos de 2002. Nos três dias seguintes, foram levantados quase 111 milhões de euros em quase dois mil milhões de operações.
Quarenta anos depois, a rede conta com cerca de 13 mil terminais espalhados pelo país e oferece mais de 90 operações diferentes, do pagamento de serviços às transferências, dos carregamentos de telemóveis aos pagamentos ao Estado. Só em 2024 foram registadas 694 milhões de operações, mais de metade digitais, sem levantamento de numerário.
“Há 40 anos nascia o primeiro grande motor de inovação e digitalização em Portugal. Hoje a Rede Multibanco continua presente diariamente na vida dos portugueses, muito graças à sua inovação, conveniência e simplicidade”, afirma, em comunicado enviado às redações, Madalena Cascais Tomé, CEO da SIBS, empresa responsável pela rede.
Portugal destacou-se também além-fronteiras. Um estudo da Associação de Pagamentos do Reino Unido (APACS) de 2008 revelou que, já em 2006, o Multibanco era o sistema mais funcional da Europa, com mais de 60 operações possíveis, muito acima de países como França ou Noruega, onde as caixas se limitavam a levantamentos. Nessa altura, Portugal contava com cerca de 1.690 máquinas por milhão de adultos, um rácio que colocava o país na dianteira europeia.
Inovação, mas também inclusão
Apesar do tom de celebração, o 40.º aniversário do Multibanco também levanta alertas. Em comunicado enviado às redações, a Denária Portugal, associação que defende o direito à utilização de numerário, recorda que 1 276 freguesias continuam sem qualquer caixa automática. Isso significa que mais de 740 mil pessoas vivem em verdadeiros “desertos de numerário”, sobretudo no interior, onde a população é mais envelhecida e o acesso a serviços bancários mais limitado.
“Esta infraestrutura é fundamental para garantir que todos os cidadãos, independentemente da sua localização ou situação socioeconómica, mantenham acesso ao sistema financeiro e possam participar na economia”, sublinha Mário Frota, Mandatário Nacional da Denária.
Os números confirmam a relevância do numerário: segundo o Banco Central Europeu, em 2024 o dinheiro físico representou 54% das transações em pontos de venda em Portugal. Ao mesmo tempo, 7% dos consumidores dizem ter dificuldade em aceder a levantamentos, um valor em crescimento.
Quatro décadas depois, o Multibanco continua a ser um ícone nacional e um campo de debate sobre a inclusão financeira em Portugal.
*Texto editado por Ana Maria Pimentel
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