A namorada de João já está há quatro anos em Londres. Trabalha na área da saúde, uma daquelas em que existem mais quadros não-britânicos no Reino Unido. João chegou há cerca de dois anos e trabalha em consultoria na área financeira.

“Ela vai ganhar”, começa por dizer-nos o consultor português, quando questionado sobre a sua expetativa acerca das eleições desta quinta-feira. Na opinião de João, Theresa May, atual primeira-ministra e líder dos Tories, partido Conservador britânico, sairá vencedora. Contudo, May não é a sua preferência. “Preferia que ganhasse o Jeremy Corbyn [líder do Partido Trabalhista]”, continua, “mas ele tem um grande problema: falta-lhe personalidade. Apesar de se conseguir ligar mais às pessoas do que ela, que tem aquela expressão de pessoa fria que não se consegue ligar ao cidadão comum, ela vai conseguir ganhar as eleições porque simplesmente conseguiu ganhar mais credibilidade junto das pessoas”, justificando tal facto com a atuação de Theresa May em face dos últimos incidentes terroristas em Manchester e Londres e das suas posições mais rígidas em relação à imigração.

Quando incitado a comentar as mais recentes sondagens, que parecem mostrar uma recuperação de Corbyn, ameaçando a vitória de May, João desvaloriza-as perentoriamente — “as sondagens para mim perderam todo o valor depois do Brexit e das eleições americanas” ­—, admitindo, ainda assim, que não percebe o porquê da subida do líder do Labour nos mais recentes inquéritos. E dá um exemplo. “Uma das medidas em que o Jeremy Corbyn já falou foi um aumento de impostos para quem ganha muito dinheiro. Na minha expetativa, eu pensaria que isto em Londres levaria a que o Labour caísse imediatamente nas sondagens, porque o centro londrino” sempre se mostrou contra o Brexit e, por isso, “se ainda lhes vão cobrar mais impostos”, o expectável seria um alinhamento maior com os conservadores de Theresa May. “Mas isso não está a acontecer”, prossegue. “O Labour subiu em Londres, contra as minhas expetativas, e os conservadores estão a perder [nas sondagens]”, conclui.

O líder do Labour reúne as suas preferências também porque foi o único que mostrou estar mais próximo dos atuais imigrantes no Reino Unido, apresentando medidas que visam garantir os seus direitos. “Para mim é muito mais tranquilizador perceber que a pessoa que vai estar à frente [do Reino Unido] tem como ideal manter os direitos das pessoas que cá estão”, confidencia. “Não posso viver nesta incerteza” de poder ter de sair do país, refere, apesar de considerar que o Reino Unido só tem “lucro” consigo. “Não pagaram a minha educação, em termos de saúde eu não dou despesa (felizmente), todos os meses desconto para a segurança social e pago os meus impostos e ainda pago renda e consumo”, prossegue.

Ainda assim, o emigrante português mostra-se pouco convicto na capacidade de Corbyn vencer. “Ele não consegue criar afinidade com as pessoas. Faz-me lembrar o Pedro Passos Coelho: cheio de boas intenções mas depois com aquele discurso de pessoa que percebe exatamente as dores que tu passas no dia-a-dia quando, na realidade, ele provavelmente nunca as passou”. Na verdade, continua João, “apesar de ele [Corbyn] parecer um tipo que tem as ideias ‘certas’, não tem apoio. Nem dentro do próprio partido tem apoio”, pelo que a sua ascensão ao poder no Reino Unido provavelmente “nunca iria funcionar”.

Quanto a May, apesar de não ser a sua escolha, João reconhece-lhe inteligência na tomada de decisão acerca da marcação destas eleições. “Ela precisa de legitimidade para tomar decisões relativamente ao Brexit”, algo que é difícil que conseguir quando se substitui alguém que se demite, como foi o caso de David Cameron. “Precisa de legitimidade política”, refere.

O Brexit que, segundo o consultor português, tem raízes fortes na antipatia que muitos britânicos sentem pela forma como os imigrantes recebem benefícios do Estado. Na prática, segundo João, o Reino Unido foi “inundado” de imigrantes ilegais, que foram acolhidos e a quem foram dados benefícios, nomeadamente habitação e subsídios financeiros. O que acontece é que, na sua opinião, essas pessoas foram acolhidas mas acabaram por não ser educadas e integradas de forma a não viverem à custa desses mesmos benefícios, dando o exemplo de um programa de TV em que várias pessoas, britânicas ou não, mostram “orgulho” por viver à custa do Estado. “Isso irrita os britânicos”, enfatiza.

Voltando às eleições, João considera que os recentes atentados terroristas em Manchester e Londres vieram “ofuscar” o escrutínio desta quinta-feira, algo que beneficiará, na sua opinião, a atual primeira-ministra. Mesmo tendo em conta as recentes notícias que vieram a público, na qual May é apontada como a responsável pela execução de alguns cortes nas forças policiais britânicas. E assume também que “agora a ‘quente’, se um dos candidatos assumir uma posição mais rígida relativamente ao terrorismo”, tal pode levar a mudanças na intenção de voto dos eleitores britânicos. É o “medo” é o principal responsável por isso, termina.