Em carta escrita pelo presidente da universidade, Christopher Eisgruber, e publicada no sítio oficial da internet da mesma, pode ler-se que o “conselho de administração concluiu que as opiniões políticas e racistas de Wilson o tornam num nome inadequado para uma escola ou faculdade cujos académicos, estudantes e ex-alunos devem posicionar-se firmemente contra o racismo, em todas as suas formas”.
Eisgruber recordou ainda o episódio de novembro de 2015, quando um grupo de estudantes ocupou o seu escritório exigindo a remoção do nome de Wilson, o que levou a um processo investigativo por parte do Comité de Revisão do Legado de Wilson e que em 2016 recomendou “uma série de reformas para tornar a Universidade mais inclusiva e honesta” sobre a sua história, mas o comité e a administração decidiram manter o nome do Presidente.
“O conselho reconsiderou essas conclusões este mês, quando os trágicos assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor, Ahmaud Arbery e Rayshard Brooks chamaram atenção renovada para a longa e danosa história do racismo nos Estados Unidos”, escreveu, acrescentando manter o respeito pelo processo e relatório elaborado pelo comité.
Esse respeito incluiu a descrição do registo histórico de Woodrow Wilson e da “presunção que os nomes adotados pelos membros do conselho após uma deliberação longa e cuidadosa vão permanecer em vigor, especialmente quando razões originais para a adoção do nome permanecem válidas”, mas que neste caso essa presunção “deve ceder” devido às políticas racistas de Wilson.
“O racismo de Wilson foi significativo e consequente, mesmo para os padrões desse tempo. Ele segregou o serviço público federal depois de ter estado integrado racialmente durante décadas, levando assim os Estados Unidos na direção contrária pela busca da justiça. Ele não apenas concordou, mas acrescentou à prática persistente do racismo neste país, que continua a causar danos nos dias de hoje”, sublinha o documento.
Por isso mesmo, as políticas de Wilson fazem dele um nome “especialmente inapropriado para uma escola de políticas públicas”, já que quando uma universidade dá o nome de um líder político a umas instalações “sugere que o homenageado seja um modelo” para quem lá estuda e que “o momento devastador da história americana torna claro que o racismo de Wilson o desclassifica desse papel”.
“Estas conclusões podem parecer duras para alguns. Wilson refez Princeton, convertendo-a de uma faculdade adormecida para uma grande universidade de pesquisa. Muita das virtudes que distinguem Princeton foram, em parte significativa, o resultado da liderança de Wilson. Ele depois foi para a presidência e recebeu um Prémio Nobel. Parte da nossa responsabilidade como Universidade é preservar o legado histórico de Wilson em toda a sua considerável complexidade”, continuou.
Eisgruber invocou ainda algumas figuras históricas, como o general Robert E. Lee ou o vice-presidente John C. Calhoun, para fazer um paralelismo com o culto de figuras envolvidas em racismo e referir que Princeton honrou Wilson “não por causa disso, mas sem levar em consideração ou talvez até por ignorar, o seu racismo”.
“Princeton faz parte de uns EUA que muitas vezes desconsideraram, ignoraram ou desculparam o racismo, permitindo a persistência de sistemas que discriminam contra pessoas negras. Quando Derek Chauvin se ajoelhou nove minutos no pescoço de George Floyd enquanto espectadores o gravavam, talvez ele tenha presumido que o sistema o desconsiderasse, ignorasse ou desculpasse a sua conduta, como havia feito em queixas anteriores”, apontou.
Woodrow Wilson esteve dois mandatos na presidência dos Estados Unidos, entre 1913 a 1921, e liderou o país durante a I Guerra Mundial.
George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.
Desde a divulgação das imagens nas redes sociais, têm-se sucedido os protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas e em todo o mundo, exigindo a remoção de estátuas de figuras controversas.
Os quatro polícias envolvidos foram despedidos, e o agente Derek Chauvin, que colocou o joelho no pescoço de Floyd, foi acusado de homicídio em segundo grau, arriscando uma pena máxima de 40 anos de prisão.
Os restantes vão responder por auxílio e cumplicidade de homicídio em segundo grau e por homicídio involuntário.
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