Num frente-a-frente na RTP 3, de cerca de 30 minutos, Rangel e João Ferreira começaram por discordar sobre os eventuais benefícios da adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, em 1986.
“Portugal ganhou muito com a adesão, aumentou a sua importância em termos globais (…). Talvez não tenha aproveitado bem a grande oportunidade dada pela moeda única”, admitiu o candidato do PSD.
Já João Ferreira considerou que “os milhões” que o país recebeu “nunca compensaram verdadeiramente o impacto nos setores produtivos”, nomeadamente da agricultura e das pescas.
“Entram 10 milhões de euros de fundos, mas saem 20 milhões de euros de juros”, criticou.
Durante o debate, ambos foram trocando argumentos ideológicos, com Paulo Rangel a acusar João Ferreira de defender “o modelo da Venezuela”, de isolacionismo, ou de preferir a União Soviética à União Europeia.
“Se alguma consequência teve a integração europeia foi isolar Portugal em termos relativos, os nossos parceiros comerciais reduziram-se”, contrapôs o cabeça-de-lista da CDU, crítica contestada por Rangel.
O candidato do PSD acusou João Ferreira de “em 90% dos votos no Parlamento Europeu votar ao lado da extrema-direita”, o que foi classificado por João Ferreira como “rigorosamente mentira”.
Apenas em matéria de impostos europeus ambos os cabeças-de-lista concordaram na sua rejeição, com o candidato do PSD a distingui-los de taxas europeias, que considera poderem ser criadas na área financeira e sobre as plataformas digitais, desde que aprovadas de forma unânime por todos os Estados-membros.
Se no capítulo das relações comerciais com outros blocos económicos, Rangel admitiu preocupação com o investimento da China em Portugal, por as grandes empresas serem controladas pelo Estado (mas sem defender a sua proibição) e João Ferreira acusou o PSD de ser responsável pela entrega “ao grande capital estrangeiro” de empresas estratégicas portuguesas.
Na política migratória, os dois candidatos defenderam uma melhor política de integração, embora João Ferreira tenha responsabilizado as políticas europeias pela criação de instabilidade em países com a Síria ou a Líbia, de onde vêm muitos migrantes.
Já Rangel fez questão de distinguir refugiados – para quem defende um “acolhimento mais decente” – dos migrantes económicos, que os países devem decidir se têm capacidade de integrar e em que número.
A política nacional passou quase ao lado deste frente-a-frente e apenas nos últimos minutos, a propósito do crescimento dos populismos, João Ferreira destacou que Portugal foi “ao arrepio da União Europeia” na atual legislatura em matérias salariais e de regulação laboral.
“Nos últimos quatro anos, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está muito pior do que estava, o investimento público baixíssimo, a maior carga fiscal de sempre”, respondeu Rangel, acusando o PCP de ser também responsável por esta política, por apoiar a atual solução governativa.
Na resposta, João Ferreira acusou o PSD de ter “um problema de descolamento entre o discurso e a realidade”, apontando que foi no anterior executivo que “se cortaram três mil milhões no SNS e se fez o maior despedimento coletivo na educação”.
“O Paulo Rangel é do partido de Passos Coelho”, afirmou o candidato da CDU, num debate em que ambos os eurodeputados continuaram a trocar argumentos já depois de a moderadora Cristina Esteves dar o tempo como terminado.
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