“O sequestro foi um grave erro do qual apenas temos de nos arrepender”, declarou num comunicado hoje divulgado a direção desta formação que se tornou num partido político designado Força alternativa revolucionária comum.
Este foi o mais expressivo pedido de perdão feito pela ex-guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) desde a assinatura em 2016 de um acordo de paz com o Governo.
A antiga guerrilha marxista, fundada em 1964 e uma das mais poderosas da América Latina, reconheceu igualmente que “os sequestros (…) feriram de morte” a “legitimidade e a credibilidade” da sua rebelião armada contra o Estado colombiano.
“Este fardo (…) ainda pesa hoje na consciência e no coração de cada um de nós”, acrescentou o comunicado.
A ex-guerrilha responde pelos seus atos perante um tribunal especial criado pelo acordo de paz que permitiu a desmobilização de cerca de 13.000 rebeldes das FARC, incluindo 7.000 combatentes.
A Justiça Especial para a Paz (JEP) investiga mais de 20.000 raptos perpetrados pelas FARC, designadamente centenas de polícias, e personalidades políticas como a franco-colombiana Ingrid Betancourt, que permaneceu seis anos em cativeiro antes de ser libertada em 2008 durante uma operação militar.
A antiga rebelião deve também responder pelo recrutamento de milhares de crianças e adolescentes no decurso de mais de meio século de conflito armado.
Os principais chefes da ex-guerrilha comprometeram-se em confessar os seus crimes perante a JEP e a indemnizar as vítimas e suas famílias, em troca de penas alternativas à prisão. Caso não cumpram este compromisso, deverão comparecer perante a justiça comum.
Segundo os números oficiais, o complexo conflito armado na Colômbia provocou mais de nove milhões de vítimas (mortos, desaparecidos e deslocados internos).
A dissolução da guerrilha das FARC diminuiu o nível de violência na Colômbia, mas grupos armados, incluindo com ligações à extrema-direita, continuam ativos em zonas recuadas do país, alimentadas principalmente pelos recursos extraídos do narcotráfico.
Os antigos guerrilheiros das FARC e os líderes comunitários são considerados geralmente um obstáculo para estas grupos criminais, que procuram controlar os territórios também para aumentar as culturas ilegais de coca destinadas ao fabrico de cocaína.
Um relatório nas Nações Unidas divulgado no final de 2019 indicou que nesse ano foram mortos na Colômbia 77 antigos combatentes das FARC, no ano “mais mortífero” para os ex-guerrilheiros desde a assinatura do acordo de paz de 2016.
Em maio de 2020, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) revelou que nos quatro meses deste ano foram assassinados na Colômbia pelo menos 100 ativistas e líderes sociais.
O país permanece ainda confrontado com as ações armadas do Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha ativa, para além dos narcotraficantes e de formações paramilitares.
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