Desde 2011 que 14 escolas secundárias inflacionam, todos os anos, as notas internas dos seus alunos, segundo dados disponibilizados no portal Infoescolas.

Num universo de cerca de 600 estabelecimentos de ensino, a Lusa encontrou 14 casos em que repetidamente dão notas acima do que seria normal e os colégios são quem mais aplica esta prática, que pode permitir a um aluno passar à frente no acesso ao Ensino Superior: em 14 escolas, dez são privadas.

Os colégios em causa situam-se todos no norte do país, com destaque para os concelhos do Porto, onde se encontram três escolas, e os concelhos de Gondomar e Braga (ambos com duas escolas).

Olhando apenas para os resultados médios nos exames e nas notas internas no ano passado, o caso mais gritante passa-se no Colégio D. Duarte, no Porto, onde a diferença foi de cinco valores numa escala de zero a 20: a média nos exames foi negativa (9,49 valores) e a nota interna foi de 14,07.

Os outros estabelecimentos de ensino privado onde a diferença entre a nota interna e exame registada no ano passado foi de, pelo menos, quatro valores são o Colégio de Lamego, o Externato Carvalho Araújo, em Braga, o Externato Camões, em Gondomar, e o Colégio Diocesano de Nossa Senhora da Apresentação, em Vagos.

Também há um grupo de escolas privadas que inflacionam as notas e que, normalmente, surgem em destaque nos rankings pelos bons resultados dos seus alunos nos exames: o Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga, o Luso-Francês, no Porto, o Colégio Paulo VI, em Gondomar, o Externato Ribadouro, no Porto, e o Colégio da Trofa.

Na lista surgem também quatro escolas públicas que desde 2011/2012 inflacionam as notas: Escola Básica e Secundária Dr. Manuel Laranjeira, em Espinho; ES Júlio Dinis, em Ovar, ES de Fafe e a ES de Monção.

Nos últimos anos, as suspeitas de inflação de notas levaram a que fossem levantados inquéritos por parte da Inspeção Geral de Educação e Ciência. Todas as escolas em causa foram objeto de recomendações e tiveram várias intervenções de acompanhamento, por parte da IGEC.

À Lusa, o Ministério da Educação lembrou que “têm surgido novas denúncias que têm sido investigadas e foram feitas recomendações”.

Recentemente, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, lembrou um relatório, coordenado pelo antigo reitor da Universidade do Algarve, João Guerreiro, que veio defender que os alunos que frequentam escolas que sistematicamente inflacionam as notas internas podem vir a ter as suas classificações "automaticamente ajustadas" no processo de acesso ao Ensino Superior.

Segundo os dados do ME trabalhados pela Lusa, existe ainda um outro grupo de 17 escolas que sistematicamente dão notas abaixo do expetável.

Neste caso, as escolas situam-se maioritariamente na região de Lisboa e no centro do país e são quase todas públicas.

No centro do país encontram-se a Escola Secundária Dr.ª Felismina Alcântara, em Mangualde, a Escola Secundária de Arganil, a EBS da Batalha, o Colégio Rainha D. Leonor, nas Caldas da Rainha, e o Colégio Dr. Luís Pereira da Costa, em Leiria.

As restantes escolas estão todas concentradas na zona de Lisboa, sendo que só na capital há quatro: a Escola Secundária do Restelo, a ES Rainha Dona Amélia, a ES D. Pedro e a ES José Gomes Ferreira.

Em Loures há outras duas escolas que sistematicamente dão notas abaixo do esperado - o Colégio Bartolomeu Dias e a Escola Secundária Dr. António Carvalho Figueiredo - e em Cascais outras duas - a Escola Técnica e Liceal Salesiana de Stº António e a Secundária de São João do Estoril.

Em Mafra, a Escola Secundária José Saramago e o Colégio Santo André também deram notas abaixo do esperado nos últimos cinco anos.

A Escola Secundária de Mem Martins, em Sintra, e a Escola Secundária de Cacilhas-Tejo, em Almada, também se destacam nesta lista das 13 escolas públicas.