Acompanhe toda a atualidade informativa em 24noticias.sapo.pt

Jorge Pimenta, diretor de Inovação do Instituto Pedro Nunes (IPN) e coordenador da ESA Space Solutions Portugal, não hesita: “Portugal tem um lugar no setor espacial — não dentro das naves, mas nas tecnologias que as fazem funcionar.” Isto é, Portugal está a olhar para o céu, mas com os pés bem assentes na terrra.

A partir de Coimbra, o país tem vindo a construir um ecossistema onde startups, universidades e centros de investigação trabalham lado a lado em soluções que vão muito além da órbita terrestre e é exatamente sobre essa projeção internacional que se falou no Explica-me Isto desta quinzena.

“A tecnologia espacial é fundamental para tudo o que fazemos: telecomunicações, internet, GPS, agricultura, transportes, energia”, explica Jorge Pimenta. E acrescenta: “Já utilizamos o espaço todos os dias, mesmo sem nos darmos conta.” O desafio agora é aproveitar esse conhecimento para gerar valor económico e social ou usar o espaço para melhorar a vida na Terra.

Entre as áreas onde as startups portuguesas mais se destacam estão a geolocalização e a monitorização de infraestruturas. “Usamos redes de satélites para saber onde estão ativos, veículos, campos agrícolas ou linhas de comboio que precisam de manutenção”, exemplifica. Ao mesmo tempo, há empresas a trabalhar em comunicações seguras para o crescente universo de dispositivos conectados — do Internet of Things à navegação autónoma.

Do ponto de vista geopolítico, o diretor de inovação do IPN lembra que “não pode haver um número infinito de satélites em órbita” e que o domínio do espaço se tornou uma nova arena de poder entre Estados Unidos, China, Rússia e Europa. “É essencial que a Europa — e Portugal — participem nesse movimento, sob pena de ficarmos dependentes de um ou dois operadores globais.”

Portugal, aliás, está já a preparar uma constelação de satélites para monitorizar o Atlântico Norte, o que, segundo Jorge Pimenta, reforça a autonomia europeia e cria oportunidades para empresas nacionais. “Quem produz e trabalha esses dados ganha poder económico e estratégico”, diz.

Jorge Pimenta, Web Summit
Jorge Pimenta, Web Summit Diretor de Inovação IPN, coordenador do ESA Space Solutions Center Portugal Desde que o Instituto Pedro Nunes (IPN) foi eleito a melhor incubadora do mundo há 15 anos, Coimbra tem-se destacado como um polo de negócios em crescimento. créditos: MadreMedia

Outro ponto em que o país se destaca é na regulação, com “a Agência Espacial Portuguesa a ser das primeiras a criar regras para certificar satélites e assegurar que tudo é legal do ponto de vista das telecomunicações.” Mas a dimensão ética também conta: “O espaço é o limite, mas não pode valer tudo.”

No plano humano, o desafio é fixar talento. Sabendo que a engenharia aeroespacial é das licenciaturas com médias mais altas e menos vagas, “é preciso criar condições para que os jovens não partam”. Cidades como Coimbra ou Aveiro, defende, “têm qualidade de vida e ecossistemas tecnológicos capazes de reter talento.”

E há resultados. “Nos últimos 20 anos quase duplicámos o número de empresas do setor. Hoje já são mais de cem, com uma faturação conjunta superior a 100 milhões de euros.” A inovação, lembra, “não é imediatista, exige tempo e perseverança, mas os frutos começam a aparecer.”

Mesmo num contexto de instabilidade global, o otimismo mantém-se. “Os conflitos na Ucrânia ou no Médio Oriente agitam as águas, porque tecnologias civis passam a ter uso militar. Mas o espaço, apesar de tudo, continua a ser um terreno de colaboração científica e partilha de conhecimento.”

Para Jorge Pimenta, a próxima fronteira é clara: a Lua. “Temos de regressar à Lua. Não é já um desafio técnico, sabemos que é possível. O que falta é perceber como torná-la uma estação para explorarmos outros planetas.” E o que lá aprendermos, em energia, materiais, alimentação ou água, “poderá ajudar-nos a viver melhor e de forma mais sustentável na Terra.”

Há temas que dominam a atualidade, mas nem sempre são fáceis de entender. Em "Explica-me Isto", um convidado ajuda a decifrar um assunto que está a marcar o momento. Política, economia, cultura ou ciência, tudo explicado de forma clara, direta e sem rodeios. Os episódios podem ser acompanhados no FacebookInstagram e TikTok do 24notícias.

__

A sua newsletter de sempre, agora ainda mais útil

Com o lançamento da nova marca de informação 24notícias, estamos a mudar a plataforma de newsletters, aproveitando para reforçar a informação que os leitores mais valorizam: a que lhes é útil, ajuda a tomar decisões e a entender o mundo.

Assine a nova newsletter do 24notícias aqui.