No boletim climatológico de abril, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indicava que 96% do território de Portugal continental em situação de seca fraca a moderada, o que representa um aumento de 20% em relação a março.
Contactada pela agência Lusa a propósito do índice de seca, Vanda Pires, meteorologista da divisão de clima e alterações climáticas do IPMA, explicou que a ausência de precipitação e as temperaturas máximas muito elevadas agravaram muito a seca moderada no país.
“Com dois meses de seca moderada já pode haver alguns impactos a nível da agricultura, sobretudo das pastagens, das culturas de sequeiro. Se houver mais meses nesta situação poderá haver impacto ao nível hidrológico”, disse, salientando que atualmente Portugal continental pode considerar-se em seca meteorológica.
Vanda Pires explicou à Lusa que existem quatro tipos de seca: meteorológica, agrícola, hidrológica e socioeconómica.
“Temos a seca meteorológica que está diretamente ligada ao défice de precipitação, quando ocorre precipitação abaixo do que é normal. Depois, à medida que vamos avançando, em que o défice vai aumentando ao longo de dois, três meses, passamos para uma seca agrícola porque começa a haver deficiências ao nível da água no solo”, explicou.
Depois, segundo a especialista, a manter-se a situação, esta evolui para seca hidrológica, que é quando começa a haver falta de água nas barragens.
“Pode ainda haver a seca socioeconómica, que é considerada quando já está uma seca instalada, quando já tem impacto na população”, disse.
Nesta altura, início de maio, “os reflexos na agricultura, nas pastagens, das culturas de sequeiros, ainda não é grave”, salientou Vanda Pires.
“Contudo, por já se sentir algumas necessidades, o ministro da Agricultura decidiu criar uma comissão para analisar os impactos e as deficiências”, disse.
Esta comissão permanente foi aprovada na quinta-feira em Conselho de Ministros, com o objetivo de prevenir, monitorizar e acompanhar os efeitos da seca para elaborar um plano de contingência e estabelecer eventuais medidas preventivas.
De acordo com Vanda Pires, para haver um desagravamento da seca em Portugal, o mês de maio teria de ser extremamente chuvoso, o que segundo as previsões do IPMA, não está previsto ocorrer.
“Tirando estes [últimos] dias em que de facto houve precipitação, não me parece que seja o suficiente para sair da situação de seca (…) até porque estamos a caminhar para o verão, para meses em que diminui a probabilidade de precipitação”, disse.
Na semana passada, o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, disse que não há, por enquanto, registo de prejuízos evidentes na agricultura devido à seca, apesar de haver indícios que apontam para a previsão de um período de seca.
De acordo com o texto do Governo sobre a comissão permanente, aprovado na quinta-feira, “a evolução meteorológica dos últimos meses indica que poderemos vir a ser confrontados, num futuro próximo, com uma situação de seca, justificando-se uma atuação atempada de eventuais medidas preventivas e mitigadoras” deste problema.
Será ainda elaborado um plano de contingência que possa vir a ser acionado “se e quando as circunstâncias o determinarem”.
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