As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) marcaram a sangue e fogo a história da Colômbia nos últimos 52 anos. O Exército do Povo travou uma batalha impiedosa, pela força das armas, e fez frente a todos aqueles com quem se deparou. Este período negro da história da Colômbia chegou ao fim, esta quarta-feira, 24 de agosto, com o anúncio de um acordo de paz definitivo com o governo.

Do sangue aos sequestros, da ajuda americana às tentativas falhadas de negociação, aqui fica uma cronologia que justifica a alegria de todos os colombianos que saíram à rua para festejar o acordo alcançado em Havana. Acabou a guerra.

1964: O inicio de cinco décadas de sangue

O dia 27 de maio de 1964 marca oficialmente o nascimento das FARC. Foi quando aconteceu o primeiro combate. Em Marquetalia, um grupo de camponeses, liderados por Pedro Antonio Marín, conhecido no seio da guerrilha como Manuel Marulanda Vélez ("Tirofijo"), resistiu à ofensiva militar do governo. A zona do centro da Colômbia era considerada pelo governo de direita de Guillermo León Valencia como uma "república independente" de influência comunista.

1984, 1991, 1999: Quando a paz falhou

A primeira tentativa de alcançar um acordo de paz entre o governo e as FARC, começou a 28 de março de 1984 - quase vinte anos depois da fundação da guerrilha -, quando o presidente Belisario Betancur e o grupo armado iniciaram um processo de diálogo durante um período de tréguas. As conversas acabaram por não chegar a bom porto em 1987, assim como outras duas, em 1991 com o presidente César Gaviria e, em 1999, com o presidente Andrés Pastrana. Esta última negociação, que durou até 2002, ficou conhecida para a história como "Diálogos do Caguán", por causa dos 42.000 km2 desmilitarizados pelo presidente Andrés Pastrana para que, entre os municípios de La Uribe, Mesetas, La Macarena e Vista Hermosa, que pertenciam ao departamento de San Vicente del Caguán, a guerrilha e o governo se pudessem “sentar à mesa”.

Anos 1990: uma década de mortes e sequestros

Os anos 90 ficaram marcados por uma mudança de estratégia de guerra das FARC, que passou a incluir ataques a povoações, a bases militares e a postos da polícia. Para se financiarem, recorriam ao rapto de civis, que soltariam mais tarde a troco de um resgate.

Esta década ficou marcada pela tomada cidade amazónica de Mitú, em 1998, que resultou em 98 mortos - 37 civis e 61 polícias - e pelo massacre de Bojayá em 2002, onde morreram 79 pessoas numa igreja, quando se tentavam refugiar dos combates.

O estado permanente de guerra em que se encontrava a Colômbia, passou a ser tema um pouco por todo o mundo quando, em 2002, a pré-candidata à presidência Ingrid Betancourt é sequestrada. A política foi libertada seis anos depois. O sequestro foi um espelho para o mundo daquilo que se passava na Colômbia e do drama que, diariamente, civis e polícias enfrentavam ao serem raptados.

Anos 2000: os milhões americanos e mais doze anos de guerra

O virar do século era sinónimo de esperança renovada. E esta nova esperança tinha um nome: “Plano Colômbia”. Os Estados Unidos e o governo de Pastrana tinham uma estratégia para combater o tráfico de droga, a nova maior fonte de rendimento do grupo de guerrilha.

Só em 15 anos chegaram ao país sul-americano 10 mil milhões de dólares, em fundos americanos para treino e equipamento militar. Assim, começou uma década de forte ofensiva oficial contra as FARC, encabeçada pelo presidente Álvaro Uribe (2002-2010). Durante o seu mandato, o comando das FARC sofreu duras perdas. Em 2008, para além da morte de "Tirofijo" por causas naturais - um dos fundadores do movimento -, mataram Raúl Reyes, o responsável internacional da guerrilha, numa operação do Exército colombiano no Equador.

A estratégia de combater este movimento atacando os líderes continuou com Juan Manuel Santos na presidência. Primeiro, o chefe militar Jorge Briceño - conhecido como "Mono Jojoy" - morreu em 2010 num bombardeio e, depois, noutra operação, em 2011, foi Alfonso Cano, sucessor de "Tirofijo", que caiu perante a força do exército do governo.

2012: o início do fim

Depois de um intenso período de confrontos militares, o presidente Santos (à direita na foto de topo) e o novo líder das FARC, Rodrigo Londoño (à esquerda na foto de topo), conhecido como Timoleón Jiménez ("Timochenko"), iniciou-se um novo diálogo de paz a 18 de outubro de 2012, em Oslo. O centro das conversações foi instalado em Havana, a novembro desse mesmo ano, com Cuba e Noruega a fazerem um papel de avaliadores, e Chile e Venezuela a acompanhar o processo de perto.

2016: o ano em que se fez história

O dia 24 de agosto de 2016 vai ficar na história da Colômbia. O povo sai à rua para celebrar o acordo de paz alcançado entre o governo e as FARC.