"O Festival de Cannes quebrou o feitiço. 'O homem que matou D. Quixote" entra na história do cinema", revela a distribuidora.
Momentos antes, o delegado-geral do festival, Thierry Frémaux, tinha confirmado que a decisão do tribunal de Paris tinha sido favorável à exibição do filme.
O produtor Paulo Branco tinha interposto uma ação em tribunal em Paris contra o Festival de Cinema de Cannes para impedir a exibição do filme no encerramento, em estreia mundial, no dia 19, tendo a decisão sido marcada para hoje.
A ação judicial do produtor português acontece no seguimento de uma disputa legal por causa dos direitos do filme, rodado em Espanha e em Portugal com elenco internacional.
O projeto chegou a contar com produção de Paulo Branco, anunciada em 2016, mas Terry Gilliam acabou por não concretizar a parceria, alegadamente por problemas de financiamento.
Terry Gilliam pediu a anulação do contrato de produção com a produtora Alfama Films, de Paulo Branco, mas em 2017 o Tribunal de Grande Instância de Paris declarou que aquele continua válido.
Segundo Paulo Branco, a exploração e utilização das imagens do filme não pode existir sem o acordo prévio da Alfama Films.
"O homem que matou Dom Quixote" é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.
O mais recente episódio da história atribulada do filme será, segundo a publicação francesa Nice Matin, um acidente cardiovascular sofrido por Terry Gilliam no passado fim de semana em Londres, mas sem confirmação oficial.
Em Portugal, o filme não escapou à polémica, por causa de supostos estragos causados durante filmagens no Convento de Cristo e que levaram a Direção-Geral do Património Cultural a abrir um inquérito.
Independentemente da decisão de hoje sobre Cannes, está ainda em curso um processo judicial que deverá ter decisão a 15 de junho no Tribunal de Recurso em Paris, sobre a possível indemnização de Terry Gilliam ao produtor português, por causa de direitos sobre o filme.
"Continuo a ter os direitos sobre o filme e será difícil que a situação seja revertida. A decisão de 15 de junho, que foi comunicada, não resolve nada. Há ainda um processo no Reino Unido", disse Paulo Branco à agência Lusa em abril passado.
Certo é que os atuais produtores do filme mantêm os planos de distribuição internacional de "O homem que matou D. Quixote", nomeadamente em 300 salas em França e também na China.
Segundo a publicação Indiewire, a Amazon Studios, que chegou a financiar o filme, recuou na intenção de fazer a estreia comercial nos Estados Unidos, uma decisão que deverá estar relacionada com a disputa judicial em torno do filme.
Em Portugal, onde a estreia deverá ser assegurada pela NOS, não há ainda data oficial anunciada.
"O homem que matou D. Quixote" uma coprodução internacional entre vários países, nomeadamente Espanha, França e - em produção minoritária - Portugal, com um orçamento de cerca de 16 milhões de euros.
Esta adaptação livre de "D. Quixote", de Miguel Cervantes, cuja narrativa no filme oscila entre os séculos XVII e XXI, conta com interpretações de Jonathan Pryce, Adam Driver, Olga Kurilenko e a atriz portuguesa Joana Ribeiro, entre outros.
O 71.º Festival de Cinema de Cannes começou na terça-feira no sul de França.
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