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As obras arrancaram no final de setembro no edifício principal — onde está instalada a biblioteca — e exigiram o esvaziamento imediato de três grandes salas. Segundo relatos recolhidos pelo Público, muitos funcionários foram apanhados de surpresa e não receberam instruções claras sobre o destino das publicações.
O antigo engenheiro agrónomo Daniel Nunes deixou um alerta contundente: “a biblioteca da Ex-Estação Agronómica de Oeiras, actual INIAV, […] está a ser praticamente despejada no lixo por força de critérios que, do meu ponto de vista, parecem cegos […] e em risco de se perder.”
Num texto posto a circular entre amigos da biblioteca, lia-se também que o acervo “corre o risco iminente de ser desmembrado e parte do acervo descartado – colocado em contentores de reciclagem de papel – pois […] ocupa um espaço valioso.”
Perante a ausência de um plano de salvaguarda, grupos de funcionários decidiram agir por iniciativa própria, retirando e encaixotando publicações a grande velocidade. O presidente do INIAV, Nuno Canada, justificou o processo afirmando ao Público: “Todo o património com valor científico foi guardado. Foram eliminados documentos obsoletos e sem valor, de que são exemplos Diários da República […] ou publicações de divulgação, com inúmeros exemplares ou que estão digitalizadas.” E acrescentou: “Para que as obras possam decorrer […] este [acervo] tem estado a ser empacotado e armazenado.”
Mas antigos investigadores contestam esta visão. Manuel Mota, professor catedrático aposentado e filho do geneticista Miguel Mota, afirma: “Fico apreensivo […] de que algo se está a passar relativamente ao destino dado às revistas e livros.”
Outro engenheiro agrónomo, Fausto Leitão, não esconde a preocupação: “Estamos tristes com a delapidação sobretudo da biblioteca principal e do espólio de material e equipamento científico, que deveria estar num museu.”
A biblioteca central reúne mais de 180 mil entradas, incluindo obras raras dos séculos XVI a XIX, publicações ultramarinas únicas no mundo e coleções históricas como a Agronomia Lusitana, cuja coleção completa poderá não existir fora deste espaço. Daniel Nunes reforça o valor deste património, afirmando: “A biblioteca completa que eu conheci vale mais de três milhões de euros.”
Apesar das garantias da presidência de que “o espólio científico […] voltará para a biblioteca” após as obras, a preocupação mantém-se: muitos caixotes continuam amontoados sem condições adequadas de conservação. A advertência de Daniel Nunes é clara: “A biblioteca não está guardada. Está abandonada: arrumaram o abandono.”
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