Os rebeldes e os seus aliados internacionais não têm opções para conter o avanço das forças do grupo do regime sírio de Bashar al-Assad, principalmente desde o fracasso da tentativa recente de negociações de paz, promovida pela ONU em Genebra.

"Os rebeldes encontram-se numa curva descendente e a queda é cada vez mais dura", afirma Emile Hokayem, investigador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres. 

Cerca de 40 mil pessoas estão em fuga para a Turquia, que manteve a fronteira de Oncupinar encerrada neste sábado.



A província de Alepo, norte da Síria, era um bastião rebelde que permitia o acesso à vizinha Turquia, apoio da oposição. A cidade de Alepo, antiga capital económica da Síria, está dividida em duas desde meados de 2012. Os rebeldes controlam o leste e as forças do regime, o oeste.

Mas as forças do governo ganharam terreno nos arredores de Alepo e o avanço desta semana estreitou o cerco aos insurgentes. "É uma reviravolta na guerra", estima o geógrafo Fabrice Balanche. "A oposição queria converter Alepo e a província de Idleb (vizinha) com base em uma 'Síria livre'. Acabou", sentencia o especialista que estuda o país.

"Alepo é uma amostra espetacular da forma como a potência aérea e estratégica russa compensou a capacidade relativamente frágil do regime", afirma Faisal Itani, do Centro Rafic Hariri para o Oriente Médio, ligado ao think tank americano Atlantic Council.

Moscovo diz que bombardeia o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), mas analistas e militantes consideram que os russos concentram-se principalmente nos rebeldes não jihadistas para reforçar o regime de Assad.

Cerco a Alepo?

Os rebeldes e os cerca de 350 mil civis que ainda vivem em Alepo expõem-se a um cerco das forças pró-regime, uma tática de efeito devastador usada para derrubar outros bastiões dos insurgentes, como Homs (centro).

Veja o vídeo das imagens de Homs, completamente destruída.

"Boa parte dos rebeldes e civis poderia morrer por causa dos bombardeios, da fome e das privações causadas pelo cerco", aponta Itani.

A guerra síria, que começou em março de 2011, com a repressão sangrenta a manifestações pacíficas que pediam democracia, já deixou mais de 260 mil mortos.

A oposição sentiu-se traída quando os aliados internacionais interromperam o fornecimento de armas, antes do anúncio de negociações de paz no fim de janeiro em Genebra, que fracassaram. "O que mais frustra os rebeldes são estes países que pretendem ser amigos da Síria e contentam-se com palavras bonitas", declarou à AFP Mamun al-Khatib, diretor da agência de notícias Shahba, com sede na província de Alepo e partidária dos rebeldes. "Enquanto isso, Rússia e Irão ocupam o território sírio."

Opções limitadas

Os rebeldes parecem estar de mãos atadas. "Já não têm muitas reservas de homens, devido ao facto de outras zonas rebeldes também estarem sob pressão", principalmente no sul, em Deraa, destaca Itani.

Por muito tempo, os rebeldes tentaram obter armas antiaéreas dos seus aliados internacionais, mas Washington negou, temendo que caíssem nas mãos de jihadistas como a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda, ou o EI.

Como se sentem traídos pelos aliados internacionais, alguns rebeldes poderiam unir-se a grupos jihadistas, alerta Hokayem. Tudo aponta que o regime irá consolidar o controlo sobre a chamada "Síria útil", no oeste e centro do país.

"Assad e a Rússia querem deixar que os americanos ocupem-se do monstro jihadista no leste", assinala Hokayem. "E funciona." Segundo os analistas, o avanço das forças pró-governo colocou o regime de Assad numa posição de força, em que se pode recusar a fazer concessões, tornando impossível para a oposição negociar.

"Aqueles que quisessem negociar em Genebra seriam acusados de traição", diz Balanche. Para Hokayem, o processo de paz, adiado para 24 de fevereiro, é "um espetáculo que não dará resultado".