Além das pessoas dadas como desaparecidas, “muitas outras estão sob os escombros”, sublinhou em comunicado a Proteção Civil, precisando que perto de 3.200 feridos foram internados em diversos hospitais.
Milhares de pessoas ficaram desalojadas no sudoeste do país, onde prosseguiram no domingo, entre habitantes e equipas de resgate, os esforços para encontrar sobreviventes por entre os escombros, com meios limitados e ainda sob o efeito de réplicas do forte sismo de 7,2 na escala de Richter.
Maquinaria pesada, vários camiões e retroescavadoras estavam ocupados a deslocar placas de betão dos edifícios destruídos na cidade de Cayes, perto do epicentro do sismo, a cerca de 160 quilómetros da capital haitiana, Port-au-Prince, constatou a agência noticiosa francesa AFP no local.
O terramoto, que também foi sentido na República Dominicana (com a qual o Haiti divide a ilha de Hispaniola) e em Cuba, e que já faz parte dos dez sismos mais letais dos últimos 25 anos na América Latina, ocorreu às 08:29 locais (13:29 de Lisboa), a cerca de 12 quilómetros da cidade de Saint-Louis-du-Sud, situada a 160 quilómetros da capital haitiana, Port-au-Prince, com epicentro a 10 quilómetros de profundidade, segundo dados do Instituto Norte-Americano de Geofísica (USGS).
Perto de 30.000 casas ficaram destruídas ou danificadas.
As operações de resgate das vítimas poderão, entretanto, ver-se comprometidas pela aproximação da tempestade tropical Grace, com um risco de chuvas torrenciais e de inundações rápidas, segundo o serviço nacional de meteorologia dos Estados Unidos.
É esperada a sua chegada na noite de segunda para terça-feira e o país foi colocado sob vigilância reforçada.
Profissionais e medicamentos foram já encaminhados pelo Ministério da Saúde para a península sudoeste, mas a logística de emergência está também em perigo devido à insegurança que mina o Haiti desde há meses.
Em pouco mais de dois quilómetros, a única estrada que liga a capital à metade sul do país atravessa o bairro pobre de Martissant, sob controlo de gangues armados desde o início de junho, o que impede a livre circulação.
Os raros hospitais existentes nas regiões afetadas estão com dificuldade em fornecer os cuidados de emergência aos feridos.
Instalados em bancos, enroscados em cadeiras ou estendidos no chão sobre lençóis, os feridos aguardavam hoje ser atendidos no hospital da cidade costeira de Cayes.
Muitos países, entre os quais os Estados Unidos, a República Dominicana, o México e o Equador já ofereceram ajuda, com o envio de pessoal, rações de emergência e equipamentos médicos.
O primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, que decretou o estado de emergência nos quatro departamentos afetados pela catástrofe, agradeceu hoje à comunidade internacional.
“Queremos dar uma resposta mais adaptada do que em 2010, após o tremor de terra. Todas as ajudas vindas do exterior devem ser coordenadas pela direção da Proteção Civil”, disse o chefe do Governo, exortando os seus concidadãos “à unidade nacional”.
“Esqueçamos as nossas querelas”, pediu Henry, que dirige o país mais pobre do continente americano, numa situação de emergência à qual há que acrescentar a crise política, agravada pelo assassínio do Presidente, Jovenel Moïse, em 07 de julho, bem como os efeitos da pandemia de covid-19.
O país guarda na memória o sismo de 12 de janeiro de 2010, com magnitude 7, que destruiu a capital e várias cidades de província.
Mais de 220.000 pessoas morreram e mais de 300.000 ficaram feridas na catástrofe que deixou desalojados mais de 1,5 milhões de haitianos, colocando as autoridades e a comunidade internacional perante o colossal desafio de reconstrução de um país sem registo de propriedade de terras ou regras de construção.
Sem conseguir superar esse desafio de reconstrução, o Haiti, que é também regularmente atingido por furacões, mergulhou em dez anos numa crise sociopolítica aguda.
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