O diretor nacional para os Programas das Doenças Oncológicas, Nuno Miranda, afirmou à agência Lusa que "é muito cedo para medir o impacto”, referindo que numa “medida com impacto cultural e uma mudança de atitude, uma medida destas nunca tem resultados num período tão curto".
Para o médico Emanuel Esteves, que está à frente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo, o facto de até ao próximo sábado poderem ser vendidos livremente maços sem as imagens retirou eficácia que a medida poderia ter.
Os maços com imagens como um pulmão com cancro, um embrião desenhado a cinzas ou o buraco na garganta deixado por uma traqueotomia começaram a ser vendidos a 20 de maio de 2016, mas durante um ano ainda foi permitida a venda apenas com a marca.
“Diluiu-se o efeito desejável da campanha", considerou Emanuel Esteves em declarações à agência Lusa, defendendo que "a solução ideal seria as imagens e frases [alertando para os malefícios do tabaco] em toda a superfície das embalagens" e maços que não estejam identificados pela marca.
Só assim, afirmou, é que se pode medir o efeito da medida, referindo não acreditar "que o efeito esteja a ser o desejado", ou seja, as imagens dissuadirem os fumadores de comprar e estes deixarem o vício.
Emanuel Esteves salienta que é nos mais jovens não fumadores que a medida poderia ter mais efeito, mas considera que a coexistência de maços sem imagens chocantes impede que se faça uma "análise mais certa" do impacto.
"Foi um erro estratégico, devia ter sido mais claro do que foi", referiu, frisando que há "muitas formas de fugir ao efeito" de choque pretendido.
Emanuel Esteves aponta também que esta lei criou "a oportunidade para uma indústria de embalagens que revestem os maços, que os fumadores compram e rapidamente cobrem com imagens agradáveis" as fotografias e as mensagens que alertam para riscos do tabaco como o cancro, a impotência, a fertilidade ou o efeito sobre as crianças.
Nuno Miranda indicou que há também "maneiras psicológicas de as pessoas ocultarem as imagens dos seus olhos", uma vez que ao comprar tabaco estão a ter um comportamento aditivo, contestando que o ato de fumar seja um exercício de liberdade.
"Não há nenhuma liberdade em fumar, não é um ato livre, é compulsivo, e é importante compreender que não é uma questão de escolha", argumentou.
Para medir resultados e avaliar qualquer mudança na cultura, é preciso tempo, reiterou.
"Sabemos, por exemplo, que pela primeira vez, em 2012, houve menos incidência de cancro do pulmão nos homens e isso tem absolutamente a ver com a redução do consumo do tabaco", afirmou, mas destacou que esse resultado não foi conseguido de um ano para outro.
A presidente da Federação Portuguesa de Grossistas de Tabaco e da Associação Portuguesa de Armazenistas de Tabaco, Helena Batista, disse à agência Lusa que "o impacto é nenhum".
"Não é pelas imagens que as pessoas deixam de fumar, embora isso possa acontecer com uma ou outra pessoa. Todos sabemos que faz mal", afirmou.
No mercado, há "perda de vendas", admite, atribuindo-a antes a "aumento de preços, contrafação e contrabando".
"Em vez de se aumentarem os impostos, porque não se calcula quanto perdemos em impostos por causa da contrafação e do contrabando, que estão a aumentar?", questionou.
A representante do setor referiu que as medidas de prevenção do tabagismo devem ser antes apontadas à infância, começando pelos próprios fumadores que devem ser "conscientes, incutindo nas crianças que fumar faz mal e cria dependência".
Salientando que os vendedores "cumprem a lei", recusando vender a menores de 18 anos, lamentou que nunca tenham sido chamados pela tutela desde que existe a associação, em 2004, para serem ouvidos sobre qualquer medida.
"Nós é que temos a noção do que se passa na rua", afirmou.
Segundo um estudo da empresa Marktest divulgado em fevereiro, um em cada cinco portugueses no continente é fumador, com o vício a afetar cada vez menos pessoas, 19% em 2016 quando em 2011 eram 24%.
Comentários