Quase 1.000 operacionais combatiam às 00:00 de hoje oito incêndios ativos em Portugal continental, altura em que o país entrou em situação de alerta, face à melhoria das condições meteorológicas, depois de sete dias em situação de contingência.

De acordo com a página da internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), consultada pela Lusa, combatiam os oito incêndios em curso 990 operacionais, apoiados por 299 veículos.

O incêndio que mobiliza mais meios é o que deflagrou no concelho do Fundão no domingo à tarde e que se estendeu depois ao concelho vizinho da Covilhã, ambos no distrito de Castelo Branco, com 464 operacionais e 135 veículos.

No distrito de Vila Real lavram dois incêndios também considerados significativos pela Proteção Civil. Um no concelho de Murça, que deflagrou no domingo à tarde, combatido por 154 bombeiros e 52 veículos, e outro no concelho de Chaves, com início na freguesia de Bustelo na sexta-feira e que desde então já foi dado como dominado, mas que sofreu uma reativação, com 228 operacionais e 73 veículos.

Durante a atual vaga de incêndios, a ANEPC sinalizou 206 ocorrências que obrigaram a assistência nos diferentes teatros de operações, disse o comandante nacional, André Fernandes, no 'briefing' realizado domingo ao princípio da noite.

Além da morte do piloto de um avião anfíbio de combate a incêndios, que se despenhou, sexta-feira, numa vinha da Quinta do Crasto, em Castelo Melhor, concelho de Foz Coa, distrito da Guarda, há ainda a registar cinco feridos graves (três elementos de proteção civil e dois civis).

Desde 8 de julho, foram retiradas 939 pessoas de povoações ameaçadas pelas chamas e constituídas 12 zonas de apoio à população, que acomodaram 431 pessoas, acrescentou.

Os incêndios dos últimos dias afetaram residências, algumas de primeira habitação, casas devolutas e infraestruturas de apoio.

Portugal entrou hoje, às 00:00, em situação de alerta, depois de sete dias em contingência devido aos incêndios que assolaram o país e às altas temperaturas registadas.

A situação de alerta prolonga-se até às 23:59 de terça-feira, dia em que voltará a ser reavaliada a situação, afirmou o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, no domingo, após uma reunião, por videoconferência, com os ministérios da Defesa Nacional, do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, da Saúde, do Ambiente e Ação Climática e da Agricultura e da Alimentação.

"Nos próximos dias, a temperatura deverá baixar entre dois e oito graus, o que permite termos uma pequena janela para ajustar os esforços", explicou José Luís Carneiro, lembrando que, "até ao final do verão, vão existir outros momentos muito exigentes" e "é preciso estar preparado".

Na terça-feira, a situação será reavaliada até porque se prevê um novo aumento das temperaturas.
A situação de alerta é, de acordo com a Lei de Bases da Proteção Civil, o nível menos grave, abaixo da situação de contingência e do patamar mais grave, a situação de calamidade.

Fundão

Uma das frentes do incêndio que começou hoje no concelho do Fundão entrou no concelho vizinho da Covilhã, ambos no distrito de Castelo Branco, estando ainda a lavrar na freguesia do Ferro, disse fonte do município.

O vice-presidente da Câmara Municipal da Covilhã, José Serra dos Reis, que tem o pelouro da Proteção Civil, disse à Lusa, cerca das 22:50, que o fogo tem lavrado em zona de serra, tendo ardido pinhal e floresta e alguns edifícios, mas não habitacionais.

Segundo o autarca, o incêndio, que passou do concelho do Fundão para o da Covilhã "logo a seguir ao almoço", está, neste momento, "minimamente controlado, se as coisas se mantiverem assim, porque, de um momento para o outro, o vento altera tudo".

"No concelho da Covilhã a preocupação, neste momento, é mesmo só a freguesia do Ferro", disse, salientando que, se se confirmarem "os ventos como estão previstos, pode dirigir-se para a freguesia de Peraboa, que também é concelho da Covilhã".

O incêndio que deflagra desde as 14:35 em Fatela, concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, mantinha, cerca das 23:05, 465 operacionais e 136 viaturas envolvidos no combate às chamas, segundo os dados constantes na página da Proteção Civil.

Pelas 18:30, o presidente da Câmara Municipal do Fundão, Paulo Fernandes, disse à agência Lusa que a situação no terreno era "extraordinariamente grave" por o incêndio progredir em duas frentes.

"Estamos perante duas frentes de vários quilómetros. Uma que entrou na freguesia de Pero Viseu e, neste momento, ainda ameaça casas à volta do núcleo urbano de Pero Viseu e de uma [aldeia] anexa chamada Vales de Pero Viseu, sendo que essa frente já ultrapassou os limites do concelho do Fundão e entrou no concelho da Covilhã", adiantou.

O autarca acrescentou que a outra frente de fogo, com vários quilómetros, lavra numa zona mista agrícola e florestal mas "tem uma mancha florestal de muitos milhares de hectares" e os meios no terreno estão atentos a essa área por se poder tornar em algo "calamitoso".

Durante a tarde, a povoação de Pero Viseu esteve "em perigo", mas Paulo Fernandes não tinha informação de terem ardido habitações.

As chamas destruíram alguns anexos e equipamentos agrícolas, disse, admitindo que "em pouco mais de duas horas, arderam, provavelmente, alguns milhares de hectares, tal era a violência do vento".

Segundo o autarca, a velocidade do vento entre as 15:00 e as 17:00 foi "violentíssima".

O perímetro do fogo era "gigantesco" e o presidente do município do Fundão vaticinava que esta seria uma noite "muito comprida" e, provavelmente, o dia de segunda-feira, deverá ser "muitíssimo complicado".

Fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Castelo Branco disse à Lusa que o incêndio "ainda se encontra ativo" e que o vento forte tem dificultado o combate.

O comandante nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), André Fernandes, disse hoje que o incêndio a decorrer em Castelo Branco teve uma progressão inicial de 2,5 quilómetros por hora.

"Significa que durante um curto espaço de tempo, o incêndio, mais ou menos, em três horas, três horas e meia, perfez um total de sete quilómetros", destacou.

De acordo com a página da internet da ANEPC, consultada pela Lusa às 23:20, este incêndio mobiliza 465 operacionais apoiados por 136 veículos.

Murça

O município de Murça, no distrito de Vila Real, está preparado para retirar pessoas, se for necessário, já que o incêndio que se iniciou domingo à tarde no concelho lavra “com muita intensidade”, colocando a aldeia de Vilares em risco.

"Estamos preparados para isso, não sei se vai acontecer, mas estamos preparados” para retirar pessoas, disse domingo à noite à Lusa o presidente da Câmara de Murça, Mário Artur.

O incêndio avançou para o concelho de Vila Pouca de Aguiar, onde apresenta uma frente de vários quilómetros, ameaçando várias instalações agrícolas e, por proximidade, as aldeias de Reboredo e Vales, lê-se na página do município no Facebook.

A informação adianta que foram solicitados reforços ao Comandante Distrital de Operações de Socorro de Vila Real, uma vez que “os únicos [bombeiros] presentes são da corporação de Vila Pouca de Aguiar", tendo Miguel Fonseca referido, num contacto com o presidente do município, que “haveria equipas em deslocação“ para o concelho.

Miguel Fonseca disse à Lusa que Murça e Vila Pouca de Aguiar são incêndios contíguos, o que é “muito preocupante, porque está a arder uma grande área de povoamento florestal, pinhal adulto, e algum mato”, com “uma violência enorme de condições meteorológicas, particularmente de vento”.

Segundo disse, estão a ser reforçados meios em Murça e em Vila Pouca de Aguiar, a nível regional e nacional, mas admitiu que “leva tempo, devido às ocorrências de grande dimensão que estão a absorver muitos meios”.

Num balanço dos incêndios no distrito, feito domingo à noite, Miguel Fonseca salientou os três que lavraram em simultâneo durante a tarde: Bustelo e Soutelinho da Raia, em Chaves, e Murça/Vila Pouca de Aguiar (duas ocorrências, mas que ardem muito próximas).

Sobre o incêndio em Bustelo, o comandante salientou o facto de estar a ser combatido há três dias, sendo “uma ocorrência bastante cansativa, desafiante, devido à violência das condições meteorológicas que se concentraram e que fizeram com que o fogo reativasse” no sábado.

“Hoje [domingo], esteve 90% do perímetro dominado e conseguimos até meio da tarde debelar mais de 30 reativações”, apesar de o perímetro do incêndio ser “enorme”, acrescentou, salientando o facto de duas ativações terem ocorrido, em simultâneo, com os incêndios em Murça e Soutelinho.

“Ainda estamos a defender as habitações e estamos a voltar a replanear a intervenção e empenhamento que vamos fazer nas frentes de incêndio”, declarou.

Segundo o comandante distrital, “as localidades começam a estar neste momento mais desafogadas das frentes de incêndio” e está a ser definido o planeamento para a atuação durante a noite.

No incêndio de Soutelinho, que esteve também “complicado", dada a dificuldade em "disponibilizar recursos, tendo em conta o grande empenhamento que há em Bustelo e Murça”, o combate está agora a correr favoravelmente, não sendo precisos mais meios, disse.

O comandante realçou o comportamento da população, destacando o facto de, em algumas situações, se ter juntado em locais mais protegidos, o que revela “uma cultura de segurança diferente”.

Bustelo

O incêndio de Bustelo, no concelho de Chaves, distrito de Vila Real, que começou pelas 14:45 de sexta-feira, tem ameaçado povoações num raio de 15 quilómetros e lavra em direção a Espanha, disse o presidente do município.

O presidente da Câmara Municipal de Chaves, Nuno Vaz, disse à Lusa que esta “vai ser mais uma noite difícil”, com expectativa de que seja a última deste incêndio, que teve hoje vários reacendimentos e projeções, à semelhança do que aconteceu no sábado.

Esta situação deveu-se, sobretudo, aos ventos fortes, que fizeram com que o incêndio progredisse em diferentes frentes e em direção a vários aglomerados habitacionais, disse.

O autarca referiu, em concreto, as povoações de Cambedo, Vilarinho da Raia, Vilarelho da Raia e, também, “algum perigo” em Vila Meã e Agrela.

Nuno Vaz afirmou que os meios “têm sido mobilizados e estão concentrados para defender populações, as habitações e explorações”, lavrando agora o fogo em direção a Espanha.

“Esperamos, naturalmente, que haja uma descida da temperatura, um aumento de alguma humidade e que isso permita fazer definitivamente a contenção” das chamas, declarou, adiantando que estão a ser utilizadas máquinas de rasto nesse trabalho.

O autarca salientou a dimensão “muito significativa” deste incêndio, com “muito mais de 2.000 hectares” de área ardida, provocando “um prejuízo económico muito relevante”, além do impacto ambiental.

Nuno Vaz disse que hoje não houve habitações atingidas nem retirada de pessoas, mas sim a necessidade de as concentrar nos lugares mais protegidos das aldeias, e elogiou o esforço e dedicação dos operacionais, dos autarcas de freguesia e das populações.

O incêndio começou sexta-feira à tarde e foi dado como dominado durante a madrugada de sábado, mas nesse dia à tarde verificou-se uma reativação que ganhou grande dimensão devido ao vento forte e às altas temperaturas.

Hoje, de manhã, estava "praticamente dominado", em 90% do perímetro, segundo o CDOS, tendo-se reativado a meio da tarde.

De acordo com a página de internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, consultada pela Lusa cerca das 22:00, combatem este incêndio 229 operacionais, apoiados por 72 viaturas.