A intervenção da GNR, responsável pela evacuação das localidades para onde se dirigia o fogo, a defesa de uma maior participação dos bombeiros locais no comando das operações e até a ideia de que deveria ser a Força Aérea a substituir a Proteção Civil foram alguns dos argumentos que o chefe de Estado ouviu ao longo do dia.
Em Alferce, onde o fogo chegou mesmo muito perto da aldeia, devastando tudo nas encostas à volta, permanecia esta tarde o cheiro a queimado devido ao fogo que ali passou, arrasando medronheiros, a partir dos quais se faz o medronho, colmeias e sobreiros, de onde se extrai a cortiça.
"Precisamos do estatuto de calamidade pública, precisamos de muita ajuda neste momento", desabafou um habitante da aldeia, que pediu a Marcelo Rebelo de Sousa que acabasse com o que apelidou de "desproteção civil", entregando essa responsabilidade à Força Aérea e dando "total liberdade" à Polícia Judiciária.
Exaltado, o habitante queixou-se por bombeiros e militares que tem encontrado no terreno não conhecerem a zona de floresta, nem tão pouco as estradas, o que, acrescentou, levou a que a que naquele fim de tarde em que o fogo chegou a Alferce tivessem mandado os habitantes para uma estrada onde havia fogo.
"Quiseram levar a população do Alferce [para a estrada que vai] para São Marcos da Serra, morria lá tudo", indicou.
Antes do Alferce, Marcelo Rebelo de Sousa tinha estado no hotel termal das Caldas de Monchique, que reabre na segunda-feira e onde prometeu que iria passar uns dias, "lá para setembro ou outubro".
A visita, que durou cerca de cinco horas, incluiu ainda uma passagem pelo Enxerim, já no concelho de Silves, onde o fogo esteve muito perto da povoação, embora não tenham ardido habitações.
A partir do quintal de uma família, num ponto mais alto, o chefe de Estado viu o percurso que o fogo tomou naquela zona de Silves e que pôs toda a população em alerta.
O Presidente da República chegou ao heliporto de Monchique, onde está instalado o posto de comando da Proteção Civil, pouco antes das 11:00, onde dirigiu um agradecimento às forças que estiveram no terreno, antes de participar num 'briefing' com as autoridades.
À saída, já era aguardado por um vereador da Câmara de Monchique e vários habitantes, que desfiaram várias críticas à atuação das forças no terreno, perante a sua postura serena.
O incêndio rural, combatido por mais de mil operacionais e considerado dominado na sexta-feira de manhã, deflagrou no dia 03 à tarde, em Monchique, distrito de Faro, e atingiu também o concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).
A Proteção Civil atualizou o número de feridos para 41, um dos quais em estado grave (uma idosa que se mantém internada em Lisboa).
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