A ex-senadora norte-americana da Califórnia também é a primeira pessoa negra e a primeira pessoa de ascendência sul-asiática eleita para a vice-presidência.
Kamala Harris foi investida por Sonia Sotomayor, a primeira latina a ocupar um lugar no Supremo Tribunal dos Estados Unidos.
O agora ex-vice-Presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, em representação do chefe de Estado cessante, Donald Trump, ausente da cerimónia, estava sentado um pouco ao lado do local em que Harris jurou cumprir a Constituição dos Estados Unidos, enquanto Lady Gaga cantava o hino nacional norte-americano, acompanhada pela Banda Militar dos Fuzileiros.
Kamala Harris é a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-Presidente dos Estados Unidos, depois de um percurso marcado por romper regras e tradições na vida política norte-americana.
Com uma carreira brilhante, digna do melhor sonho americano, apesar de episódios polémicos, Harris sonha há muito em se tornar a primeira mulher Presidente dos Estados Unidos.
Hoje, a ex-senadora entrou na Casa Branca como vice-Presidente, mas certamente com os olhos postos nas eleições presidenciais de 2024, com vários analistas a considerar que, aos 77 anos, o 46.º Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, hoje empossado, não ensaiará uma recandidatura.
Mas esta não será a primeira vez que Kamala Harris rompe tradições, depois de ter crescido em Oakland, onde os seus pais eram ativistas de direitos civis e lhe inculcaram a ideia de que, na política, não há impossíveis, nem hábitos inquebráveis.
Depois de ter estudado na Howard University, um estabelecimento de ensino fundado em Washington para receber estudantes afro-americanos na época da segregação, Kamala Harris lembra regularmente a sua filiação à associação de estudantes negros Alpha Kappa Alpha e a sua luta por melhorar as condições das minorias.
Após dois mandatos como procuradora em São Francisco (2004-2011), Harris foi eleita duas vezes procuradora-geral da Califórnia (2011-2017), tornando-se a primeira mulher e também a primeira pessoa negra a chefiar os serviços judiciais do estado mais populoso do país.
Em janeiro de 2017, Kamala Harris foi empossada no Senado em Washington, registando-se como a primeira mulher do sul da Ásia e a segunda senadora negra na história.
Kamala Harris não estará certamente preocupada nesta altura em quebrar tradições, mas antes em encontrar soluções para os desafios governativos que o Presidente Joe Biden já anunciou que lhe vai confiar.
Antes de mais, na qualidade de vice-Presidente, Harris vai ter o difícil papel de usar o seu voto qualificado, sempre que houver empates no Senado, o que pode acontecer numa câmara alta do Congresso que tem 50 lugares democratas e 50 lugares republicanos.
No entanto, Harris já disse não temer essa tarefa e lembra que ultrapassou o difícil desafio de enfrentar posições políticas contrárias e procurar consensos, durante as eleições primárias do Partido Democrata, onde perdeu para Biden.
Aliás, foi contra Biden que Kamala Harris protagonizou alguns episódios mais agressivos da campanha, quando atacou o futuro Presidente norte-americano pelas suas posições relativamente a políticas de dessegregação racial, nos anos 1970.
Ainda assim, Biden acabou por a escolher para sua vice-Presidente, realçando as suas qualidades e não escondendo as suas falhas e defeitos.
Nas primárias democratas, o seu passado como procuradora foi usado como arma de arremesso político, com os adversários a recordarem a sua reputação de ser muito áspera, em particular quando se tratava de punir pessoas por pequenos crimes, o que geralmente acabava por atingir as minorias étnicas da Califórnia.
Mas foi a sua experiência como procuradora que também lhe permitiu um forte conhecimento das questões jurídicas associadas à lei eleitoral em vários estados, de grande utilidade para rebater os argumentos dos republicanos sobre a legalidade dos resultados das eleições presidenciais.
Aliás, Harris acusou os republicanos de tentarem manobras legislativas para tentar obstruir o voto das minorias.
“Porque é que acham que eles vos estão a tentar impedir de votar? Porque eles sabem do poder do vosso voto”, disse Kamala Harris, durante um comício o estado da Geórgia, com uma forte presença de afro-americanos.
Após a onda histórica de raiva contra o racismo e a violência policial, Kamala Harris foi um dos rostos mais visíveis nas promessas políticas de erradicação de justiças sociais.
Usando uma máscara contra o novo coronavírus e respeitando as distâncias físicas entre pessoas, Harris liderou uma campanha de sensibilização para os riscos da pandemia de covid-19, tornando-se uma voz ativa na crítica à gestão da crise sanitária por parte do Governo Trump, o que lhe deixa agora também espaço para ocupar um papel de destaque nessa área prioritária da governação Biden.
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