“Bolsonaro mente quando nega que a Amazónia seja património da humanidade. Sim, é património da humanidade. Como é que ele se atreve a mentir assim? [A Amazónia] Não pertence a ninguém, mas a todos. Os animais, território, terra, ar pertencem ao mundo inteiro “, disse Sonia Guajajara, na cidade norte-americana de Nova Iorque, num ato com outros ativistas.
O Presidente brasileiro pediu hoje, no discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, “respeito” pela soberania do país sobre a Amazónia e insistiu que uma campanha de “desinformação” sobre os incêndios daquela região deu azo a sentimentos “colonialistas”.
No final de agosto, Bolsonaro tinha acusado o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, na rede social Twitter, de “mentalidade colonialista”, após o chefe de Estado europeu ter apelado para um debate acerca dos incêndios na Amazónia, aquando da cimeira do G7 (países mais industrializados do mundo).
“Bolsonaro é um colonialista e falta-lhe respeito pela democracia. Ele só está interessado em explorar, dominar e beneficiar-se das nossas terras, e isso não é soberania. É uma exploração trazida pelo capitalismo global”, denunciou hoje a líder indígena.
Guajajara, que foi candidata à vice-presidência do Brasil, no ano passado, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), criticou o chefe de Estado por se referir à sua comunidade nativa como “animais das cavernas” e pela “falta de respeito” ao líder histórico dos povos indígenas da Amazónia brasileira, e indicado ao Prémio Nobel da Paz de 2020, Raoni Metuktire, de 89 anos.
Acompanhada de outros ativistas, Guajajara pediu que Bolsonaro seja “acusado de crimes contra a humanidade”, acrescentando que o seu povo “não tem medo” do atual Governo.
O movimento cívico global Avaaz, que na sexta-feira acompanhou e representou comunidades indígenas na marcha juvenil contra as alterações climáticas em Nova Iorque, classificou o discurso de Bolsonaro de separatista e instou o mundo a “reagir”.
“O discurso separatista de Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU reafirma o facto de que Bolsonaro governa para poucos. Mas, nove em cada 10 brasileiros querem que ele atue para proteger a floresta”, disse em declarações à agência Efe o diretor de campanha da Avaaz, Óscar Soria.
“Hoje, Bolsonaro insistiu em atacar organizações não-governamentais, a imprensa e os bravos povos indígenas que defendem a floresta, e perdeu uma oportunidade incrível de mostrar ao mundo que o Brasil poderia tomar medidas para proteger a sua preciosa floresta tropical”, acrescentou Soria.
Para o seu discurso na ONU, Jair Bolsonaro integrou na sua comitiva a indígena brasileira Ysani Kalapalo e mencionou-a ao longo das suas declarações como um exemplo de nativos que defendem a evolução nas suas reservas.
Contudo, representantes indígenas do território do Xingu, no Estado brasileiro de Mato Grosso, mostraram-se contra a escolha de Ysani Kalapalo, por ser assumidamente apoiante de Jair Bolsonaro.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta, com cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, incluindo territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
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