Acompanhe toda a atualidade informativa em 24noticias.sapo.pt
O Livro de Kells, um dos manuscritos medievais mais célebres do mundo, poderá afinal ter sido produzido há cerca de 1.200 anos na Escócia Picta, em Portmahomack, no nordeste do país, e não no mosteiro da ilha de Iona, hipótese há muito aceite pela historiografia, conta o The Guardian.
Este manuscrito contém os quatro Evangelhos — de Mateus, Marcos, Lucas e João — copiados em latim sobre pergaminho, ricamente decorado com iluminuras de grande complexidade artística. Até agora, era consensual que a obra teria começado a ser produzida em Iona, no final do século VIII, antes de ser transferida, já no século IX, para o mosteiro de Kells, no condado de Meath, na Irlanda, após um ataque viking. Desde o século XVII, encontra-se conservado no Trinity College em Dublin, onde é considerado uma das maiores preciosidades da instituição.
Segundo a académica Victoria Whitworth, especialista em arte, literatura e arqueologia da Grã-Bretanha e da Irlanda entre os séculos VIII e XI, a nova análise do contexto histórico e artístico aponta para um cenário distinto. A investigadora sublinha que os Pictos, um povo de língua celta, eram exímios escultores, deixando um legado de arte cristã altamente sofisticada, mas sempre se assumiu que nenhum manuscrito com essa origem teria sobrevivido.
O mosteiro de Portmahomack, na região de Easter Ross, surge assim como a hipótese mais plausível para a criação da obra. Escavações arqueológicas demonstraram que, entre os séculos VII e VIII, ali se produzia pergaminho e se realizavam trabalhos escultóricos de grande complexidade, com inscrições que apresentam semelhanças notáveis com as do Livro de Kells. Pelo contrário, as produções artísticas de Iona caracterizavam-se por maior simplicidade e legibilidade, sem a mesma exuberância ornamental.
Um dos elementos-chave da investigação é a descoberta de uma peça esculpida, hoje preservada no National Museums Scotland, cujo estilo e inscrição em latim revelam paralelismos diretos com a caligrafia e ornamentação do manuscrito. Para Whitworth, trata-se da prova mais convincente de que o Livro de Kells partilha raízes com a tradição artística picta.
Além disso, a investigadora recorda que o mosteiro de Kells, fundado em 807, apenas adquiriu relevância já no final do século IX, demasiado tarde para ser o local de origem do manuscrito. Também a ligação a Iona, embora consistente com parte da narrativa histórica, carece de provas materiais que a sustentem de forma inequívoca.
__A sua newsletter de sempre, agora ainda mais útilCom o lançamento da nova marca de informação 24notícias, estamos a mudar a plataforma de newsletters, aproveitando para reforçar a informação que os leitores mais valorizam: a que lhes é útil, ajuda a tomar decisões e a entender o mundo.Assine a nova newsletter do 24notícias aqui.
Comentários