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Maria Branyas Morera, nascida em São Francisco em 1907 e residente na Catalunha desde 1915, morreu em 2023 com 117 anos, depois de uma vida que atravessou duas guerras mundiais, a guerra civil espanhola e até a pandemia de Covid-19, da qual recuperou aos 113. Mais do que um símbolo de resistência, Maria tornou-se um objeto precioso de estudo científico: nos anos que antecederam a sua morte, ofereceu-se para colaborar com médicos e investigadores que pretendiam compreender os segredos da sua extraordinária longevidade.
Segundo o The Guardian, uma equipa do Instituto de Investigação contra a Leucemia Josep Carreras, em Barcelona, liderada pelo médico Manel Esteller, analisou amostras de sangue, saliva, urina e fezes recolhidas um ano antes da morte de Maria. O objetivo era traçar um retrato biológico completo desta centenária, explorando o seu genoma, as proteínas no sangue, os metabolitos resultantes de reações internas e até a diversidade microbiana presente no intestino.
Os resultados foram surpreendentes. Embora o corpo de Maria apresentasse sinais claros de idade extrema, a sua saúde global revelava uma proteção notável contra as doenças que habitualmente marcam os últimos anos de vida. “A regra comum é que, à medida que envelhecemos, adoecemos. Mas ela foi uma exceção, e quisemos perceber porquê”, explicou Esteller. Pela primeira vez, foi possível separar o conceito de envelhecer do de adoecer.
Os investigadores observaram, por exemplo, que os telómeros — as estruturas que protegem as extremidades dos cromossomas — estavam excecionalmente curtos, sinal inequívoco de envelhecimento celular. Porém, essa mesma característica poderá ter protegido Maria de desenvolver certos tipos de cancro, ao limitar a divisão das células.
Mais relevante ainda foi a identificação de variantes genéticas que ofereciam proteção às células do coração e do cérebro, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares e de demência. Além disso, o corpo de Maria apresentava baixos níveis de inflamação, um dos principais fatores associados ao desenvolvimento de cancro e diabetes. O seu metabolismo de gorduras e colesterol era igualmente eficiente, outro elemento crucial para a manutenção da saúde em idades avançadas.
Outro dado revelador foi a análise da chamada “idade biológica”, obtida a partir dos chamados relógios epigenéticos, que avaliam padrões de expressão genética. Maria parecia ter entre 10 a 15 anos menos do que a sua idade cronológica. Também o seu microbioma intestinal era notavelmente jovem, rico em bifidobactérias benéficas para a saúde.
Ainda que a genética tenha desempenhado um papel central, o estilo de vida de Maria não deve ser ignorado. Nunca foi obesa, não fumava, não consumia álcool e mantinha uma dieta equilibrada, com destaque para o consumo regular de iogurte. Além disso, tinha uma vida social ativa, rodeada de amigos e familiares — fatores que, segundo os especialistas, também terão contribuído para a sua vitalidade.
As implicações do estudo são amplas. Esteller acredita que esta investigação pode abrir caminho para novos tratamentos destinados a prolongar a vida saudável: “Podemos desenvolver fármacos que reproduzam os efeitos de bons genes. Maria recebeu genes muito favoráveis dos pais, mas nós não podemos escolher os nossos”.
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