"Quando há necessidade de recorrer à cooperação internacional temos que usar todos os instrumentos legais que existem e, portanto, Interpol, Europol e tudo o que for necessário iremos utilizar", afirmou à Lusa Helder Pitta Grós.

Até agora, garantiu que não recorreu a essas autoridades policiais: "Neste momento, ainda não o fizemos", mas "quando for necessário faremos isso”.

Para o PGR angolano, Angola "está numa fase inicial de investigação aos factos que foram revelados recentemente", referindo-se às suspeitas de desvios de dinheiro por parte da empresária angolana Isabel dos Santos, revelados por um consórcio internacional de jornalistas, que integra a SIC e o Expresso.

Por isso, "ainda não houve tempo suficiente para podermos para explorar tudo", referiu.

Mas "o foco não está só" no processo que envolve a empresária Isabel dos Santos, garantiu o PGR de Angola, que está em Lisboa desde quinta-feira, dia em que se reuniu com a sua homóloga portuguesa, Lucília Gago.

"Temos em trabalho muitos outros processos. E alguns até irão para tribunal mais cedo do que a conclusão deste", considerou Pitta Grós.

Segundo explicou, porque processos como o que está em curso, "pela sua natureza e complexidade, necessidade de ter meios próprios para trabalhar nele, humanos principalmente, não são fáceis de um dia para o outro de serem concluídos e de serem submetidos ao tribunal".

"Os meios nunca são suficientes, porque as pessoas que incorrem nessa prática de ilícitos estão sempre muito mais à frente, por isso não podemos acompanhar o ritmo deles nem temos os meios e, como tal, é uma luta constante", afirmou.

Por isso, Hélder Pitta Grós admitiu que a Procuradoria-Geral da República angolana tem pedido apoio, até mesmo de técnicos, a outros países na área da investigação.

As férias judiciais, que ocorrerão em março em Angola, que acabam por suspender os prazos são, porém, para o PGR uma vantagem que a justiça angolana pode ter neste processo.

"Em termos práticos até ocorrem num bom momento para nós. Dá-nos mais tempo para a elaboração da ação principal, de podermos fazer uma ação melhor estruturada, melhor argumentada", porque as férias acabam por suspender os prazos, referiu o procurador-geral.

Por outro lado, Pitta Grós assegurou que a justiça angolana está disponível para fornecer todos os dados necessários a outros países, nomeadamente Portugal, para que possam prosseguir as investigações no âmbito do caso conhecido como ‘Luanda Leaks’.

"Estamos disponíveis para fornecer todos os dados que forem precisos. Não há nenhum mecanismo que possa criar obstáculos nisso", frisou.

Apesar da luta contra a falta de meios, o PGR apontou que "nos dois últimos anos, ou seja de 2017 para aqui, tivemos 10 vezes mais processos que de 2012 a 2017”.

“Quer dizer, em dois anos tivemos 10 vezes mais do que em cinco anos. Portanto, isso talvez possa dizer alguma coisa", vincou.

Porém, Pitta Grós notou que os valores a que chegaram em termos do que o Estado angolano tenha sido lesado, no âmbito dos processos que até aqui tinham sido investigados, estão completamente ultrapassados.

"Os dados que tínhamos até ao ano passado, eram de quase cinco mil milhões de dólares [4,5 mil milhões de euros]. Mas agora, com todas essas revelações, isto é muito pouco (...) já não corresponde à realidade", sublinhou o procurador-geral angolano.