"Ter finanças públicas sustentáveis é fundamental. Nós não podemos esgotar os recursos técnicos, políticos, toda a discussão do país em torno do défice e da dívida. Nós temos é de resolver esse problema em definitivo para podermos focar-nos em outras matérias e discutir outros assuntos", afirmou a ex-ministra na Guarda.

Maria Luís Albuquerque falava nas XIII Jornadas de Contabilidade: Desafios de 2017, organizadas pelo Núcleo de Contabilidade da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico da Guarda, tendo sido escutada por mais de uma centena de alunos e de professores.

"Se não controlarmos as finanças públicas, tudo o resto vai correr mal. As finanças públicas correrem mal deitam por terra todos os esforços de crescimento do país noutras áreas, porque quando não há dinheiro para o Serviço Nacional de Saúde, para pagar as pensões, para pagar os salários, para pôr as escolas a funcionar, todos os outros esforços que se tenham feito para promover o crescimento são em vão e entramos novamente numa crise", observou.

Por isso, na opinião da deputada e vice-presidente do PSD, as finanças públicas são tão importantes: "Elas não são suficientes para garantir o crescimento económico, mas são seguramente suficientes para o impedir quando correm mal, daí a importância da matéria".

Maria Luís Albuquerque também alertou a plateia para o facto de o Banco Central Europeu (BCE) ir acabar com as taxas de juro baixas.

"Aquilo que o BCE está a fazer com as taxas de juro baixas é comprar tempo. O BCE o que está a dizer é: olhem, eu mantenho os custos aqui baixos e controlados para vocês fazerem as reformas estruturais e porem a casa em ordem. E o BCE faz isso, mas do outro lado, reformas estruturais e casa em ordem, a coisa não tem corrido bem".

Segundo a ex-ministra das Finanças, "vai chegar o momento em que o BCE vai dizer: olha, agora já não posso mais'. Ele está próximo. A taxa de inflação já está a subir".

"E, portanto, o BCE vai deixar de ter razões, argumentos, fundamentos, para manter as taxas de juro tão baixas. Quem pôs a casa em ordem quem foi formiga e se preparou para o que vem a seguir, estará bem, quem foi cigarra, fica com a memória dos tempos em que andou a cantar, mas vai passar outra vez por grandes dificuldades e essa é a preocupação", afirmou.

A seu ver, a arquitetura institucional da área do Euro "devia de ter capacidade de dar uma resposta diferente" ao problema.

Maria Luís Albuquerque, que falou durante cerca de uma hora, entre a intervenção de fundo e um período de respostas a questões colocadas por professores e alunos, reconheceu ainda que a crise económica teve consequências, mas o problema do país "é muito mais vasto".

Admitiu que os jovens emigraram quando o país estava em crise, mas isso ainda hoje acontece.

"Assim como é verdade que continuam a emigrar jovens agora no tempo novo, embora já não se fale no assunto. Já não se fala nos jovens que emigram agora, já não se fala nas crianças que vão para a escola sem pequeno-almoço. Já não se fala dos problemas como se eles tivessem desaparecido. Antes fosse verdade", declarou.

Disse que os problemas "não desapareceram. Simplesmente deixou-se de falar nisso e as pessoas deixaram de estar atentas".

Maria Luís Albuquerque foi ministra das Finanças do Governo PSD/CDS entre 2013 e 2015, sucedendo no cargo a Vítor Gaspar.