Com o cair da noite, a manifestação que começou em Parque Vitória ao início da tarde (manhã em Lisboa) estendeu-se pelas ruas de Hong Kong, causando mais um dia de caos nos transportes, com algumas ruas cortadas, estações de metro fechadas e o serviço de autocarros parcialmente afetado.
Num comunicado divulgado pelas 20:00 (13:00 em Lisboa), a polícia indicou que “um largo grupo de manifestantes está a ocupar várias vias principais, desde Tin Hau até Western District”, e aconselha os condutores a evitarem deslocar-se para aquela área.
Antes, as forças de segurança já tinham alertado a população para zelar pela sua segurança, com vários elementos das forças de segurança a posicionarem-se em zonas-chave no centro da cidade, como foi o caso do Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong e do parlamento: o primeiro foi um dos alvos dos manifestantes, o segundo chegou mesmo a ser invadido e parcialmente vandalizado.
As forças de segurança tinham autorizado a manifestação em Parque Vitória, mas proibido a marcha convocada pelo movimento que tem liderado os grandes protestos contra a lei da extradição na antiga colónia britânica, administrada pela China desde 1997.
Um mar de guarda-chuvas desaguou nas ruas de Hong Kong a meio da tarde. Desta vez os guarda-chuvas não serviram até ao momento para os manifestantes se protegerem do gás pimenta, habitualmente usado pela polícia para dispersar os jovens, mas para se protegerem da tempestade que se abateu sobre o território.
A partir das 16:00 (09:00 em Lisboa), para permitir a participação de mais pessoas, a organização começou a pedir aos manifestantes que começassem a abandonar o centro nevrálgico do protesto para permitir a chegada e participação de mais pessoas.
Mais de quatro horas depois da hora marcada para o início da iniciativa organizada pela Frente Cívica de Direitos Humanos, continuam a afluir manifestantes ao local.
A porta-voz do movimento que tem liderado os protestos pró-democracia em Hong Kong disse hoje à Lusa que o derradeiro objetivo dos manifestantes é garantir o sufrágio universal no território.
A também vice-coordenadora Bonnie Leung explicou que os protestos que duram há nove semanas focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, mas que as reivindicações dos manifestantes contemplam hoje a exigência do sufrágio universal, tanto para a eleição do chefe do Governo, como para o Conselho Legislativo.
Desde 09 de junho que a lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes. Primeiro somaram-se exigências, mas hoje o habitual pedido de demissão da chefe do Governo foi aparentemente substituído pela reivindicação pelo sufrágio universal.
Os manifestantes exigem a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
Depois das manifestações de junho que juntaram milhões nas ruas, após uma greve geral que paralisou a cidade, de contestações marcadas por violentos confrontos e de dias de caos vividos no aeroporto, a FCDH volta a promover um protesto pacífico para aumentar a pressão sobre o Governo de Hong Kong, num momento em que Pequim mobilizou milhares de tropas na cidade vizinha de Schenzen, fazendo crescer os receios de uma intervenção chinesa.
Há mais de dois meses que Hong Kong é palco de protestos maciços, marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que tem usado balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo
Em 01 de julho, alguns manifestantes invadiram mesmo o parlamento de Hong Kong.
Mais recentemente, o aeroporto de Hong Kong foi palco de manifestações, com as autoridades a serem obrigadas a cancelar centenas de voos na segunda e na terça-feira naquela que é uma das infraestruturas aeroportuária mais movimentada do mundo.
Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”.
Já os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
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