Pouco passava do meio dia e meia (menos uma hora em Lisboa), quando Nadia Dubrowska tenta encaixar, numa carruagem de metro cheia, um cartaz pintado à mão com um coração a vermelho.

A caminho de Alexanderplatz, ponto de encontro, vai explicando à filha, em polaco, os motivos da manifestação desta tarde.

Já numa das principais praças da cidade de Berlim, no antigo lado leste, milhares de pessoas vão-se juntando com bandeiras e t-shirts de várias cores. A polícia vai vigiando, enquanto a música se vai espalhando por todos os cantos.

É debaixo de um monumento conhecido da cidade que um grupo de brasileiras se concentra e vai tocando tambores e jambés. Debaixo do Weltzeituhr (relógio mundial), precisamente onde aparece o fuso horário do Rio de Janeiro, Renata Mota chega com a filha de três anos.

“Vim manifestar-me pela democracia e contra o fascismo no Brasil, nas próximas eleições. Não só nas eleições, mas contra o clima de intolerância e de violência contra as minorias, as diferenças, os negros, as mulheres, os homossexuais, os pobres”, realça esta brasileira a viver em Berlim.

“Acho que é importante para a minha filha ver o mundo e participar neste momento histórico. Por enquanto ela ainda só está a olhar para os balões, ainda não entendeu bem, mas eu disse-lhe que vamos lutar pela democracia no Brasil e no mundo”, sublinha Renata Mota, que traz um cartaz com a frase “Für die brasilianische Demokratie” (pela democracia brasileira).

Joanne Clark, quase com 70 anos, é norte-americana e pertence ao movimento “American Voices Abroad”.

“Sou contra o racismo e a intolerância, acho que isso tem de acabar. Não gosto nada de estar no meio de grandes multidões, mas não tinha outro remédio, tinha que fazer algo”, sublinha Joanne Clark, a viver na capital alemã desde 1956.

“Isto também é uma mensagem direta para Trump, que inventou uma verdade própria, uma realidade que lhe convém só a ele”, remata.

“Por uma sociedade aberta e livre: solidariedade, não exclusão”, é o mote do protesto organizado pelo movimento #unteilbar (que pode ser traduzido como “inseparáveis” ou “todos juntos”).

A manifestação reúne o apoio de várias organizações cívicas, partidos de esquerda e sindicatos.

Para Jairo Ferreira, guia turístico, “é normal existirem concentrações em Berlim, mas não deste tamanho”.

A viver em Berlim há três décadas, vai explicando a um casal porque é o trânsito no centro da cidade está praticamente todo cortado ou desviado.

Kaia Santro integra um grupo com cerca de vinte mulheres, todas vestidas de preto e rosa, com o nome de um clube de futebol nas costas.

“Costumo participar em várias manifestações, para mostrar que há muitas pessoas contra o racismo e a xenofobia, para garantir que somos notados”, sublinha a berlinense de 31 anos.

“É péssimo que a AfD [Alternativa para a Alemanha], partido de extrema-direita, tenha tanto impacto e consiga ter tanto espaço para dizer e mostrar aquilo que pensa, mensagens de ódio que são completamente contra a nossa constituição”, sublinha a jogadora no “Discover Football Kreuzber — DFC Kreuzberg, um clube de futebol feminino.

Dentro da manifestação há vários grupos organizados, desde a Amnistia Internacional, passando pelo sindicato dos taxistas.

Em declarações à Lusa, Anna Spangenberg, porta-voz da organização, sublinhou que espera que esta manifestação “contra a extrema-direita e a favor de uma sociedade solidária e aberta, seja a maior do ano em Berlim”.

A organização revelou na quarta-feira esperar reunir cerca de 40 mil pessoas num protesto que deverá terminar pelas 21 horas em Berlim (uma hora menos em Portugal continental).