"Com imenso pesar, comunicamos o falecimento de Sebastião Salgado, nosso fundador, mestre e eterno inspirador", diz o Instituto Terra, numa mensagem publicada no Instagram.

"Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", pode ler-se.

"Neste momento de luto, expressamos nossa solidariedade a Lélia, a seus filhos Juliano e Rodrigo, seus netos Flávio e Nara, e a todos os familiares e amigos que compartilham connosco a dor dessa perda imensa", é ainda referido.

O Instituto Terra diz ainda que vai continuar a honrar "o seu legado, cultivando a terra, a justiça e a beleza que ele tanto acreditou ser possível restaurar".

Exposição com fotografias de Sebastião Salgado neste momento em Almada

Conhecido pelo seu trabalho documental e por fotografar em preto e branco, Salgado morreu no dia em que é inaugurada a exposição "Venham Mais Cinco – O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa (1974–1975)", em Almada, que inclui fotos suas tiradas durante a revolução.

A exposição de fotografia inédita, sobre a revolução de 25 de Abril de 1974, pelo olhar de fotojornalistas e fotógrafos estrangeiros, vai estar aberta ao público a partir de amanhã, 24 de maio, junto aos antigos estaleiros da Lisnave, e reúne, pela primeira vez, 200 fotografias assinadas por 30 fotojornalistas e fotógrafos que estiveram em Portugal para fazer a cobertura dos dias da revolução.

“Esta exposição, que é monumental com 200 fotos em tamanho muito grande, é uma viagem no tempo. As pessoas têm a possibilidade de atravessar esses dois anos vivenciando tudo que estava na ordem do dia no momento, e que no dia seguinte podia ser totalmente inesperado”, descreveu o curador.

A jornalista italiana Augusta Conchiglia, que documentou as independências em África, o fotógrafo francês Guy Le Querrec, coautor do livro “Portugal 1974-1975: Regards sur une tentative de pouvoir populaire”, os brasileiros Sebastião Salgado e Alécio de Andrade, e o francês Jacques Haillot, que morreu em Portugal, são alguns dos nomes que fazem parte da exposição.

Sebastião Ribeiro Salgado Júnior é conhecido pelo seu trabalho enquanto fotógrafo documental e fotojornalista. Viajou por mais de 120 países para os seus projetos fotográficos. Exposições itinerantes do seu trabalho foram apresentadas em todo o mundo.

Foi distinguido com vários prémios, entre os quais se destacam o prémio Eugene Smith de Foto Humanismo, em 1982, o Prémio Kodak, de 1984, o prémio Oscar Barrock de 1985, o prémio Rei de Espanha, de 1988, o World Press de Jornalismo e o Prémio Príncipe das Astúrias, em 1997.

Reações

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, lamentou a morte de Sebastião Salgado, que faleceu hoje aos 81 anos, considerando-o "se não o maior, um dos maiores e melhores fotógrafos que o mundo já produziu”.

O chefe de Estado brasileiro encontrava-se em conferência de imprensa no Palácio do Planalto, com o Presidente de Angola, João Lourenço, quando recebeu a notícia.

“Diante da alegria de receber o Presidente João Lourenço a gente ficou sabendo de uma notícia muito triste”, disse Lula.

“Peço um minuto de silêncio pela morte do companheiro Sebastião Salgado, se não o maior, um dos maiores e melhores fotógrafos que o mundo já produziu”, frisou o chefe de Estado brasileiro.

Num gesto simbólico, mas não premeditado, Lula da Silva anunciou ainda que já estava programado oferecer uma fotografia de Sebastião Salgado ao Presidente angolano.

A ministra portuguesa da Cultura, Dalila Rodrigues, também lamentou a morte do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, lembrando o “importantíssimo legado” na área da Fotografia.

“Com um percurso mundialmente reconhecido, Sebastião Salgado, através das imagens que nos legou, registadas a preto e branco, deixou um importante contributo no campo artístico, no fotojornalismo e na área documental”, afirmou a ministra em comunicado.

Dalila Rodrigues lembrou ainda a dedicação de Sebastião Salgado à causa ambiental, ao lado da mulher Lélia Deluiz Wanick Salgado, nomeadamente através do Instituto Terra, “organização não-governamental dedicada à reflorestação e à recuperação da biodiversidade da Mata Atlântica, ao desenvolvimento rural sustentável e à educação ambiental”.